Com texto de Gianfranco Manfredi e arte de Massimo Rotundo, Bandidos é o segundo número de Face Oculta. Ugo está de volta à sua terra natal, e por vontade própria se afasta dos trabalhos com políticos, voltando suas atenções unicamente para o comércio e serviços de contabilidade. Logo, ele é “apresentado” ao Conde Vittorio de Cesari.
As coisas não andam bem para o protagonista, até receber da bela Matilde Sereni um convite para ir até sua casa. Após salvar Ugo de assaltantes – arrancando a mão de um deles numa cena sensacional e bastante sangrenta – Vittorio senta-se com o protagonista para comemorar seus feitos. Ugo é cauteloso ao falar de seu passado, e percebe que Vittorio tem problemas muito semelhantes aos seus, de convivência com o arquétipo do pai. As figuras de autoridades sempre são adversários a serem enfrentados dentro da ideia da série, o que demonstra seu cunho de contestação.
A empatia do oficial por Ugo é tamanha que ele arruma um subterfúgio para que o rapaz seja liberado de suas obrigações com o tabelião Giuliani, seu atual empregador, e parte com ele para uma aventura. Vittorio se mostra um exímio guerreiro e sem receio algum de ceifar a vida de seus inimigos – ou de quem ele assim considera.
“Implacável com os inimigos, porém generoso com quem trabalha pra ele. Vittorio continua me surpreendendo.” – A desculpa do cavaleiro para as mortes amputadas é a de ser um militar, e que agentes fora da lei, como os que sucumbiram, mereciam tal destino. Como sua ideia de justiça é clara e bastante maniqueísta, fruto da época em que vivia, Vittorio é um produto do meio e não faz questão nenhuma de esconder tal fato. Ao contrário, acredita estar honrando seu chamado à proteção dos menos favorecidos e à sua maneira estava mesmo.
O estilo e as cores do traço de Rotundo mudam ao demonstrar o núcleo da história em que se retrata Face Oculta. O cinza predomina mais, emulando a cor prateada da máscara que esconde a identidade do líder revolucionário – claro, sob o testemunho de Ugo, que ainda o vê de forma quase mítica.
O jovem herói proíbe a si mesmo de usufruir do corpo de uma mulher à força, e quando uma das rameiras insinua sua falta de virilidade, é repreendida fisicamente por seu amigo militar – Vittorio é um sujeito rústico, sem qualquer noção de que tais atitudes – sexo forçado e violência contra a mulher – seriam errados, diferente de Ugo, que sempre está deslocado, como um pária, um objeto estranho de sua época.
Após galgar degraus, Ugo torna-se responsável pelas propriedades do Conde, enquanto, em paralelo, Face Oculta é mostrado diante do Rei Menelik II – soberano local – sendo convocado a unir as tribos da Etiópia sob única bandeira. O monarca se rende à figura dele ao enxergar seu rosto desmascarado, e o louva por sua luta contra os exploradores e pela defesa de seu povo. O mito vivo aparentemente se levantara com ainda mais força que antes. A rebeldia contra os exploradores é a tônica das histórias.
Por motivos ainda não esclarecidos (até então), a Editora Panini interrompeu as publicações neste segundo número, sem previsão de retorno da publicação, o que é uma lástima, visto que a história é intrigante e materiais assim quase nunca chegam ao Brasil.