Sinopse: Uma investigação sobre a indústria do aborto nos Estados Unidos, do ponto de vista dos ativistas contrários à prática, conhecidos como pró-vida. O documentário pretende mostrar que o aborto legalizado é sinônimo de assassinato de bebês, que as mulheres sofrem traumas irreparáveis com essa prática, e que a intenção por trás do aborto é apenas a ganância e a vontade de diminuir a quantidade de negros nos Estados Unidos, já que as mulheres negras representam a maioria dos abortos no país.
De acordo com o diretor, o documentário Blood Money foi idealizado em 2004, no período das eleições presidenciais, ao perceber que o tema apenas virava assunto de debate nessa época com nítidas intenções eleitoreiras, sem acrescentar informação ou qualquer esclarecimento.
David K. Kyle estreia na direção com este documentário – narrado por Alveda King, sobrinha de Martin Luther King Jr. – cuja sinopse dá a impressão de que se trata de uma denúncia referente à monetização do aborto nos Estados Unidos. Contudo, o roteiro alterna entre militância pró-vida e denúncia, sem muito cuidado na transição de um a outro, o que dá a impressão de que a montagem foi feita aleatoriamente. A sequência de depoimentos e apresentação dos fatos parece não seguir uma linha narrativa. Mesmo tratando-se de um documentário, as ideias poderiam estar melhor alinhavadas, de modo a apresentar o tema da maneira mais sucinta possível. O que, em vários momentos, não ocorre.
É ponto pacífico que a melhor maneira de defender um ponto de vista não é mostrar apenas o seu lado da questão, mas sim mostrar os dois lados e, com argumentos, demonstrar que seu lado é o melhor. E o roteiro não faz isso. Todos os entrevistados compartilham do ponto de vista do diretor/roteirista. Qualquer espectador mais crítico com certeza fica à espera de depoimentos que façam o contraponto. E, na tentativa de aproximar o público do drama de algumas entrevistadas, o exagero nos closes é entediante – o excesso causa desconforto.
Certamente, seria mais interessante ao público caso a parcela de denúncia do documentário tivesse sido investigada com maior profundidade. A exploração da indústria do aborto, a “criação” de clientes em potencial, a eugenia e o controle de natalidade, o ‘modus operandi’ das clínicas e afins são mostrados bem superficialmente. Enquanto que os depoimentos dos entrevistados que são nitidamente contra o aborto – muitos deles sem qualquer base científica ou jurídica – ocupam mais de 60% do tempo.
Não cabe aqui discutir ser a favor ou contra as ideias apresentadas no documentário, mas vale frisar que o tom de “catequização” talvez seja um tiro no pé nas intenções do diretor de suscitar o debate sobre o assunto.
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Texto de autoria de Cristine Tellier.
Nossa, parabéns pela coragem de ver algo assim, hehe