Após ter visto o bom filme Looper e o excelente A Ponta de um Crime, descobri que o diretor Rian Johnson tinha mais um filme, chamado Vigaristas (The Brothers Bloom), de 2008. Por ser o segundo filme de Johnson, o elenco famoso chega a impressionar, pois conta com Mark Ruffalo, Adrien Brody e Rachel Weisz como protagonistas.
O filme conta a história de dois irmãos, Stephen (Ruffalo) e Bloom (Brody), que desde crianças, por serem órfãos e trocarem sempre de lar adotivo, aprendem a dar golpes e enganar pessoas, mas Stephen faz questão de, nestes golpes, usar uma teatralidade para maximizar o efeito e fazer com que a vítima não perceba que caiu no golpe. Ao mesmo tempo, o filme estabelece desde o início a relação conturbada de Stephen e Bloom, pois este último não se sente feliz ao ver que sua vida toda, desde criança, foi ser um personagem nos elaborados golpes do irmão, sem nunca poder ter tido uma experiência de vida real. Porém, tudo isso irá mudar quando os irmãos combinam em dar um último golpe na milionária e solitária Penélope (Weisz).
A partir daí, o filme usa e abusa do recurso das camadas de histórias e de golpes em cima de golpes, que vão se desenrolando e tentam a todo instante confundir e instigar o espectador a tentar descobrir se aquela situação (e o risco envolvido nela) é real ou apenas mais uma parte do golpe dos irmãos. Essa estratégia, quando estabelecida, diverte, mas com o aprofundamento das camadas e a rapidez dos eventos, personagens e situações, o filme acaba perdendo a densidade e ficando confuso, nos fazendo prestar atenção mais nos pormenores da história do que nos personagens e suas nuances em si.
Também com um ar nostálgico e um pouco noir, mas diferenciando do tom de A Ponta de um Crime, Vigaristas possui um toque de comédia dramática, flertando também com os filmes de assalto dos anos 70. Essa característica retrô do filme está muito presente nas roupas, penteados, acessórios e veículos usados pelos personagens, apesar de o filme se passar em nossa época. Pelo tom dos diálogos, trilha sonora e todo um universo indie, o filme chega a lembrar muito Wes Anderson e talvez por essa tentativa forçada de se encaixar nesse universo lúdico, falhe em aprofundar os personagens e suas relações de uma maneira mais real e arriscada, pois em momento algum sentimos que essas relações do filme estão em risco, pois pelo foco excessivo na trama e nas subcamadas dos golpes, os personagens acabam ficando em segundo plano, prejudicando o clímax, que seria justamente sobre eles.
Porém, cada ator executa perfeitamente seu papel e apesar das falhas, o filme traz cenas memoráveis sem apelar para a infantilidade gratuita do cinema indie, como quando Penélope embaralha as cartas fazendo um truque e conta sua história de vida, pois são essas cenas que estabelecem os personagens e suas motivações. E o principal problema do filme foi, ao final, deixar isso de lado para se render a um final teatral e digno aos personagens, mas que não disse muito ao espectador, já que naquele momento da narrativa, a expectativa era tão grande que qualquer evento espetacular pareceria trivial, como de fato pareceu.
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Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.