Tag: Gianfranco Manfredi

  • Resenha | Tex Graphic Novel: Desafio no Montana – Volume 4

    Resenha | Tex Graphic Novel: Desafio no Montana – Volume 4

    De Gianfranco Manfredi e Giulio de Vita, Tex Graphic Novel: Desafio no Montana – Volume 4 é mais uma história da série em quadrinhos protagonizado pelo cowboy da Editora Sergio Bonelli. Dessa vez, o cenário é o noroeste americano, em uma planície gelada, e tem um tom que foge um bocado do otimismo que é comum as histórias clássicas.

    O texto de Manfredi trata do passado de Tex Willer, quando ele ainda era um fora da lei e errante, no longínquo ano de 1858. O futuro herói passeia sozinho, não tem companhia exceto seus pensamentos exibidos nos balões,  que parecem só estar lá para determinar ao leitor de que ele não enlouqueceu. O protagonista está atrás de Birdie, seu velho amigo, que se mudou para aquele lugar.

    As cores de Matteo Vattani ajudam a valorizar a arte de Vita. Os momentos que mostram uma luta contra um urso e a matança aos nativos americanos ganham muito mais força com a utilização das cores. O personagem está mais áspero, menos sentimental, é ríspido com as pessoas, agindo na maior parte do tempo de modo passivo agressivo. Essa demonstração pode referenciar um desconforto dele, além da óbvia imaturidade, pois fora de seu quente habitat, ele não seria o mesmo.

    Manfredi é o criador de Mágico Vento e Face Oculta, e a iniciativa dessas graphic novel possibilitam que autores diferentes deem sua visão sobre o ranger e seu passado. Fato é que por mais que o roteiro carregue elementos típicos das histórias do personagem, é a arte que mais chama a atenção. As paisagens são carregadas de um caráter esplendoroso, e as sequências de ação são ótimas. A pavimentação do jovem Tex foi bem pensada, e esse acaba sendo um bom aperitivo ao que seria a publicação de Tex Willer, que conta as histórias do personagem novo, antes de ser a lenda de O Herói e Lenda e demais histórias clássicas.

    O final da história é seco, agressivo e direto, e mesmo que as escolhas sobre passagem de tempo sejam estranhas (há uma cor diferente entre passado e presente), Desafio no Montana tem pontos mais altos que baixos, com elementos que pavimentam o leitor no tom que seria empregado nas publicações a respeito da juventude do cowboy, com um tom bem mais cínico nesta versão que Manfredi defende para o futuro agente da lei.

  • VortCast 97 | Trem Fantasma: De Hugo Pratt a Bonelli

    VortCast 97 | Trem Fantasma: De Hugo Pratt a Bonelli

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Thiago Augusto Corrêa e Rafael Moreira (@_rmc) recebem Lucas Pimenta da Editora Trem Fantasma e embarcam em um bate-papo sobre a curadoria do (incrível) catálogo inicial da editora, a assinatura do clube do Trem e a elitização do mercado brasileiro.

    Duração: 86 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Resenha | Face Oculta: Bandidos

    Resenha | Face Oculta: Bandidos

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    Com texto de Gianfranco Manfredi e arte de Massimo Rotundo, Bandidos é o segundo número de Face Oculta. Ugo está de volta à sua terra natal, e por vontade própria se afasta dos trabalhos com políticos, voltando suas atenções unicamente para o comércio e serviços de contabilidade. Logo, ele é “apresentado” ao Conde Vittorio de Cesari.

    As coisas não andam bem para o protagonista, até receber da bela Matilde Sereni um convite para ir até sua casa. Após salvar Ugo de assaltantes – arrancando a mão de um deles numa cena sensacional e bastante sangrenta – Vittorio senta-se com o protagonista para comemorar seus feitos. Ugo é cauteloso ao falar de seu passado, e percebe que Vittorio tem problemas muito semelhantes aos seus, de convivência com o arquétipo do pai. As figuras de autoridades sempre são adversários a serem enfrentados dentro da ideia da série, o que demonstra seu cunho de contestação.

    A empatia do oficial por Ugo é tamanha que ele arruma um subterfúgio para que o rapaz seja liberado de suas obrigações com o tabelião Giuliani, seu atual empregador, e parte com ele para uma aventura. Vittorio se mostra um exímio guerreiro e sem receio algum de ceifar a vida de seus inimigos – ou de quem ele assim considera.

    “Implacável com os inimigos, porém generoso com quem trabalha pra ele. Vittorio continua me surpreendendo.” – A desculpa do cavaleiro para as mortes amputadas é a de ser um militar, e que agentes fora da lei, como os que sucumbiram, mereciam tal destino. Como sua ideia de justiça é clara e bastante maniqueísta, fruto da época em que vivia, Vittorio é um produto do meio e não faz questão nenhuma de esconder tal fato. Ao contrário, acredita estar honrando seu chamado à proteção dos menos favorecidos e à sua maneira estava mesmo.

    O estilo e as cores do traço de Rotundo mudam ao demonstrar o núcleo da história em que se retrata Face Oculta. O cinza predomina mais, emulando a cor prateada da máscara que esconde a identidade do líder revolucionário – claro, sob o testemunho de Ugo, que ainda o vê de forma quase mítica.

    O jovem herói proíbe a si mesmo de usufruir do corpo de uma mulher à força, e quando uma das rameiras insinua sua falta de virilidade, é repreendida fisicamente por seu amigo militar – Vittorio é um sujeito rústico, sem qualquer noção de que tais atitudes – sexo forçado e violência contra a mulher – seriam errados, diferente de Ugo, que sempre está deslocado, como um pária, um objeto estranho de sua época.

    Após galgar degraus, Ugo torna-se responsável pelas propriedades do Conde, enquanto, em paralelo, Face Oculta é mostrado diante do Rei Menelik II – soberano local – sendo convocado a unir as tribos da Etiópia sob única bandeira. O monarca se rende à figura dele ao enxergar seu rosto desmascarado, e o louva por sua luta contra os exploradores e pela defesa de seu povo. O mito vivo aparentemente se levantara com ainda mais força que antes. A rebeldia contra os exploradores é a tônica das histórias.

    Por motivos ainda não esclarecidos (até então), a Editora Panini interrompeu as publicações neste segundo número, sem previsão de retorno da publicação, o que é uma lástima, visto que a história é intrigante e materiais assim quase nunca chegam ao Brasil.

  • Resenha | Face Oculta: Os Saqueadores do Deserto

    Resenha | Face Oculta: Os Saqueadores do Deserto

    Passada no final do século XIX, a Face Oculta mostra o dia-a-dia de exploradores italianos pelas terras africanas, à época, ainda pouco exploradas. O pano de fundo da história revela uma Itália ainda com intenções expansionistas, que através dos fictícios, corta os eventos históricos do país. O roteiro deste número é do criador dos personagens Gianfranco Manfredi e o lápis de Goran Parlov.

    A jornada é protagonizada por Ugo Pastore, um jovem rapaz com um problema no olho esquerdo, cuja pálpebra pisca de forma involuntária, mas que é um exímio atirador, e que devido às suas habilidades, tem pouco tato com militares arrogantes e políticos em geral, que geram neste um enfado tedioso enorme. Ugo se impressiona sim com o cenário da Massalia (Eritreia, uma colônia italiana), e com as condições em que a população é obrigada a conviver. A cena que retrata um grupo de crianças se alimentando de uma carcaça de cavalo contaminada é emblemática nisso, e representada pela fala de um dos meninos: “é a escassez, senhor. Eu e meus irmãos não temos nada para comer. É melhor ficar doente do que morrer!”. Ugo encontra no porta-voz da família um aliado, no lugar desconhecido, e contrata Sym como guia e auxiliar em sua aventura.

    O  aventureiro enfim encontra Face Oculta, um pretenso provedor da justiça, que viria em nome de deus trazer alento aos cativos e necessitados. Os dois têm um embate ideológico a respeito das injustiças sociais que acometem o povo de Massalia. Ugo quase é decapitado, mas é deixado vivo, o que gera nele uma reflexão, seguida de uma discussão junto ao seu pai – Enea Pastore – sobre as prioridades deles (comerciantes) e dos governadores locais. Ao encontrar o Governador, Ugo aceita espionar um superior dele, o Conde Antonelli, e em troca do serviço, pede para que cuidem de Sym e de sua família, composta de 18 membros.

    Apesar de todas as repreensões ao filho, Pastore fica emocionado ao ter de se despedir do filho, ressentido por ter de voltar a Roma sem concluir as negociações de forma satisfatória, e Ugo prossegue a estória sozinho. Quando o rapaz se vê mal diante de seu desafeto, a realidade lhe dá uma lufada e o acerta em cheio no rosto, trazendo os saqueadores para perto de si, assassinando toda a caravana de exploração. Ao tomá-lo com refém, o líder da facção diz que os eritreus – povo que compunha a caravana – eram traidores, e ainda compara Ugo a um cordeiro num povo de lobos, devido a sua bondade de coração. Apesar de não saber se Remo possuiu descendência, Ugo acha que veio da linhagem dele, graças a sua falta de perícia em escolher posturas de combate adequadas.

    O intuito de Face Oculta era mandar uma mensagem através do protagonista para o Rei, e o deixa próximo de uma instalação militar italiana. Ugo deixa Massalia com uma sensação ruim, de não ter cumprido com competência sua missão final. Os Saqueadores do Deserto é o primeiro número de Face Oculta e trata de assuntos mil, na época de expansão da Itália, mas tem um tom meio anti-imperialista ao mesmo tempo em que não deixa de tocar em assuntos espinhosos, como o não cumprimento da abolição da escravatura e tem uma mensagem nas entrelinhas de cunho bastante social.

  • Resenha | Mágico Vento

    Resenha | Mágico Vento


    Hoje irei inovar um pouco e falar sobre um quadrinho excelente, que poucos conhecem: Mágico Vento.

    Trata-se de um fumetti, ou seja, HQ italiana. Alguns podem ter ouvido falar do Tex, também conhecido como “gibizinho preto e branco de faroeste do tempo do meu avô”. Publicado até hoje, e muito bom, aliás. Mágico Vento é da mesma linha, só que mais recente. A série começou na Itália nos anos 90 e a editora Mythos trouxe pro Brasil em 2002.

    Mas de que trata essa série, afinal? Também é um faroeste, mas muito mais profundo, maduro, adulto e etc. O protagonista é Ned Ellis, soldado que foi ferido na explosão de um trem. Com uma farpa de metal cravada no cérebro, ele perde todas as memórias, mas ganha o dom de ter visões e premonições. Salvo da morte por um velho xamã índio, Ned recebe o nome de Mágico Vento e se torna aprendiz de feiticeiro (hehe) e membro da tribo Sioux. Seu amigo e parceiro de aventuras é Poe, um jornalista alcoólatra sósia de Edgar Alan Poe.

    A partir daí, a série se desenvolve cada vez mais, e aborda muitos temas: cultura indígena, com costumes, lendas e tal; terror, com as criaturas mais bizarras enfrentando o herói. História, mostrando com realismo absurdo como foi o Velho Oeste americano, inclusive aparecendo personagens reais (General Custer, Touro Sentado e vários outros); política, com Ned envolvido com intrigas governamentais em tramas dignas dos melhores filmes de espionagem. Tudo isso com muita ação típica do Western, com tiroteios a rodo.

    Um dos detalhes mais interessantes é que aos poucos vão sendo revelados detalhes do passado de Mágico Vento. O leitor descobre as coisas junto com o herói, uma fórmula que nunca falha. Cada edição tem uma história específica, que pode ser lida separadamente, mas há um plot central que vai aos poucos se desenhando. E é de explodir cabeças.

    O criador e roteirista da série é o genial Gianfranco Manfredi. Na Itália ele é um famoso roteirista de cinema, TV, livros e claro, quadrinhos. Seus roteiros em Mágico Vento são embasados em muita pesquisa, o que garante uma verdadeira aula a cada edição. A equipe de desenhistas conta com vários artistas espetaculares, um dos melhores é o croata Goran Parlov. Alguns aí devem ter visto o trabalho dele em Justiceiro MAX, nas histórias com o Barracuda. O traço do cara ficou legal colorido, mas em P/B ele simplesmente HUMILHA.

    Enfim, eu poderia escrever páginas e mais páginas sobre essa série fantástica, mas fica a dica. Se alguém tem preconceito contra faroeste, gibis preto e branco ou o que for, Mágico Vento merece o benefício da dúvida. Pode ser a porta para um mundo novo, um estilo bem diferente de HQ, que infelizmente é bem menos conhecido do que comics e mangás.

    Texto de autoria de Jackson Good.