David O. Russel transporta para as telas a história do peso-leve Micky Ward, boxeador conhecido pela sua resistência nos ringues onde com frequência costumava suportar vários rounds de castigo até seu adversário apresentar cansaço e ele dar a volta por cima, bastante parecido com o nosso lutador de Jiu-Jitsu e MMA, Antonio Rodrigo Nogueira, o “Minotauro”.
Com sete indicações ao Oscar, sendo ganhador de dois deles com Christian Bale e Melissa Leo como atores coadjuvantes, O Vencedor traz um relato sincero de Micky Ward (Mark Wahlberg). Na trama sabemos um pouco do passado do seu irmão, Dicky Eklund (Bale), através de entrevistas para um documentário da HBO. Dicky ficou conhecido por ser o pugilista que derrubou Sugar Ray Leonard durante os anos 70, mas que acabou sendo derrotado, de acordo com ele, injustamente.
Micky sempre coloca sua família em primeiro plano, mesmo que isso signifique estragar sua carreira como pugilista, já que Dicky e sua mãe só o colocam em lutas que acabam denigrindo sua imagem e promovendo seus adversários. Sua carreira de boxeador é um fracasso e o tempo está passando para ele, seu irmão e exemplo, Dicky, está completamente afundado no crack. Micky passa sua vida sem perspectivas de um futuro de sucesso, mas tudo isso muda quando ele se envolve com um garota local e decide fazer uma mudança brusca em sua vida.
Com uma trama que teria tudo para se tornar uma convenção de estereótipos e clichês, O Vencedor consegue ir muito além de um filme de boxe e superação como a grande maioria. Seja pelas excelentes atuações mostrando o quão reais e complexos são os personagens apresentados em tela, seja pelo roteiro convencional, mas que acrescenta verossimilhança a história ou mesmo pela direção com caráter bastante documental em todo o longa.
E por falar em atuações, Bale rouba a cena com seu personagem, que apesar de todos os seus problemas e defeitos é impossível não se cativar, seja pela sua esperança em retornar aos ringues ou com sua relação com seu irmão, demonstrando o carinho que tem com o irmão mais novo e a experiência nos ringues ao dar dicas fundamentais para vitória do Micky. Alice, mãe de Micky, Dicky e mais sete filhas é interpretada por Melissa Leo, uma mulher que se mostra motivada por interesses financeiros e deixa visível sua preferência por Dicky, invés do irmão mais novo. É difícil não odiá-la por suas decisões.
Não menos importantes que os supra-citados acima, temos Amy Adams interpretando a namorada de Micky, uma jovem forte e decidida, com um passado difícil que vê uma oportunidade de redenção ao ajudar Micky e ela própria. E por falar em Micky, Mark Wahlberg se mostra humilde, pois apesar de ser o produtor e protagonista do filme, em nenhum momento ele tenta se tornar maior que o restante do elenco. Seu personagem por exemplo, apesar de discreto é notável toda a angústia guardada dentro dele. Micky mostra que apesar de ser um lutador é uma pessoa extremamente pacífica e demonstra seu desconforto até mesmo ao confrontar seus familiares. O relacionamento de Micky e Dick é o ponto alto do longa, pois mesmo com os maiores problemas e mágoas entre os dois, ambos se mostram unidos.
Russel se mostra extremamente competente em levar o filme de forma documental, utilizando até mesmo as câmeras da HBO nas filmagens. A fotografia dá o tom decadente, deprimente e realista ao retratar seus personagens e a cidade de Lowell, o mesmo vale para a escolha do elenco, onde todos se mostram em perfeita sintonia. Impossível não se sensibilizar com a cena onde Dicky canta os versos de “I Started a Joke” dos Bee Gees para sua mãe, o dilema de Micky em aceitar seu irmão novamente como treinador ou mesmo quando é exibido o documentário sobre o crack, mostrando os efeitos devastadores sobre Dicky, uma realidade nua e crua do crack onde vemos um homem completamente devastado e o choque de sua família ao ver onde ele chegou.
O Vencedor não é um filme sobre boxe e sim sobre adversidades e família. Seus personagens são repletos de dúvidas e problemas. Assim como a vida.
Achei “The Fighter” um ótimo filme! Realmente Bale rouba totalmente a atenção, não que Walhberg tenha sido pífio, até achei que o mesmo superou as expectativas.
Curti bastante toda aquela estética documental/televisa que foi utilizada, em compensação as cenas de lutas ao meu ver, deixaram a desejar. Também foi sensacional quando os verdadeiros Micky Ward e Dicky Eklund surgem nos créditos finais. Ah, vale lembrar que é próprio Sugar Ray Leonard que faz uma ponta no filme.
Não achei as cenas de luta ruins. Mas se comparar com Rocky é sacanagem… hahaha… acho que nao era o foco do filme msm.
Bem lembrado sobre o Sugar Ray. O treinador do Micky tbm é interpretado por ele msm. Mickey O’ Keefe se nao me engano.
Quando eu vi Micky Ward entrando no ringue e em sua roupa estava escrito ‘Irish’, no mesmo segundo me lembrei da banda Dropkick Murphys, que mistura em som características vivas do Street Punk e Irish Music, por alguns o gênero é denominado como Irish Punk/Hardcore. Na hora em que vi não tinha ligado os fatos, mas poucos minutos depois eu me lembrei do álbum The Warrior’s Code que se tratava de boxe, diga-se de passagem um dos melhores na minha opinião. De repente um delírio me invadiu porque começa a tocar a canção homônima em The Fighter, com Mark Wahlberg no ringue. O furacão de sentimentos e euforia não para por aí, pois nesse momento eu pausei o filme e fui ouvir a música. Fiquei por um momento dividido em ouvi-la ou ir direto em um site de traduções para ver do que se tratava a canção, ou fazer os dois ao mesmo tempo. Mas na realidade acabei por colocar The Warrior’s Code pra tocar sem fazer mais nada. Como não entendo muito bem de inglês só me dei conta do que se tratava quando ouvi a frase no refrão:
“Micky! It’s a warrior’s code! MICKY!!! He’s got the warrior’s soul!”
Fique alucinado e fui ver a tradução e constatar o que agora é óbvio, é tudo uma homenagem da Dropkick Murphys para Micky Ward. Assista o clipe dessa canção e observe o verdadeiro Micky Ward no ringue, a inspiração para David O. Russell.