(a respeito da Mesa 8 intitulada Ficção e Confissão, realizada dia 05, as 17h15)
Karl Ove Knausgård e Tobias Wolff dividiriam uma mesa sobre Ficção e Confissão que não aconteceu. Com o cancelamento do norueguês, Juan Pablo Villalobos foi o substituto para que se mantivesse uma discussão literária.
A FLIP tentou. Mas selecionar autores para uma conversa é delicado. É necessário certa aproximação entre os mesmos, seja por uma proposta literária em comum, o estilo narrativo ou qualquer outro ponto de partida que desperte o diálogo.
Wolff e Knausgård aproximam-se por um estilo narrativo memorialista, apoiado nas experiência da própria vida como material ficcional. Injetando na leitura uma sensação dúbia entre experiência vivida e experiência narrada que transforma uma realidade parcial, descrita a partir da memória. Há uma conexão evidente entre os autores.
Semelhança que se perdeu com Juan Pablo Vilalobos que também se baseia em vivência para compor sua narrativa, mas não as faz como uma confissão explícita. E sim parte de um elemento observado – não necessariamente vivido – para a escrita (no caso de seu romance Festa no Covil, a violência do narcotráfico em seu país natal, México, é ponto de arranque da história).
Deveriam ter pensado em modificar o tema para adequar ambos escritores. Tentando manter-se na programação original, a mesa perdeu a força. Em parte, porque a mediação de Ángel Gurría-Quintana me pareceu frouxa. Se tentasse aproximar melhor os dois autores, conseguiria promover um diálogo entre ambos. Mas preocupou-se em apenas apresenta-los e deixar com que cada um falasse sobre si. O resultado foi uma palestra dupla, próxima a uma entrevista de talk show, do que uma discussão literária.
Alternando entre os escritores, Gurría-Quintana explorava as especificidades de cada autor com perguntas distintas que afastaram ainda mais os escritores, deixando Wollf – aguardado desde edições passadas do evento – em segundo plano. Como se faltasse um par com que pudesse dialogar sobre seu estilo de prosa.
Não que não houvesse bons momentos de cada um isoladamente. Wolff emparelhou sua vida na literatura, louvando a mentira e a construção da narrativa a partir da memória, demonstrando consciência em sua proposta como autor. Vilallobos revelou preocupação em expor as mazelas de seu país de origem, afirmou ser também devoto da mentira como forma de narrativa, e da dificuldade em encontrar a voz adequada para composição de um romance. Mas não havia entre as falas uma conexão visível. A mentira como forma de narrativa foi o ponto mais em comum, mas logo se dissipava em outras questões.
Talvez fosse caso de deixar de lado uma discussão entre escritores e partir para uma conversa franca com o autor presente. Se Wollf dialogasse sozinho com o mediador, a mesa ganharia mais força mesmo com a perda do debate.
Karl Ove Knausgård e Tobias Wollf foram a melhor palestra que não foi. Ainda nas livrarias da cidade, o romance do norueguês continua na estante de autores presentes na FLIP. Imaginei por diversas vezes leitores imaginários folheando o romance e encontrando dentro deles um bilhete com os dizeres, desculpe por não participar do evento. Uma bobagem que me fez rir.