Um dos personagens dos quadrinhos Disney mais queridos no Brasil, Urtigão Urtiga ganha uma edição especial de 300 páginas para comemorar seus 50 anos de criação. Criado como coadjuvante em uma história de Donald e Peninha de 1964, o velho Urtiga logo foi ganhando mais espaço até conquistar um gibi próprio por aqui, em meados de 1987. Essa edição traz uma amostra de três fases do montanhês esquentado, em histórias representativas de cada período.
A primeira parte, chamada de Fase Americana, retrata a criação do personagem. Urtigão é um velho “hillbilly” que vive isolado na sua cabana nas montanhas, tendo por companhia apenas seu cão chamado Cão e sua espingarda pra afastar visitas indesejáveis. De temperamento explosivo e pavio curto, Urtigão (ou Hard Haid Moe, seu nome original) não pensava duas vezes antes de atirar em Donald e Peninha cada vez que a dupla cismava de atrapalhar seus afazeres – que consistiam, basicamente, em tirar uma soneca. A seleção de histórias para essa fase vai desde sua criação até 1970. Nessas sete histórias, Urtigão é ora um coadjuvante, ora o antagonista, e a maioria envolve os patos como repórteres do jornal “A Patada”.
A segunda parte apresenta vinte histórias da Fase Brasileira, que vai de 1972 até meados de 1994. Nesse período, a editora Abril tinha perdido os gibis de Mauricio de Sousa para a editora Globo, e Urtigão ocupou o espaço deixado pelo gibi do Chico Bento com uma publicação quinzenal. Com histórias produzidas por brasileiros e para brasileiros (embora elas tenham sido publicadas no exterior também, principalmente na Itália), essa fase mostra o personagem como um matuto, um típico caipira do interior de São Paulo, Minas Gerais ou Goiás. Sua moradia, antes retratada como simplesmente nas “montanhas”, passa a ser no Brejo das Urtigas. Coadjuvantes são criados, e de um ermitão convicto, Urtigão passou a ser mais sociável, tendo inclusive uma companheira morando em sua cabana – a Firmina. Nessas histórias, o lado explosivo do personagem vai ficando de lado, dando espaço a uma espécie de Pedro Malasartes disneyano, um caboclo que apesar de ingênuo sempre se dá bem e passa a perna no povo da cidade. Aos poucos, o leitor até esquece sua origem estadunidense e o confunde com uma criação quase exclusivamente brasileira – ainda mais devido à sua interação com o papagaio Zé Carioca nas séries Urtigão in Rio e Zé no Brejo. A seleção de histórias deixou um pouco a desejar. Apesar de numerosas (nada menos que vinte histórias!) e, de certa forma até significativas, algumas são pouco inspiradas e outras são simplesmente sem graça.
Por fim, temos a chamada Fase Italiana. Urtigão Urtiga se torna “Dinamite Bla” e volta à sua origem: um ermitão esquentado! Saem de cena Firmina, o Brejo das Urtigas e os coadjuvantes como Juca Piau, e volta o Morro do Cabeção (uma tradução livre para Cucuzzolo del Misantropo, em italiano), além da famigerada espingarda de cano duplo. Para representar essa fase foram selecionadas três histórias, sendo a primeira de 1977 e as outras de 2006 (retomada da produção de histórias do personagem após 12 anos) e 2011. Curiosamente, o personagem passa a usar sandálias ao invés de andar descalço, e as histórias são mais divertidas do que as da fase brasileira. Infelizmente, muito pouco dessa fase nos foi apresentado, deixando uma sensação de que poderiam ter diminuído um pouco a fase anterior (afinal, foram duas histórias inéditas e vinte e oito republicações!).
Cada uma das três fases apresenta um texto de Marcelo Alencar que nos conta um pouco sobre a criação e desenvolvimento do personagem, além de curiosidades de bastidores.
Enfim, é uma edição que não decepciona quem é fã de quadrinhos Disney, além de uma boa porta de entrada para quem ainda não conhece o personagem. E deixa no ar aquela vontade de procurar por mais histórias italianas do Urtigão, que vem sendo publicadas nas revistas Disney regulares no país.