Ás vésperas de quase perder os direitos de transmissão cinematográfica, o estúdio New Horizons teria que fazer as pressas um filme o mais barato possível sobre o primeiro grupo de super-heróis dos quadrinhos estadunidenses. Recaiu sobre Roger Corman produzir a fita que seria conhecida por suas condições paupérrimas, cujo orçamento baixo garantiu algumas saídas interessante para o roteiro já bastante combalido.
O responsável pela direção é Oley Sassone, cuja experiência anterior foi em filmes pouco conhecidos, como Vingança Extrema (com Don The Dragon Wilson) e A Grande Fuga (com Cynthia Rothrock), o que demonstra que o autor tinha intimidade e experiência ao trabalhar com sub-celebridades. Seu elenco não continha estrela alguma, e começava pondo frente a frente dois amigos, estudantes universitários que tinha livre acesso a uma laboratório equipado com material de alto custo, sem qualquer justificativa plausível para tal, além da audácia dos jovens. Os personagens atendiam pelos nomes de Reed Richards (Alex Hyde-White), um bravo e inteligente aspirante a doutor, que mesmo com toda sua perícia intelectual, não impediu seu amigo, Victor Von Doom (Joseph Culp) de ser queimado vivo, por raios vagabundos de chroma key.
Reed aprendeu sua lição, ganhando cabelos grisalhos com a experiência que teve. Não satisfeito em queimar seu melhor amigo, o “cientista” decide viajar ao espaço, munido de seu fiel escudeiro, Ben Grimm (Michael Bailey Smith), um robusto rapaz que resolve incluir na perigosa missão os gêmeos nada idênticos Joe (Jay Underwood) e Sue Storm (Rebecca Staab). A interação da loira com Reed é automaticamente romântica, sem nenhuma preparação prévia para o romance. Está formado o grupo de elite, intitulada pela loura mulher como Quarteto Fantástico.
Com o foguete prestes a ser lançado, algo parece capaz de fazer tudo dar errado. Uma figura obscura observa tudo, e manda um tosco personagem rastejante atrás dos heróis. O nome do vilão é Doutor Destino, e seu plano é tornar a viagem espacial repleta de isopor, papelão e papel machê dar errado. Os tripulantes tem um encontro cósmico com uma anomalia, que consegue referenciar vergonhosamente o clássico kubrickiano 2001, com luz fluorescentes invadindo seus corpos, anunciando a explosão e consequente morte dos nada carismáticos personagens, acompanhado pelos olhos de um tirano que assistia tudo de seu palácio de tingido por cores gritantes e fogo artificial, feito de papel celofane.
Miraculosamente os quatro viajantes sobrevivem, e chegam a Terra, sem maiores complicações de saúde, aparentemente. Johnny, ao brincar com seus amigos espirra, fazendo um arbusto entrar em combustão, Sue desaparece em pleno ar, enquanto Reed estica o próprio braço, em busca de salvar a amada de um tombo feio. Os jovens ficam aterrorizados, piorando muito quando descobrem a transformação física de Benjamin em uma criatura monstruosa de borracha, uma verdadeira Coisa.
Ben é posto em testes laboratoriais, invertendo o paradigma antes imposto por Reed de ser o analista de espécimes estanhos, deixando-o magoado por ver seu amigo como uma reles cobaia. O revés vem logo em seguido, com os irmãos e o gênio invadindo as instalações militares atrás de seu amigo feito de massa de modelar.
Logo, o real vilão aparece, unicamente para pôr os heróis em ação, com ações físicas do Coisa, rajadas de fogo em animação stop motion do futuro Tocha-Humana e com um conceito completamente errado do que seria a invisibilidade da Mulher Invisível, confundida com intangibilidade e teletransporte.
O grupo percebe que pode usar seu defeito para fazer bem e trabalhar em prol da justiça, subvertendo o discurso anárquico visto no debochado vídeo Feira da Fruta, tornando o discurso heroico clássico em algo atual novamente, em plena era das trevas dos quadrinhos. Para piorar a situação, Reed descobre que quem anda arquitetando contra si e seus companheiros é seu antigo amigo dado como morto.
Curioso é que, onze anos após o tosco filme de Corman, a Fox usaria a mesma motivação estúpida para o vilão tirânico, reprisando a vergonha de descaracterizar completamente o ditador da Latvéria, repetindo até a aliança profana entre Doom e o Coisa, desde a ameaça de ambas as forças unidas, até o retorno do monstro a forma humana, fazendo perguntar se o filme de Tim Story não seria uma refilmagem oficial do clássico noventista.
Doom faz um discurso evocando a culpa no coração do Senhor Fantástico, por ter a dez anos causado o infortúnio de deformá-lo externamente, o que garantiu a sua moral uma íngreme descida, tão baixa que o tornou um lunático capaz de usar um cobertor verde desfiado como vestimenta, além de uma máscara de plástico que o faz ser incapaz de ser de ser entendido sem legendas. Claro que o estratagema dá errado, uma vez que o vilão ardiloso não calculou que o seu elástico adversário seria capaz de alcançar facilmente a máquina do mal, com seu pé que estava solto.
Após uma longa conversa, a beira de um precipício, o vilão clama o amigo a se entregar junto a ele em uma aventura de luxúrias maléficas, claro recusado pelo herói, que o deixa cair para a morte, mesmo com seus poderes de elasticidade. O “melhor” fica para o final, com uma sequência de Tocha-Humana, toda realizada em animação, detendo o raio da morte de Doom e salvando a cidade.
Os parcos noventa minutos de fita ainda permitiram uma cena epilogar, mostrando o casamento de Reed Richards e Sue Storm, firmando o compromisso da fita com a tosqueira, ao exibir através do teto solar da limousine, um braço esticado, fruto da junção de duas vassouras, coladas provavelmente com esparadrapos ou qualquer substância colante barata. Não à toa a Marvel tentou banir o filme, que mesmo com todo o caráter debochado, consegue apresentar uma divertida faceta do mundo dos super-heróis, infelizmente com trinta anos de defasagem e com efeitos especiais condizentes com os dos anos 1960.