A trilha sonora meio infantil é acompanhada de uma filmagem panorâmica, sob as frias planícies, montanhas cobertas de neve e gelo. A fita orquestrada por Ace Hannan (aka Jack Perez) tenta trazer uma sobriedade e uma visão de mundo bastante civilizado, onde homem e natureza convivem harmoniosamente, mas somente até a página 15, uma vez que as ações humanas são catastróficas para a ocorrência da vida no planeta.
Blocos dantescos de gelo se derretem, enquanto em imersões na água atlântica, são mostradas hordas e mais hordas de tubarões, desde os brancos, cinzas, martelos e tantos outros, além de mamíferos, baleias que encantam os olhares dos personagens, que até então não são completamente estúpidos. O público menos atento aos detalhes da produção é capaz até de ser enganado quanto ao gênero deste Monstros Marinhos.
Quando o submarino de última geração mergulha tanto nas profundezas que encontra um ser de proporções titânicas, a chave é virada e toda a abordagem muda, inclusive o cenário varia após o início/epílogo. Uma espécie de polvo ataca uma estação de tratamento de petróleo, e após o apagar das luzes é mostrada uma criatura gigante, encalhada na praia, fruto de uma disputa, certamente, mas sem origem conhecida. Claramente isso não importa, o que realmente é ressaltado é a briga entre os homens, protagonizada por Emma MacNeil (Deborah Gibson) e Dick Ritchie (Mark Hengst), o que já deixa claro que o homem não conseguirá seguir na coexistência pacífica, uma vez que Emma é mulher das mais bisbilhoteiras, até pela natureza de seu ofício como… isso não fica exatamente claro, ela é uma amante dos oceanos.
O fato preponderante para entender a história é que seres descomunais, a muito adormecidos, finalmente despertaram, após terem suas sepulturas geladas violadas, graças talvez ao aquecimento global, algo que os cientistas sempre usam para alertar a população, mas que a humanidade insiste em ignorar. Como um grito panfletário travestido de filme B, a fita faz sua propaganda, mostrando um enorme Polvo e um Tubarão muito maior que um jato comercial, e capaz de dar saltos a muitos milhares de pés acima da linha oceânica.
São na verdade dinossauros, antigos como o mundo, que adormeceram desde o tempo em que dominavam o planeta, e que retornariam para tentar reaver seus tempos gloriosos. E qual seria o papel do homem neste jogo fadado ao fracasso, se não perecer diante das criaturas poderosíssimas? A resposta do parco roteiro era a de que o humano é um coadjuvante no certame, já que nenhum dos humanoides é tão bem concebido quanto os seres gigantes, que mal aparecem em tela. A despeito até do começo tímido e pouco escapista.
Logo uma junta de cientistas, que inclui em seus esforços Emma – após quase metade do filme se entende qual é a profissão desta – é cooptada pelo governo, levados de modo agressivo para uma instalação militar para verificar um modo de impedir as tais criaturas de vencer o homem em seu território. Claro, a plataforma é bem próxima ao mar, pois é ótimo habitar perto do perigo, e claro, mesmo sendo vigiados pelas autoridades, os indivíduos de jaleco conseguem tempo para a “sarração”, que logicamente lhes dá uma ideia maravilhosa, atrair os seres com feromônios.
O valor espiritual de Emma é testado a todo momento, e ante até a figura máxima de autoridade, vivida pelo militar Allan Baxter – interpretado pelo imortal Lorenzo Lamas – o talento da moça é valorizado, talvez numa referência a carreira de cancioneira de Debbie Gibson. Fato é que suas aventuras por dentro dos oceanos são reativadas, e lá ocorrem batalhas nos CGIs mais vagabundos possíveis, com cenas intercaladas de dentro dos pódios submarinos do alto comando, com shows repletos de atuações toscas e claro, tubarões em efeitos tridimensionais com textura semelhante a isopor molhado – super condizente com o maravilhoso modo que o roteiro é guiado.
No entanto, mesmo com toda a cretinice do roteiro, a solução encontrada pelos homens é muitíssimo condizente com a realidade, com posturas belicistas e tentativas de utilização de artigos nucleares para fazer valer a força, sob o pretexto pobre de que esta execução tencionaria salvar vidas. O artifício de usar fáceis soluções para problemas sérios é utilizado largamente na realidade, e o é assim nesta fita.
Depois de mais uma leva de embromação, encontra-se uma solução amenizada, de união entre nações, visando vencer o inimigo em comum que o ser humano tinha. Nesta utópica união, decide-se por um plano um bocado louco, mas que em um universo completamente descacetado como este poderia funcionar, que seria reunir os dois monstros gigantes para se embater, dando fim a existência de ambos, preferencialmente.
Como era de se esperar, a fita termina sem grandes consequências, tanto para a humanidade, quanto para as criaturas pré-históricas, que vão para as profundezas oceânicas, descansar mais uma vez e se preparar para mais uma agressão ao bicho homem, que teima em pôr questões básicas e fofas, como o amor e a amizade acima até de sua sobrevivência e do posto de líder inconteste da cadeia alimentar terráquea.