Tag: Sergio Bonelli Editore

  • Resenha | Dragonero: O Caçador de Dragões

    Resenha | Dragonero: O Caçador de Dragões

    Dragonero: O Caçador de Dragões é a série de fantasia da editora Bonelli criada por Luca Enoch e Stefano Vieti com desenhos de Giuseppe Matteoni. Essa edição especial lançada pela editora Mythos é o ponto de partida da história originalmente publicada na revista Romanzi e Fumetti em junho de 2007, introduzindo o personagem central e seus comparsas em um mundo cujo cenário remete a alta fantasia com elementos de aventuras de RPG de mesa.

    A história começa fora de Erondar, a terra civilizada além da barreira do Valo, onde se separa o Império da Terra dos Dragões. Este mundo possui figuras fantásticas como elfos, anões, orcs e humanos, figuras conhecidas pelo leitor de outras obras tanto clássicas, como Irmãos Grimm, como mais contemporâneas com J.R.R. Tolkien. Antes do leitor conhecer o protagonista são apresentados típicos personagens de aventuras de fantasia: um mago com receito de tecnologias recém-chegadas no reino, uma bela guerreira que organiza investigações contra tecnocratas, um caçador, um mensageiro imperial, um monstro civilizado, além de um chamado a aventura bem típico dos jogos de roleplay de mesa.

    Depois do começo truncado, a história flui bem. Uma mensagem imperial chega a Ian, um bravo guerreiro e caçador que, por sua vez, morava com Gmor, um orc que reside no subterrâneo de sua casa. A química entre os dois é inegável, são dois amigos, muito bem humorados e que aparentemente tiveram muitas aventuras até então, e é exatamente essa química que diferencia essa de outras histórias genéricas.

    A construção dos cenários é bem feita, as planícies são bonitas e as cavernas idem e isso  ajuda a tornar esse mundo um lugar rico e palpável. Tudo é bem detalhado e se encaixa bem, e as criaturas são bem compostas, resultando em lutas emocionantes e bem longas. Dentre os personagens, Gmor é a alma de Dragonero. Ele é engraçado, tem ótimas tiradas e lida bem até com o preconceito ligado aos membros de sua raça. Os elfos nesta versão são bem diferentes, parecem mais com o que se espera de um alienígena do que belos homens e mulheres com poucas diferenças físicas dos humanos, e a diferença entre as espécies é bem demarcada já nessa edição inicial.

    Ao ganhar a alcunha de Dragonero, Ian lamenta ter matado um ser inteligente. Ele não é um simples bárbaro, e ao seu ver isso era algo incivilizado. O código ético dele tem bastante semelhanças com o cimério Conan de Robert E. Howard e com paladinos das aventuras de capa e espada, resultando em uma história simples, direta e bastante divertida,  com roteiros e desenhos que, se não são extraordinários, ao menos cooperam com toda a aura de fantasia escapista típica dos filmes de matinê dos anos 80 e 90.

  • Resenha | Júlia – Aventuras de uma Criminóloga: O Crime Negado

    Resenha | Júlia – Aventuras de uma Criminóloga: O Crime Negado

    Iniciado em media res, técnica literária em que a narrativa se desenvolve a partir do meio da história, a ação marca o início da 17ª trama de Júlia – Aventuras de uma Criminóloga. Após uma ótima perseguição que se encerra no metrô, o assassino Murphy é pego pela equipe de Garden City. Procurado por uma série de estupros seguidos de morte, o homem nega um dos crimes do qual é acusado, e Júlia será a responsável por descobrir quem imitou seu modus operandi.

    Literariamente falando, a presença de um serial killer sempre é um motivo de destaque na narrativa policial. Em Julia, não poderia ser diferente, já que sua estreia foi marcada por uma assassina, Myrna, grande vilã, presente em muitas narrativas futuras. Mesmo que os roteiros apresentem uma gama de crimes investigados, uma trama com um assassino serial sempre conquista a atenção rapidamente.

    Em Crime Negado, porém, não é o assassino e sua pulsão o grande foco. Mas sim, a procura pelo autor do sexto crime. Em outras palavras, a narrativa demonstra como o senso de justiça não se estabelece por aproximação ou no atacado. Cada crime merece punição específica.

    Como costumeiro nos roteiros de Giancarlo Berardi, a condução da trama e os personagem em cena são ecos da sociedade. Como Julia sempre traça um perfil psicológico tanto de agressores, quanto das vítimas, o leitor contempla um panorama das relações sociais e lados obscuros de cada um, resultado em narrativas ricas que fogem do escapismo. Nessa trama, os fetiches são combustíveis que tanto podem relevar o crime, quanto esboçam que há sempre segredos guardados na intimidade.

    Essa história foi também o último trabalho desenhado pelo argentino Gustavo Trigo, uma produção inacabada devido a sua morte. Assim, o capista Marcus Soldi e Eni finalizaram as artes para a publicação.

  • Resenha | Júlia – Aventuras de uma Criminóloga: A Sombra do Tempo

    Resenha | Júlia – Aventuras de uma Criminóloga: A Sombra do Tempo

    Republicado pela Mythos em formato italiano em 2019, Julia – Aventuras de uma Criminóloga segue em publicação em lançamento em grupos de cinco edições por vez. Dessa forma, a 16ª aventura ao lado de mais quatro novos números demonstram como uma das melhores séries lançadas no país adquiriu maior destaque a altura das sempre excelentes narrativas de Giancarlo Berardi.

    Em A Sombra do Tempo, o passado é gatilho para as ações do presente ao apresentar uma mulher com visões sobre um assassinato. Sem saber ao certo a origem dessas visões, a mulher pede ajuda ao seu psiquiatra que convida Júlia para analisar o caso. Fatos cuja resposta estão escondidas no inconsciente.

    Há muito dinamismo nas cenas, principalmente na qualidade entre contrapor pequenas cenas que entrelaçam a narrativa. Elementos que trazem profundidade aos personagens, mesmo que periféricos, fortificando a trama como um relato de cunho realista na medida do possível. Enfocando tanto o núcleo familiar da mulher com visões, bem como a narrativa detetivesca com Julia, observamos um equilíbrio narrativo que foge de uma trama meramente escapista. Não há intenção em apressar os fatos, mas apresenta-los com calma, dentro do espaço de páginas da edição, sem acelerá-los, simulando a vida real em que nem tudo acontece de prontidão.

    Sempre que possível, as pesquisas de Berardi feitas para cada número de Júlia são transmitidas aos leitores por seus personagens. Nessa edição, é a definição freudiana do inconsciente, um espaço de afastamento da consciência, que surge como elemento. Em algum lugar do passado, a personagem viveu um possível trauma de morte ou codificou mentalmente alguma ação agressiva a partir da personificação dessa sua visão. É nessa transição da matéria inconsciente para a realidade que reside a grande revelação da trama.

    Como cada edição de Júlia apresenta uma história fechada, novos leitores podem conhecê-la iniciando a leitura em qualquer edição. Sempre com bons roteiros, Julia é sempre uma boa leitura, bem desenvolvida na ação e nas tramas policiais.

  • VortCast 99 | Mythos: Os Bastidores de uma Editora

    VortCast 99 | Mythos: Os Bastidores de uma Editora

    Bem-vindos a bordo. Filipe Pereira (@filipepereiral) e Thiago Augusto Corrêa recebem Joana Russo, gerente de marketing da Editora Mythos, para mais um programa da série de entrevistas com editoras brasileiras. Abordando os materiais publicados pela editora a equipe descobre os bastidores de produção e analisa os movimentos do mercado editorial brasileiro.

    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
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  • Resenha | Tex Graphic Novel: Desafio no Montana – Volume 4

    Resenha | Tex Graphic Novel: Desafio no Montana – Volume 4

    De Gianfranco Manfredi e Giulio de Vita, Tex Graphic Novel: Desafio no Montana – Volume 4 é mais uma história da série em quadrinhos protagonizado pelo cowboy da Editora Sergio Bonelli. Dessa vez, o cenário é o noroeste americano, em uma planície gelada, e tem um tom que foge um bocado do otimismo que é comum as histórias clássicas.

    O texto de Manfredi trata do passado de Tex Willer, quando ele ainda era um fora da lei e errante, no longínquo ano de 1858. O futuro herói passeia sozinho, não tem companhia exceto seus pensamentos exibidos nos balões,  que parecem só estar lá para determinar ao leitor de que ele não enlouqueceu. O protagonista está atrás de Birdie, seu velho amigo, que se mudou para aquele lugar.

    As cores de Matteo Vattani ajudam a valorizar a arte de Vita. Os momentos que mostram uma luta contra um urso e a matança aos nativos americanos ganham muito mais força com a utilização das cores. O personagem está mais áspero, menos sentimental, é ríspido com as pessoas, agindo na maior parte do tempo de modo passivo agressivo. Essa demonstração pode referenciar um desconforto dele, além da óbvia imaturidade, pois fora de seu quente habitat, ele não seria o mesmo.

    Manfredi é o criador de Mágico Vento e Face Oculta, e a iniciativa dessas graphic novel possibilitam que autores diferentes deem sua visão sobre o ranger e seu passado. Fato é que por mais que o roteiro carregue elementos típicos das histórias do personagem, é a arte que mais chama a atenção. As paisagens são carregadas de um caráter esplendoroso, e as sequências de ação são ótimas. A pavimentação do jovem Tex foi bem pensada, e esse acaba sendo um bom aperitivo ao que seria a publicação de Tex Willer, que conta as histórias do personagem novo, antes de ser a lenda de O Herói e Lenda e demais histórias clássicas.

    O final da história é seco, agressivo e direto, e mesmo que as escolhas sobre passagem de tempo sejam estranhas (há uma cor diferente entre passado e presente), Desafio no Montana tem pontos mais altos que baixos, com elementos que pavimentam o leitor no tom que seria empregado nas publicações a respeito da juventude do cowboy, com um tom bem mais cínico nesta versão que Manfredi defende para o futuro agente da lei.

  • VortCast 97 | Trem Fantasma: De Hugo Pratt a Bonelli

    VortCast 97 | Trem Fantasma: De Hugo Pratt a Bonelli

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Thiago Augusto Corrêa e Rafael Moreira (@_rmc) recebem Lucas Pimenta da Editora Trem Fantasma e embarcam em um bate-papo sobre a curadoria do (incrível) catálogo inicial da editora, a assinatura do clube do Trem e a elitização do mercado brasileiro.

    Duração: 86 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
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    Quadrinhos publicados pela Trem Fantasma

    Mugiko
    Sangue e Gelo
    Morgan

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  • Resenha | Tex Graphic Novel: Drama no Deserto – Volume 3

    Resenha | Tex Graphic Novel: Drama no Deserto – Volume 3

    A série de Graphic Novels do cowboy Tex Willer segue firme, em Tex Graphic Novel: Drama no Deserto – Volume 3 o roteirista e editor da linha Tex, Mauro Boselli, retorna como foi em Tex Graphic Novel: Frontera! – Volume 2, agora acompanhado do capista de Dylan Dog, Angelo Stano na arte. A história se passa no sudoeste americano, um banco no Novo México é assaltado e a esposa do Xerife é sequestrada. O herói do oeste vai rumo ao resgate dessa moça e dos assaltantes, acompanhado do outro agente da lei.

    O cenário do Deserto Pintado é maximizado dentro da proposta da revista em tamanho grande. Os aspecto visuais se tornam deslumbrantes. As montanhas e os canyons formam quadros dignos de gravuras antigas  e o uso das cores aumenta a profundidade  dos ambientes naturais. Além disso, há um cuidado com signos e simbologia, como o uso de corvos para referenciar a morte e de animais peçonhentos referenciando os traidores.

    A origem navaja de Tex é bem explorada, desde a questão óbvia de suas vestes que incluem até uma faixa com desenhos tribais, além de outras mais sutis, como a familiaridade com a natureza. O deserto vasto, traiçoeiro, é belo e poético se tornando o túmulo das ideias dos assaltantes, servindo como um pavio curto para os planos desses malfeitores que são obviamente fadados a perecer. Tex não subestima o lugar,  parece conhecedor de lugares como esse e por isso não se permite vangloriar-se em excesso ou ao ponto de se julgar superior a terra.

    A história é curta, divertida, direta ao ponto, não possui rodeios e muito menos apego a estereótipos. Os arquétipos são invertidos e corrompidos ao longo das cinquenta páginas e isso garante ao gibi um caráter de ineditismo capaz de surpreender até o leitor mais familiarizado com o heroi de Gianluigi Bonelli. Além disso, o traço de Stano dá uma boa dimensão de qual é o universo estabelecido do defensor da lei, servindo bem não só de expansão das histórias clássicas e atuais, mas também soando atraente aos possíveis novos leitores.

    A inversão de expectativas sentimentais acompanhada da tímida manifestação sobrenatural  surpreendem quem não está acostumado ou ambientado com as histórias do ranger, mas a suspensão de descrença é meramente tocada, não há nada com grande alarde. Tex é um mero coadjuvante da uma história que é sobretudo humana, repleta de contradições e intenções torpes da parte dos homens brancos, sendo reverencial aos índios nativos americanos, defendendo eles de maneira bem eloquente, sem parecer didático.


     

  • VortCast 93 | Red Dragon Publisher: Conan, Bonelli e o Mercado Editorial

    VortCast 93 | Red Dragon Publisher: Conan, Bonelli e o Mercado Editorial

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Thiago Augusto Corrêa recebem Alex Magnos (@TheComicCreator) da Red Dragon Publisher para uma bate-papo sobre a trajetória da editora, o recente destaque da Sergio Bonelli Editore por diversas editoras independentes, a publicação de um personagem que não pode ser oficialmente nomeado e a pergunta de um milhão de dólares (ou muitos muitos reais): o mercado de quadrinhos brasileiro foi gourmetizado?

    Duração: 146 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
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    Quadrinhos publicados pela Red Dragon Publisher

    Lilith
    Shangai Devil
    Mister No
    Lukas
    Gea
    O Rei Bárbaro
    O Despertar de Cthulhu
    O Sangue dos Imortais
    Lochlan
    Outros quadrinhos

    Livros publicados pela Red Dragon Publisher

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  • Resenha | Tex Graphic Novel: Frontera! – Volume 2

    Resenha | Tex Graphic Novel: Frontera! – Volume 2

    Para leitores menos acostumados com as publicações de Tex, talvez seja um pouco difícil escolher por onde começar a apreciar as publicações da Sergio Bonelli Editore, uma vez que há dezenas de publicações diferentes. A cronologia da criação de  Gianluigi Bonelli pode parecer confusa em algum momento, e uma boa porta de entrada são as versões de Tex Graphic Novel. Histórias curtas, em torno de 50 páginas, coloridas – ao contrário do restante da tradição de fumetti. Esta Tex Graphic Novel: Frontera – Volume 2 é bem o resumo da iniciativa: uma historia direta, que não carece de cronologia prévia, e bem fiel ao material original.

    Em Tex Graphic Novel: O Herói e a Lenda, o criador de Drunna (personagem voluptuosa dos quadrinhos de ficção científica italianos) Paolo Serpieri usa seu traço característico e realista para dar mais camadas a Tex Willer. No entanto o personagem de moral ilibada e comportamento típico de um paladino é tratado como uma lenda nesta história especifica, portanto, essa edição com texto de Mauro Boselli (a época, escritor e editor dos títulos Tex) e com desenhos de Mario Alberti não leva tão em conta a número 1, como se ela fosse na realidade uma edição zero. No prefácio, Davide Bonelli cogita que aquele era um sósia do real cowboy de tão diferente que ele parece.

    A vingança é um tema recorrente nos western e aqui não é diferente. A bela Blanche Denoel busca justiça e revanche. A trama por mais simples que pareça tem muito do que era o cinema clássico de mocinho e bandido pelos cenários do velho oeste. A composição visual, aliás, dá conta de paisagens belíssimas. As páginas mostram tanto os ambientes naturais quanto os lugares comuns, como cadeias e bordeis, que povoam as pequenas cidades do Oeste de um modo bem real, retratados de forma fidedigna em atenção ao que a cultura pop (sobretudo o cinema) costumavam retratar à época, dando uma atmosfera de realidade bem condizente com o que se imagina que era o período e a localidade.

    Tex é tirado de uma prisão em uma simbologia clara de renascimento, atendendo ao intuito de desvincular as versões do Volume anterior. O uso das cores também impressiona, sobretudo quando imperam o amarelo e tons derivados. Como tradicionalmente as histórias do personagem são em preto e branco, muitos leitores acham que o uso de uma camisa cor de gema de ovo seria um alvo perfeito para  a morte do herói. Mas aqui ela condiz muito com o cenário, com o deserto e até as diligências, desse modo, é como se esse uniforme tivesse o caráter de camuflagem, não literal obviamente, mas espiritual. As cidades ficam ainda mais bonitas e vistosas graças à luz do sol e ao tom de dourado que mira o das recompensas em moedas pela captura dos mal feitores.

    A arte de Alberti é tão diferenciada que faz o leitor não sentir tanta saudade de Serpieri. Claro que o estilo dos dois é diferente (e muito), mas há um realismo quase cínico da parte do desenhista. Seu traço dá uma sobriedade a história que faz lembrar que essa é uma obra italiana. E que por  mais que se emule o comum aos filmes de faroeste hollywoodiano, há muito mais de Sergio Leone, Sergio Corbucci e cia nas histórias de Willer, sobretudo nestas graphic novels. A história que Boselli apresenta está longe de ser primorosa, bem comum aliás, repleta de clichês das historias de bang-bang e dos clichês típicos das historias clássicas de Tex, mas se encaixa bem com os desenhos de Alberti, servindo não só ao intuito de introduzir novos leitores como de ser reverencial ao personagem longevo, acrescentando mais a sua mitologia, mesmo em uma história breve.

  • Resenha | Tex 607: A Filha de Satânia

    Resenha | Tex 607: A Filha de Satânia

    Tex: A Filha de Satânia é um quadrinho de linha das revistas Tex, publicada no número 607 da Editora Mythos de mesmo nome. A historia conduzida pelo escritor e editora da Bonelli Mauro Boselli, , e desenhada por Michele Benevento, mostra uma aventura do ranger Tex Willer, acompanhado de seu velho amigo Kit Carson, que veem a aproximação de uma moça, que usa as cores e o nome de uma bandida antiga, a bela e perigosa Satânia.

    A exploração da personagem resgata a ideia de legado, como é bem comum nos comics norte-americanos, a filha de uma antiga vilã ressurge com o manto de sua mãe, como aconteceu inúmeras vezes, o Duende Verde  já foi Norman e Harry Osborn nas histórias do Homem-Aranha, pai e filho também já foram os portadores do nome Kraven, o Caçador e outros tantos personagens de DC e Marvel também usaram desse artifício, não só como malfeitores como mocinhos também. Isso ajuda a guardar semelhanças dessas aventuras de faroeste com o mainstream das historias populares nos Estados Unidos, embora não pareça nada gratuito, é só uma referência bem encaixada mesmo.

    A historia é bem comum, mostra momentos escapistas, tem duelos entre animais selvagens e humanos, possui perseguições típicas entre herói e vilões, com capangas e estruturas bem normais a filmes e livros de western. Boselli escreve bem ao estilo dos clássico Bonelli, os desenhos de Benevento não tem uma grande movimentação ou dinamismo visual, a violência não é tão gráfica, até os tiroteios parecem lentos. Além disso, o texto é verborrágico, há um excesso de explicações, para o leitor que não está acostumado com o comum dentro das revistas da editora italiana.

    Se a ação não é tão gráfica, ao menos os cenários são bem detalhados, fato que ajuda a fomentar o tom tradicional da historia, que mira ser um conto escapista de tentativa de revanche, como um bom episódio das séries de faroeste que povoavam as sessões de matine nos cinemas ou as manhãs e tardes das televisões antigas. Tex: A Filha de Satânia apesar de ser uma historia bem recente, de 2019, possui um tom bem clássico, condizente com os momentos típicos do herói que enfrenta os fora da lei do velho oeste americano.

  • Resenha | Nick Raider: Golpe de Cena

    Resenha | Nick Raider: Golpe de Cena

    Segundo volume das aventuras do detetive criado por Claudio Nizzi, Golpe de Cena traz o detetive Nick Raider às voltas com uma trama que tem um ponto de partida um tanto quanto curioso: durante o roubo de selos raros, um ladrão é surpreendido pelo dono da coleção e sua esposa. Após uma briga, o bandido acaba acidentalmente matando o colecionador e foge em pânico. Porém, o que deveria ser somente um furto, acaba se tornando uma investigação de homicídio, ao passo que as evidências apontam para a esposa do colecionador, pois o ladrão não deixou nenhuma pista e somente ela presenciou o crime.

    Com roteiro de Giuseppe Ferradino, Nick Raider mais uma vez abraça suas inspirações hollywoodianas, com uma trama rocambolesca, mas que vai se amarrando à medida que os fatos ocorrem. Elementos clássicos e recorrentes se encontram presentes na história e o protagonista se demonstra sempre obstinado na resolução do caso, nem que pra isso tenha que questionar seus superiores e agir à margem da lei, principalmente quando isso envolve uma donzela em perigo.

    Entretanto, um elemento clássico das histórias de Nick Raider não aparece aqui: o lado galanteador do detetive. Nick é retratado um pouco mais distante pelo roteiro de Ferradino, o que é algo interessante, pois aumenta a seriedade do personagem em detrimento da sua habitual (e divertida) canastrice. Outro ponto bem interessante do roteiro é o tratamento dado à Marvin, parceiro de Nick. Claramente inspirado no detetive Axel Foley, interpretado por Eddie Murphy em Um Tira da Pesada, o detetive Marvin Brown aqui participa mais diretamente da trama, deixando de ser apenas um alívio cômico, e infelizmente, alvo de piadas racistas do protagonista (algo bastante questionável à época da publicação, mas ainda recorrente em diversas mídias).

    Há de se ressaltar também, a ótima arte de Gustavo Trigo, repleta de dinamismo e detalhismo, e que trazem uma ótima noção de movimento e proporcionam prazer aos olhos do leitor. Golpe de Cena é mais uma história divertida e de fácil leitura apesar das viradas de roteiro que acontecem no seu desenrolar. Mais um bom exemplar da editora italiana Sergio Bonelli Editore lançado pela Editora Mythos.

    Compre: Nick Raider – Golpe de Cena.

  • Resenha | Júlia – Graphic Novel: O Caso do Criminólogo Assassino

    Resenha | Júlia – Graphic Novel: O Caso do Criminólogo Assassino

    Publicado pela Editora Mythos desde 2004, a série Júlia ou J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga é uma das séries de maior qualidade em publicação no mercado editorial brasileiro. Desde o ano passado, a HQ tem ganhado um merecido destaque em uma reedição em novo formato e novo papel. A iniciativa dá prosseguimento a um investimento feito pela editora para popularizar títulos da editora italiana Bonelli. Saem o formatinho e o papel jornal, e entra o formato italiano e papel offset. Inicialmente, Dylan Dog e Martin Mystere foram lançados no formato, em seguida uma edição limitada de Tex, pavimentando o espaço para Júlia.

    Júlia Graphic Novel é mais um desdobramento do sucesso da republicação da personagem. Uma edição de luxo, parte do selo Prime, que dá sequência à série de aventuras especiais publicadas originalmente na revista italiana Julia Almanacco Del Giallo. Depois de dez especiais em preto e branco – alguns publicados no país em edição extra e outras na edição bimestral – a série finalmente ganhou uma edição especial colorida na Itália em 2015.

    O espaço-temporal é o que diferencia as aventuras especiais de Júlia da tradicional. Nessas narrativas especiais, a personagem central ainda é uma estudante de criminologia, revelando um brilhantismo precoce em suas participações investigativas ao lado do mentor, o professor Cross. Porém,  a estrutura narrativa em que a personagem descreve parte da ação como um diário e os roteiros apurados de Giancarlo Berardi se mantêm constantes.

    O caso do criminólogo assassino expõe uma das vertentes mais tradicionais da narrativa policial: a investigação de um crime de assassinato. Embora Júlia não seja limitada a apenas esse estilo, fator que sempre traz dinamismo às varias vertentes abordadas, sem dúvida o assassinato é uma das mais cativantes.

    Convidada por seu professor a uma convenção de criminólogos, Júlia é posta no centro da ação quando um dos participantes é assassinado. A trama expõe a clássica estrutura do caso do crime do quarto fechado. Formalmente, o estilo infere um crime relativamente impossível, mas também se desdobra em assassinatos que envolvem um grupo específico de pessoas que estão presas ou situadas em um mesmo ambiente. A intenção é ampliar o mistério e instigar o leitor. Afinal, um dos presentes na narrativa é o culpado. No caso dessa trama, os personagens estão em uma vila para a conferência de criminólogos e não podem sair do local enquanto o culpado não for descoberto.

    Após mais de 200 roteiros de Júlia na época da publicação desse especial, o roteirista Berardi não perde a mão. Trabalha cada caso com afinco, desenvolvendo tramas críveis e soluções possíveis para as tramas. Seus personagens, mesmo aqueles que entram em cena brevemente, parecem fundamentais. Se destacam em cena como se fossem reais devido a verossimilhança, transformando as investigações em grandes narrativas sobre o gênero.

    Embora as narrativas utilizem recursos que se desdobram sempre com Júlia no centro da ação e da resolução do caso, não há desequilíbrio nas bases investigativas, dando vazão a uma tradição narrativa policial que preza pela credulidade. Aos poucos, a trama vai apresentado cada personagem que poderia ter alguma rusga com o assassinado, revelando motivos escondidos por detrás da civilidade das aparências, sem exageros.

    A edição faz parte do Prime Edition da Mythos com capa dura e papel de qualidade. Como as tramas são auto-contidas, a narrativa funciona tanto para novos quanto cativo leitores. Na Itália, há mais cinco edições no formato. Sem dúvida, se a edição for um sucesso, haverá também continuidade em nossas terras.

    Compre: Julia Graphic Novel – O Caso do Criminólogo Assassino.

  • Resenha | Zagor: Edição Especial em Cores Nº 3

    Resenha | Zagor: Edição Especial em Cores Nº 3

    O herói Zagor é o famoso herói italiano que as grandes editoras dos Estados Unidos nunca permitiram que sua penetração de fato acontecesse, e fosse marcante, na América e nos países forte e culturalmente colonizados pela cultura americana, desde os anos 60 até hoje. O guardião da floresta de Darkwood, vulgo “espírito da machadinha”, é personagem clássico dos gibis muito pouco conhecido, em comparação com titãs tipo Batman e Homem-Aranha. Sua origem e principais aventuras que, ironicamente, retratam temas e dilemas americanos da época, vem sendo publicadas no Brasil pela Mythos Editora após décadas de um ostracismo generalizado do personagem a quaisquer fãs de cultura pop, mesmo aqueles que conseguem se livrar do eixo limitado Marvel/DC, e isso não poderia ser uma notícia melhor.

    A criação máxima de Guido Nolitta e Gallieno Ferri ganha agora uma série de compilados com as melhores histórias de Zagor e seu fiel escudeiro, o mexicano Chico. A cada volume, temos duas aventuras dessa dupla em um interior americano ainda não industrializado, visto em muitos filmes célebres de John Ford (Nos Tempos da Diligência e Rastros de Ódio são dois ótimos exemplos), nos trágicos tempos em que os militares caçavam índios formalmente, com absoluta cobertura do estado. Em Indian Circus, a primeira história deste Volume 3, vemos um ex-oficial militar raptando peles-vermelhas para expô-los em um circo humano, com base na justificativa que a maioria da população tem medo dos nativos selvagens dos EUA, e por isso, precisam ser mantidos afastados, controlados, de preferência em um zoológico, ou melhor: em um ringue de entretenimento, onde índios e leões são tratados da mesma forma.

    É claro que Zagor não pode permitir que esse crime aconteça, e junto do atrapalhado Chico, planejam restituir a liberdade ao povo destituído de seu habitat natural pelo homem branco, sempre predatório conforme nos mostra a colonização dos povos. Nisso, os autores Nolitta e Ferri constroem uma interessante questão moral: os índios raptados para este circo do vilão Rod Mac Carthy, de tão rebaixados e humilhados, acabam concordando com a escravidão que os acomete, como se esta fosse a condição natural que o destino lhes reservou. O que o seu abolicionista deve fazer, num impasse desses? Se em Indian Circus Zagor tenta garantir a alforria a quem não dispõe mais de nenhum poder de reação quanto a seus algozes, em Missão Trágica ele precisará assegurar provas que o livrem de uma grave denúncia: ter tramado um roubo milionário de dinheiro do Estado em que tudo indica a sua culpa, de maneira indiscutível. A sorte, como sempre, não está com o espírito da machadinha, mais longe que nunca da sua amada Darkwood.

    Nesta segunda história, percebemos que os autores se importam em ter o Estado americano como uma instituição paranoica (quando oficiais brigões prendem Chico por ele “roubar” uma linda flor da grama de um forte militar), e vitimada justamente para que o leitor se envolva com o drama estatal, uma vez que o dinheiro foi roubado e muitos agentes públicos foram mortos. Em suma: eles precisam rapidamente de um culpado. Na iminência da acusação, Zagor traça um plano nada infalível de fuga da prisão de Hellgate, em uma trama inspirada nos clássicos filmes de cadeia em que o ambiente carcerário é algo sufocante para qualquer homem. Enjaulado, o herói prova ser um anti-herói à medida que deseja escapar da lei, enquanto junta provas de sua inocência quanto ao assalto do comboio, além de encontrar seus verdadeiros culpados. Detalhe que essas histórias foram as primeiras a ganharem páginas coloridas das aventuras de Chico e Zagor, numa estratégia editorial de atrair mais leitores, em 1972. Deu certo, a tiragem foi um sucesso, e o que já era ótimo ganhou historicamente mais um atrativo.

    Compre: Zagor – Edição Especial em Cores Nº 3.

  • Resenha | Dylan Dog: O Marca Vermelha

    Resenha | Dylan Dog: O Marca Vermelha

    No segundo volume do Investigador do Pesadelo, a história escolhida pela Mythos Editora foi O Marca Vermelha. Publicada originalmente em janeiro de 1991, no número 52 da série italiana, a história conta com roteiros de Tiziano Sclavi e ilustrações de Gianluigi Coppola e conta com uma certa inspiração dos assassinatos cometidos por Jack, O Estripador na Londres do século XIX.

    Na trama, o imigrante ilegal Yuri Wolkoff é preso e condenado após matar mulheres da alta sociedade inglesa. Yuri foi encontrado próximo ao corpo de uma vítima portando uma navalha. Condenado à morte, Yuri comete suicídio na cadeia. Porém, cinco anos após sua morte, assassinatos semelhantes voltam a acontecer em Londres. Todos os detalhes encontram-se meticulosamente reproduzidos, desde a forma de matar até o W vermelho deixado desenhado próximo de cada vítima. É nesse contexto que Dylan Dog é chamado, pois inicia-se uma crença de que O Marca Vermelha voltou do túmulo para continuar a sua matança.

    O roteiro de Sclavi é carregado com uma forte crítica social. Durante a história, Dylan Dog é sempre colocado frente fortes desigualdades sociais, tais como a invisibilização dos mais pobres, a marginalização dos imigrantes, legais ou não, além da indiferença com que os mais abastados desfilam sobre esses pontos e os seus privilégios. Com relação ao desenvolvimento da história, Sclavi nos apresenta a um “whodunit”, com o Investigador do Pesadelo trabalhando bastante como um detetive mais tradicional, mas sem deixar o aspecto sobrenatural de lado. Tudo é contado de forma bem fluída, entrecortada por depoimentos de testemunhas dos crimes originais, até que se chega a um desfecho inesperado e muito interessante. A arte de Coppola ampara tudo isso muito bem, chega até ser um pouco caricata em alguns momentos, principalmente naqueles que retratam Volkoff, mas entende-se o intuito de reproduzir a forma como cada uma daquelas testemunhas via o personagem.

    O Marca Vermelha mantém o nível de qualidade iniciado com o volume anterior, Horror Paradise, e proporciona uma ótima leitura para os fãs antigos e para os recém-iniciados no universo de Dylan Dog.

    Compre: Dylan Dog – O Marca Vermelha.

  • Resenha | Martin Mystère: O Exército de Terracota

    Resenha | Martin Mystère: O Exército de Terracota

    Confesso que não sou fã dos formatos das histórias de Martin Mystère. Os arcos que duram várias edições ainda vão lá, mas alguns que duram uma edição e meia como esse O Exército de Terracota não me são muito atraentes. De qualquer forma, o arco que se iniciou no primeiro volume, O Mistério em Pequim, encontra uma conclusão bastante divertida, já que abraça de vez o absurdo e a galhofa.

    Com roteiro de Alfredo Castelli e ilustrações de Salvatore Deidda, Os Guerreiros de Terracota corresponde à edição 74 das aventuras do Detetive do Impossível lançada em 1988. A trama complicada e de certa forma clichê se iniciou na edição anterior onde Martin e sua trupe viajam até a China e se metem numa enrascada política e se vêem as voltas com mercenários, artefatos místicos, espionagem e eventos que podem ter conclusões catastróficas. Ao final dessa primeira edição, Martin se vê tendo que enfrentar um dragão e a grande vilã da história que foi rejuvenescida após uma baforada dele.

    A conclusão da história é um tanto mais movimentada e divertida do que seu início e meio que pareciam um tanto arrastados. Aqui, Martin tem que usar de todo o seu repertório para escapar até mesmo dos Guerreiros de Terracota que em um determinado ponto ganham vida. É interessante observar como que o roteiro joga abusa dos predicados do Detetive do Impossível, visto que a todo momento um novo evento mágico ou absurdo surge para ele enfrentar. Enfim, a conclusão é por demais divertida e salva uma história que parecia fadada a ser apenas razoável.

    Já a segunda história, que conclui na edição seguinte, coloca Mystère e sua equipe em uma trama onde eles vão investigar uma série de crimes violentos e inexplicáveis que aconteceram na fronteira da Califórnia com o México. Impossível não traçar um paralelo com Arquivo X e Supernatural, principalmente com a primeira, pois o clima de mistério que permeia a trama em muito lembra os episódios de “Monstro da Semana” do já clássico seriado. Porém, a interrupção da história me faz lamentar, pois a curiosidade pra saber o seu desfecho é muito grande.

    Enfim, ainda que eu tenha uma certa preferência por seus companheiros de editora como Dylan Dog e Nathan Never, essa edição de Martin Mystère me fez olhar com mais carinho para as suas aventuras.

    Compre: Martin Mystère – O Exército de Terracota.

  • Resenha | Tex Graphic Novel: O Herói e a Lenda – Volume 1

    Resenha | Tex Graphic Novel: O Herói e a Lenda – Volume 1

    Meu avô foi a primeira pessoa que me falou sobre Tex Willer. Apesar de ávido leitor de livros, as histórias do personagem criado em 1948 por Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini talvez sejam os únicos quadrinhos que ele leu. Não me recordo dele falando de algum outro. Li algumas vezes quando era bem novo as revistas que tinham na minha casa e depois nunca mais. Até que recebi O Herói e a Lenda. Antes de ler, procurei algumas histórias icônicas do personagem para melhor compreender todo o seu universo, afinal, meu contato com os fumetti do Tex se deu na infância. Fica difícil lembrar de coisas lidas há mais de 20 anos e uma breve recapitulação foi necessária para que ao menos eu pudesse compreender melhor a graphic novel de Paolo Serpieri.

    A primeira coisa que percebi, foi que essa história se diferenciava dos tradicionais fumetti da Bonelli. Tex aqui é bem mais violento e mata os seus inimigos sem o “romantismo” de salvar uma vida em perigo ou a sua própria. Confesso que foi um choque, mas dentro do contexto da história, funciona muito bem. As ilustrações do mestre Serpieri são de uma beleza e precisão ímpar, visto que são anatomicamente perfeitos e enchem os olhos do leitor. O autor intercala beleza e brutalidade numa naturalidade que impressiona. As cenas de batalha então são quase storyboards ultra detalhados de algum faroeste dirigido por um John Huston ou um Sergio Leone. Quando retrata ambientes fechados, insere o leitor no local, provocando um verdadeiro deleite visual.

    Tudo isso casa perfeitamente com o roteiro do próprio autor. Seu roteiro é rápido e preciso, mas nem por isso apressado. Usando metalinguagem de uma forma muito interessante, Serpieri introduz um velho Kit Carson retratando sua história para um jovem jornalista. Porém, em nenhum momento Paolo deixa claro se aquele ali é o verdadeiro Kit amigo de Tex, um impostor, se a história é verdadeira ou mesmo se estamos diante do Kit Carson histórico que viveu no século XIX. O autor provoca questionamentos sobre as versões da verdade e a forma de cada um enxergar de forma peculiar os eventos que testemunham. Serpieri joga com a figura do narrador não confiável de uma forma que intriga e instiga o leitor, ao mesmo tempo que não esquece das características principais de Tex Willer. Pros leitores mais antigos é uma experiência fascinante, pois abandona o caráter um tanto quanto ingênuo e paladino do personagem e abraça com força uma personalidade de múltiplas facetas que não ofende a sua mística, apenas o torna mais humano. A moral e a ética de Tex permanecem ali, só estão mais palatáveis.

    Ainda que no editorial escrito por Mauro Boselli exista um esforço para delinear que essa é uma história que acontece em uma espécie de universo alternativo, Tex: O Herói e a Lenda é mais do que obrigatória para os fãs do personagem. Além de tudo que foi ressaltado acima, a graphic novel conta um ótimo texto introdutório que enumera fatos históricos, além da história brilhantemente contada que possui um final tão bom que serve para potencializar tudo o que foi lido.

    Compre: Tex Graphic Novel – Volume 1: O Herói e a Lenda.

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  • Resenha | Zagor: Edição Especial em Cores Nº 2

    Resenha | Zagor: Edição Especial em Cores Nº 2

    Livre de contar a origem do personagem da forma mais cativante possível, a dupla Guido Nolitta e Gallieno Ferri seguiram esse nível de qualidade ao longo das próximas aventuras de sua maior criação, o mítico Zagor, tipo como o guardião da floresta de Darkwood. Agora, ao “espírito da machadinha” são dados novos e delirantes desafios para que o herói americano demonstre toda sua bravura e benevolência, no tocante aos perigos enfrentados junto de Chico, seu atrapalhado parceiro mexicano mundo afora. O Caçador de Homens e Um Dia Azarado foram publicados juntos no Brasil pela editora Mythos, num caprichoso trabalho gráfico a explorar estética e narrativamente, nesse número 2 das edições desse gibi clássico, todo o potencial da jornada de Zagor e seus amigos num mundo cada vez menos ameaçado por índios, e sim, por homens brancos feito o próprio.

    Sob esta contradição étnica (principalmente se notarmos o claro preconceito aos povos nativos dos EUA que algumas histórias de Zagor tanto demonstram), desenrolam-se duas histórias rápidas: na primeira, e mais direta ao tema, vamos com o herói e Chico ao encontro de outros aventureiros que, uma vez por ano, se reúnem para beber e contar suas “histórias de pescador” – e, claro, celebrar uma vida livre na natureza, até sua paz ser revogada por um ataque surpresa a festa, o que deixa a todos em pânico. Ficamos sabendo junto de todos que o famoso Lorde Alex Nicholson está em Darkwood, e já começou a fazer suas vítimas. Um milionário excêntrico, cansado de caçar apenas animais selvagens e que se propôs a perseguir (e empalhar em sua sala de troféus) o mais fatal dos bichos: o ser humano.

    Após ser afastado da celebração anual dos nômades, homens tão livres como o vento, é claro que Zagor e Chico vão se colocar no caminho de Alex Nicholson, e pagar um bom preço por isso. A seguir, em outro saboroso conto com puro gosto de nostalgia (os desenhos são típicos dos anos 60, e os diálogos são explicativos e espirituosos como se espera das publicações da época), trilhamos agora os passos do cafajeste Guitar Jim, um ladrão loiro que engana e mata todos por onde passa. Sempre se aproveitando do próximo, Guitar Jim não sabe lutar, e nem tem grandes planos tal o caçador de homens ou outros vilões, mas é o único que consegue enganar repetidas vezes nossa querida dupla heroica – e mais atrapalhada do que eles gostariam de ser.

    Ambos os antagonistas de O Caçador de Homens e Um Dia Azarado são iguais a eles, ensinado Zagor e seu escudeiro gorducho que o perigo não está sempre no diferente, e sim, muitas vezes, nos seus imediatos semelhantes. É interessante, em certo momento, como Zagor precisa deixar racismos de lado e unir brancos e vermelhos em prol de um bem maior, reconhecendo a importância da igualdade e o valor de sua posição consolidadora – para uns, apenas um amigo de aventuras, e para outros, um salvador enviado por Deus. Os autores Nolitta e Ferri se mostram mestres das histórias em quadrinhos, nos fazendo sorri e mergulhar nessa mirabolante criação que já pode – e deve – ser considerada um clássico encantador das HQ’s mundiais.

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  • Resenha | Zagor: Edição Especial em Cores Nº 1

    Resenha | Zagor: Edição Especial em Cores Nº 1

    A criação da dupla de artistas Guido Nolitta e Gallieno Ferri, um marco das HQ’s italianas, é um desses personagens que impressiona não ter a mesma popularidade no Brasil de outras figuras icônicas dos quadrinhos, como Popeye, Mutts e Constantine. Mesmo assim, o herói Zagor tem espaço assegurado no imaginário popular dos leitores mais interessados nas grandes aventuras que marcam épocas e atravessam gerações através de um brilho literário característico, e uma qualidade gráfica imbatível. Zagor é Zorro sem capa, nem máscara, e trocou o chicote pela sua machadinha desde que aprendeu a se virar no mundo, com a ajuda de inusitadas amizades. Zagor é o andarilho que escolheu o lado dos “bonzinhos”, e numa realidade cheia de armadilhas para qualquer homem onde o maniqueísmo, tão típico dos gibis, não tem vez.

    Criado numa época em que já existiam faroestes demais dominando as publicações do tipo, Nolitta e Ferri se viram na missão de bolar um personagem que transitasse, livre, entre os gêneros da ficção menos óbvios em um contexto clássico de bang-bang americano. Assim, a floresta de Darkwood é palco para arcos narrativos muito além de problemas com dinheiro, duelos armados e cavalgadas ao pôr do sol – clichês já batidos desde os anos 60. É notável quanto os artistas se empenham em expandir o drama, o suspense, a comédia voluntária (ou não) e até mesmo o terror humano que o herói Zagor encontra no caminho, desde sua infância, como nos é apresentado neste primeiro volume da Editora Mythos, no Brasil. A Origem de Zagor nos faz conhecer as raízes de um garoto deixado órfão na mais comum das noites por um padre, um homem recluso e enigmático que catequisa nativos indígenas, terminantemente selvagens, para conseguir com brutalidade atingir seus próprios interesses mesquinhos, e mundanos.

    Salvo pelos seus pais, os mártires da ira sem explicação do padre, o garoto é amparado e a ele ensinado truques de sobrevivência por Wandering Fitzy, um nômade de bom coração que viria a ser seu mentor, superando juntos vários desafios. Por toda sua adolescência, o menino visa combater a tragédia que abateu sua família, mesmo sabendo que Wandering, seu fiel companheiro, não concorda nem um pouco com seu instinto inquietante de vingança contra quem alterou seu destino, para sempre. Mas será que vale a pena esse objetivo de vida, perseguir uma dívida de sangue até a morte se necessário para que as lágrimas que nunca param de cair sejam, por fim, creditadas? Ao se tornar o herói Zagor, rápido como um raio e mestre da vida na floresta, o homem percebe que essa sede de punição ao padre e sua tribo o levará, cedo ou tarde, a ter seu coração envenenado. Motivos então não faltam para isso acontecer, mas os autores tomam cuidado para garantir o verdadeiro porquê de Zagor merecer ser considerado um legítimo herói: ele, de fato, escolhe o lado da virtude.

    Mesmo assim, A Origem de Zagor peca em transmitir uma mensagem de que os povos indígenas são ignorantes, e precisam ser doutrinados, como se isso fosse uma mera consequência da ganância do homem branco em dominá-los em seu próprio habitat. O quadrinho termina justamente exaltando o poder de Zagor, já como uma figura louvável e guardião da mítica (e super perigosa) floresta de Darkwood, sobre aqueles que vivem em suas regiões pacificamente, e sempre tem suas vidas afetadas de algum modo por forasteiros imperiosos. Infelizmente, a história acaba por transformar Zagor numa espécie de redenção ambulante e com boas intenções aos inúmeros males do homem branco para com as outras raças não-dominantes da Terra, mas nada que tire o charme estético de uma publicação com todo o estilo gráfico dos anos 60, bastante expressivo e adorável. A criação máxima de Nolitta e Ferri continua viva, e agora, acessível a uma nova geração de leitores a se deleitar e interpretar essas aventuras atemporais.

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  • Resenha | Zagor Especial 40 Anos

    Resenha | Zagor Especial 40 Anos

    A Odisseia se estabeleceu na cultura ocidental como uma das narrativas fundamentais da literatura mundial. Sendo um dos principais poemas épicos da Grécia Antiga, de autoria atribuída a Homero, a trama narra o retorno de Odisseu ao seu lar, Ítaca, após a Guerra de Troia, e inspirou incontáveis produções artísticas ao longo dos séculos, desde peças de teatro a livros, filmes e histórias em quadrinhos.

    Zagor, herói do gênero western criado pelos italianos Sergio Bonelli (sob o pseudônimo de Guido Nolitta) e Gallieno Ferri, despontou nas bancas da Velha Bota no começo dos anos 60, consolidando o personagem como um dos ícones do fumetti, temo pelo qual os quadrinhos são conhecidos na Itália. O “Espírito da Machadinha” angariou fãs ao redor do mundo, de maneira que em 2018 completou-se 40 anos desde sua primeira aparição nas bancas brasileiras. Para celebrar a marca, a Mythos Editora publicou uma edição especial de Zagor, na qual apresenta a história favorita de seu lendário criador, Sergio Bonelli, intitulada “Odisseia americana”.

    A história, inspirada claramente no texto épico de Homero, coloca Zagor e seu fiel parceiro Chico às voltas com uma perigosa empreitada: acompanhar um rico empresário, Homerus Bannington Júnior, em sua tresloucada expedição ao longo do rio Tallapoosa até o lago Cherokee, com o objetivo de vivenciar uma aventura de tamanho impacto que o inspire para conceber sua própria poesia épica, mantendo a tradição de poetas da família.

    A premissa, que soa absurda, é levada a cabo ao longo das 228 páginas, estabelecendo Zagor e a tripulação do barco Athena como partícipes de um jogo de vida ou morte, através de uma jornada recheada de perigos inesperados. O percurso ganha ares épicos ao se desvelar em um ambiente que foge em muito daquilo que conhecemos como “mundo real”. Bonelli e Ferri inserem elementos fantásticos ao longo da jornada, como tribos de gorilas antropomorfos, vulcões ativos que surgem sem mais nem menos, solos áridos que se modificam, criando deslizamentos e nevoeiros que roubam a lucidez até mesmo do mais sábio dos homens. Afinal de contas, não há como se reclamar de emoção nessa jornada!

    A tribo de macacos antropomorfos remonta às clássicas aventuras de Tarzan e dos filmes de faroeste, em uma perspectiva claramente colonialista e que animaliza o desconhecido, o “incivilizado”, e dignifica o herói branco, civilizado e libertador. Essa sequência, analisada com as lentes do presente, pode ser interpretada de modo problemático, mas acaba passando batido durante uma leitura descompromissada.

    Logo em seguida, temos uma série de absurdos típicos das histórias de fantasia de décadas atrás, quando um vulcão entra em erupção e leva o solo a absurdas transformações que desafiam as leis da física, apenas com o intuito de gerar um deslizamento de pedras extremamente perigoso, que leva os personagens a retornarem às águas do rio Tallapoosa para escaparem daquele terreno inóspito.

    O rio, sempre representado à luz do dia, ganha contornos apavorantes ao cair da noite, remetendo a uma espécie de Apocalypse Now, imergindo em uma névoa sinistra, que pouco a pouco leva embora a sanidade da tripulação dos restos do Athena. Contudo, Zagor não é Ben Willard e não sucumbe à loucura, permanecendo incólume  diante do perigo, quando ninguém mais poderia salvá-los diante da maldita expedição.

    A narrativa de Bonelli é extremamente fluida, o que causa espanto ao constatarmos que “Odisseia Americana” se trata de uma história publicada em 1972. O escritor trabalha muito bem o humor ao longo da trama, dosando bem seu texto, caminhando entre a leveza da aventura pueril e o peso das trágicas consequências dos atos dos personagens. A arte de Ferri obedece aos padrões estéticos da época, fazendo uso de diagramações de páginas rígidas e traços extremamente refinados e detalhados, tornando impossível passar as páginas sem se prender aos quadros para observar a precisão que a arte possui. A dramaticidade contida no traço de Ferri salta aos olhos nas sequências de mortes da narrativa, conferindo peso para os momentos tensos da história, bem como apresentando expressividade e leveza nos momentos de descontração da história.

    Ao observarmos a concepção de personagem, percebe-se que Bonelli e Ferri pensaram Zagor como um típico herói clássico, tal qual Flash Gordon, Tex (criado pelo pai de Sergio, Gian Luigi Bonelli), Príncipe Valente, Tarzan etc. Com bondade, inteligência e absurdas habilidades atléticas, o herói virtuoso acaba se tornando um arquétipo comum do meio, o que torna ainda mais criteriosa a análise em cima desse tipo de personagem. Bonelli logra êxito nessa empreitada, apresentando uma excelente história de aventura com ares épicos, inserindo Zagor e sua inseparável machadinha por uma jornada de intensos percalços, nessa odisseia em solo americano.

    Publicado pela Mythos, Zagor Especial 40 Anos saiu em capa cartão, contendo as já supracitadas 228 páginas em cores.

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  • Resenha | Nathan Never: Inferno

    Resenha | Nathan Never: Inferno

    Nessa segunda edição, que ocorre cronologicamente após a primeira, mostrando que a Editora Mythos pretendia editar o título na ordem em que foi lançado originalmente, a história do Agente Alfa tem uma pegada um pouco diferente do clima noir do primeiro volume. Há um viés mais político, com crítica social embutida de forma muito interessante no roteiro, o que demonstra todo o dinamismo dos roteiristas e das histórias de Nathan Never.

    Em Inferno, Never está no encalço de Hans Schneider, um rapaz que luta pela afirmação dos direitos dos “Mutados”. Após um assalto, Schneider foge para os subterrâneos da cidade e o agente parte atrás dele. Porém, Hans recebeu abrigo do padre Homero. Entram em cena os mercenários do comandante Edwards, que estão à procura de Schneider com o propósito de receber a recompensa que o influente político Franz Hoenzoller prometeu por sua cabeça e cabe ao herói combater essa ameaça e também se manter vivo no hostil ambiente subterrâneo.

    Quando eu disse que há uma crítica social no texto, não era mentira. A luta dos Mutados pela afirmação de seus direitos faz referência à vários movimentos de minorias discriminadas ao longo do tempo. Os seres modificados do universo de Never batalham por direitos iguais. O assalto perpetrado por Hans Schneider em conjunto com um mutante é o estopim para uma onda de ódio e preconceito, fomentada por uma imprensa sensacionalista que atribui uma escalada de violência aos seres subterrâneos e por um candidato a prefeito incendiário e preconceituoso que toma isso como bandeira para fazer sua campanha. Apesar de ser uma história de 1992, o antagonista Franz Hoenzoller está muito próximo alguns políticos estúpidos e belicistas que surgiram no cenário nacional ultimamente, ainda que a referência usada na época tenham sido o apartheid.

    No concernente ao desenvolvimento da história, o roteiro ágil de Bepi Vigna e as ilustrações da Dante Bastianone casam muito bem. A forma como a história se desenvolve me remeteu ao clássico filme Warriors, dirigido por Walter Hill, com o protagonista quase sempre em movimento. O ritmo é frenético, porém não é apressado, com as soluções da trama acontecendo de forma fluida. Os Mutados também remetem aos Morlocks, os mutantes renegados do universo dos X-Men. Na introdução da edição, é falado que A Divina Comédia, de Dante Alighieri também serve como inspiração para a história, o que realmente ocorre, visto que quando mais se aprofunda nos subterrâneos, mais Nathan Never presencia a degradação. Porém, no caso dessa história, a descida ao submundo vai retratando a degradação da sociedade. Em resumo, Inferno é mais uma grande história desse ótimo personagem e de seu intrigante universo.

    Compre: Nathan Never: Inferno.

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  • Resenha | Nathan Never: Os Olhos de um Estranho

    Resenha | Nathan Never: Os Olhos de um Estranho

    De todos os títulos relançados da Sergio Bonelli Editore pela Mythos, Nathan Never foi o que mais me despertou interesse. Incrivelmente, foi o que eu mais negligenciei por algum estranho motivo que eu não sei explicar até o momento que eu escrevo essa resenha. Entretanto, posso afirmar que foi disparado o melhor fumetti que eu li. Digo isso porque apesar de leitor ávido de quadrinhos, nunca fui familiarizado com os quadrinhos italianos da Bonelli. Só que esse novo mundo que me foi apresentado é por demais interessante, e dentre eles, Never foi o que mais me agradou.

    Criado por Michele Medda, Antonio Serra e Bepi Vigna, as histórias de Never são ambientadas em um futuro mais ou menos distópico em que o combate ao crime é feito por agências policiais e corporações privadas de detetives, como a Agência Alfa onde Nathan trabalha. Na trama de Os Olhos de um Estranho, o Agente Alfa investiga o assassinato de Hannah Owens, uma mulher solitária e introvertida que levava uma vida aparentemente comum. Com a ajuda de Sigmund Baginov, Never descobre que outras mulheres com perfil semelhante ao de Hannah também foram mortas da mesma forma que ela. A partir daí, Nathan descobre que o caso pode ser mais complicado do que imaginava.

    Originalmente publicada em Nathan Never nº 9 (fevereiro de 1992), a HQ conta com roteiros de Michele Medda e desenhos de Stefano Casini. É bom observar como o ambiente onde a história é passada guarda enormes semelhanças com Blade Runner: O Caçador de Andróides. Até mesmo o protagonista tem um certo quê de Rick Deckard, o protagonista do filme de Ridley Scott que foi interpretado por Harrison Ford. O ritmo do roteiro é vertiginoso desde o início, ainda que possua uma forte pegada noi Os diálogos são espertos, principalmente na interação do Agente Alfa com alguns ótimos coadjuvantes como Sigmund Baginov e Legs Weaver (declaradamente inspirada em Sigourney Weaver). Os desenhos de Stefano Casini em certos momentos parecem storyboards detalhados de algum filme, com planos que caberiam perfeitamente em uma tela de cinema. Em vários momentos me peguei viajando nos quadrinhos e imaginando tudo em movimento como se fosse um filme.

    Sintetizando em poucas palavras, Nathan Never foi o fumetti mais interessante que li dessa leva que a Mythos relançou e digo sinceramente que me tornei um fã de suas histórias.

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