Tag: Cláudio Nizzi

  • Resenha | Nick Raider: Golpe de Cena

    Resenha | Nick Raider: Golpe de Cena

    Segundo volume das aventuras do detetive criado por Claudio Nizzi, Golpe de Cena traz o detetive Nick Raider às voltas com uma trama que tem um ponto de partida um tanto quanto curioso: durante o roubo de selos raros, um ladrão é surpreendido pelo dono da coleção e sua esposa. Após uma briga, o bandido acaba acidentalmente matando o colecionador e foge em pânico. Porém, o que deveria ser somente um furto, acaba se tornando uma investigação de homicídio, ao passo que as evidências apontam para a esposa do colecionador, pois o ladrão não deixou nenhuma pista e somente ela presenciou o crime.

    Com roteiro de Giuseppe Ferradino, Nick Raider mais uma vez abraça suas inspirações hollywoodianas, com uma trama rocambolesca, mas que vai se amarrando à medida que os fatos ocorrem. Elementos clássicos e recorrentes se encontram presentes na história e o protagonista se demonstra sempre obstinado na resolução do caso, nem que pra isso tenha que questionar seus superiores e agir à margem da lei, principalmente quando isso envolve uma donzela em perigo.

    Entretanto, um elemento clássico das histórias de Nick Raider não aparece aqui: o lado galanteador do detetive. Nick é retratado um pouco mais distante pelo roteiro de Ferradino, o que é algo interessante, pois aumenta a seriedade do personagem em detrimento da sua habitual (e divertida) canastrice. Outro ponto bem interessante do roteiro é o tratamento dado à Marvin, parceiro de Nick. Claramente inspirado no detetive Axel Foley, interpretado por Eddie Murphy em Um Tira da Pesada, o detetive Marvin Brown aqui participa mais diretamente da trama, deixando de ser apenas um alívio cômico, e infelizmente, alvo de piadas racistas do protagonista (algo bastante questionável à época da publicação, mas ainda recorrente em diversas mídias).

    Há de se ressaltar também, a ótima arte de Gustavo Trigo, repleta de dinamismo e detalhismo, e que trazem uma ótima noção de movimento e proporcionam prazer aos olhos do leitor. Golpe de Cena é mais uma história divertida e de fácil leitura apesar das viradas de roteiro que acontecem no seu desenrolar. Mais um bom exemplar da editora italiana Sergio Bonelli Editore lançado pela Editora Mythos.

    Compre: Nick Raider – Golpe de Cena.

  • Resenha | Tex Gold: O Profeta Indígena

    Resenha | Tex Gold: O Profeta Indígena

    A minha experiência como leitor de quadrinhos começou numa banca perto da minha casa. Todo domingo a minha mãe me dava o direito a um gibi, mas a tarefa de escolher nunca foi assim tão simples. Eu sempre acabava com alguma edição nova do Homem-Aranha ou do Batman, mas sempre tive uma coceira de entender um dos títulos que ficava nas partes mais altas, já que parecia mais um dos filmes de faroeste da coleção do meu tio Marcos que um quadrinho. A curiosidade sempre fazia folhear uma, mas tudo parecia muito mais adulto, e menos colorido, do que eu conseguiria entender. Uns vinte anos depois eu tenho contato com o número 1 de Tex Gold, coleção lançada pela editora Salvat.

    A edição é bem diferente das minhas memórias de infância, além de vir num formato americano e com capa dura, as histórias são todas coloridas. Quando criança, parte da impressão de que as histórias vinham de outra época era pela falta de colorização das páginas, que deixavam as coisas mais próximas de Na Pista do Traidor do que com Três Homens em Conflito, ao menos na minha cabeça. E os próprios temas e personagens de Gian Luigi Bonelli são algo entre os dois filmes, entre a pureza dos filmes mais clássicos de faroeste ao desencanto do western spaghetti.

    A primeira edição da série traz a história O Profeta Indígena, roteirizada por Claudio Nizzi e desenhada por Corrado Mastantuono. A discussão de temas como o fanatismo religioso e a indução de um povo ao conflito através dessa arma é mais atual do que nunca. Há uma esforço em não demonizar os povos indígenas que é bastante atual, mas que às vezes perde um pouco a mão e os caracteriza como “ingênuos”, revivendo um pouco a perspectiva do “bom selvagem” e um racismo ainda enraizado ao se representar esses povos. Quanto a arte, tanto o traço quanto as cores revivem ainda mais a ideia de que estamos lendo algo trazido do passado. O estilo é uma releitura do utilizado pelo criador do Tex, Aurelio Galleppini, trazendo o realismo tanto nos cenários quanto nos personagens. Isso significa que vamos ter um uso de sombras e hachuras que pode incomodar quem está acostumado com os quadrinhos mais novos, mas que cumpre o seu papel perfeitamente.

    Ler Tex é como pegar aquele filme de faroeste clássico, às vezes você alguma memória gostosa, às vezes apenas uma curiosidade muito grande, mas que dificilmente o decepciona. E de quebra sai com com a tradicional música do Ennio Morricone tocando na cabeça, querendo um duelo ao meio-dia no centro da cidade.

    Compre: Tex Gold: O Profeta Indígena.

    Texto de autoria de Caio Amorim.

    Facebook –Página e Grupo | TwitterInstagram.

  • Resenha | Nick Raider: A Quarta Testemunha

    Resenha | Nick Raider: A Quarta Testemunha

    Criado por Cláudio Nizzi no ano de 1988, Nick Raider é considerado por muitos uma espécie de Tex urbano e contemporâneo. Detetive idealista, Raider é praticamente uma ilha de honestidade em um ambiente um tanto quanto corrupto, o Departamento de Polícia da cidade de Nova York. Sua concepção é até um tanto clichê, visto que o personagem dirige um Pontiac Firebird com a placa NYC 777. Lendo dessa forma, pode até parece um quadrinho ruim, mas está longe disso. É muito divertido.

    Nesse A Quarta Testemunha, volume 1 lançado pela Editora Mythos, escrito por Giuseppe Ferrandino e desenhado por‎ Gustavo TrigoNick se vê às voltas em uma colaboração com o FBI. O detetive é encarregado de transportar uma bela testemunha de Nova York para Los Angeles para que ela se pronuncie no julgamento do mafioso Joe Bonsanto. Porém, a tarefa não será nada fácil, já que o meliante já conseguiu eliminar outras três testemunhas que poderiam provar sua culpa.

    A história se desenrola como um road movie que em vários momentos me fez lembrar de Fuga à Meia-Noite, clássico oitentista estrelado por Robert De Niro e Charles Grodin. O roteiro é ágil e cheio de situações empolgantes, mas que em certos momentos parecem se resolver de forma apressada. A trama apresenta pontos muitos semelhantes com vários filmes e outras histórias, porém o roteirista pega esses clichês e faz ótimo uso deles. Um ponto muito positivo é colocar a personagem Alice Wilson como uma mulher inteligente que complementa Raider na história ao invés de ser somente a donzela em perigo. Os autores ainda homenageiam Marilyn Monroe e Robert Mitchum, protagonistas de O Rio das Almas Perdidas, o que acaba provocando uma sensação muito gostosa no coração dos cinéfilos saudosistas. Os coadjuvantes amigos do tira Nick também são clichês ambulantes, mas são divertidíssimos e funcionam muito bem na história. Além disso, a classuda arte de Mario Rossi provoca a imersão do leitor na história, já que em certos momentos parecemos estar diante de um caprichado storyboard de um filme.

    Não fosse o ritmo demasiadamente excessivo em vários momentos, esta “A Quarta Testemunha” seria um clássico instantâneo, mas ainda que não seja, é um grande cartão visitas do personagem nessa nova fase das publicações da Mythos.

    Compre: Nick Raider: A Quarta Testemunha.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.