Resenha | São Jorge: Soldado Do Império – Volume 1

Sao Jorge - Volume 1

Misturando mito com pesquisa histórica, Danilo Beyruth reconta as histórias que envolvem o soldado romano Jorge, numa imaginação moderna do conto religioso que envolve sua personagem em uma intricada rede de conspirações. No prólogo, o autor demonstra em poucas páginas o cunho da publicação, pautado em uma violência moderada e causada por bestas somente presentes nas histórias de fantasia.

O contraste entre as vestimentas pomposas do exército romano e os rostos cansados dos militares de patente baixa serve de alegoria a um império que já foi muito rico e capaz, mas que atravessa uma derrocada, em franco declínio, direcionado a uma ruína econômica e administrativa que já se reflete no campo de batalha e na política. O grafismo presente nas batalhas faz lembrar os livros medievais de Bernard Cornwell, claro, com prudência um pouco maior, mas ainda assim sanguinolenta, facilitada pela ausência de cor. O guerreiro Jorge mostra-se bastante contrariado com o Império, que insiste em armar guerras entre eles próprios, sob a acusação de que o soberano do Egito seria um pária, um traidor da causa romana. Em seu discurso, há uma crítica ao modo injusto como era conduzida a sucursal.

O panorama realístico causado pelo belo traço de Beyruth, padronizado em todo o cenário político envolvido nos diálogos entre personagens, faz com que o contraste e o choque de realidade sejam ainda maiores nas aparições do dantesco ser reptiliano. As dilacerações causadas pelo monstro são assustadoras e envolvem membros decepados encontrados em lugares ermos. Uma conspiração é executada para retirar o poder de Jorge em razão de sua contestação do modo de governar dos romanos.

Designado para investigar um sumiço qualquer de animais de camponeses, o tribuno Jorge é enviado sozinho a uma aldeia para checar uma situação estranha de uma suposta criatura – nomeada pelo povo como um dragão – que teria arrasado suas terras e comido seu gado, além de ter destruído inúmeras fazendas. O guerreiro mostra-se incrédulo ante a possibilidade dos ataques terem sido impingidos por esta besta, e, a contragosto – mas servil –, põe-se a investigar o relato estranho dos aldeões com o auxílio de uma moradora, a pessoa que mais perto aproximou-se da criatura.

Jorge se surpreende ao atravessar um rio e ser atacado por um crocodilo gigante, que abocanha o burro que o auxiliava com uma única mordida. Ao tentar atacar o animal com um lança, falha em todas as investidas, graças à carapaça escamosa do animal. Seu extenso tamanho o assusta de início, mas sem tempo para ficar amedrontado, o bravo guerreiro segue atacando-o, com o final do embate deixado para o segundo volume da publicação. A história pensada por Beyruth continua em A Última Batalha, onde o estratagema que tornou sua figura famosa finalmente ocorre. Este primeiro volume serve para ambientar o público dentro do ethos do personagem, pincelando elementos que o transformariam em figura canônica e venerada por inúmeros fiéis.

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