O grupo de aventureiros acabava de chegar em Terminus, emboscados em uma estranha cilada, que revelaria ainda uma gama de horrores inimagináveis. A quinta temporada de The Walking Dead começaria mais agressiva que o normal, tentando emular o tom adulto visto nas publicações em quadrinhos. Rick Grimes (Andrew Lincoln) e sua trupe se veem em sérios apuros, torturados e massacrados por homens cruéis que fazem uso de técnicas medievais para humilhar os prisioneiros, em cenas inspiradas nas publicações de Robert Kirkman e no aspecto visual de Massacre da Serra Elétrica, especialmente na imundície ao redor e na violência gráfica, priorizando o grotesco e o improviso.
Do lado de fora, Carol (Melissa McBride) e Tyresee (Chad L. Coleman) carregam a pequena Judith. Símbolo máximo da esperança, a menina os inspira a tentar “recapturar” o grupo antigo de companheiros, e uma missão de resgate ocorre de maneira bastante visceral. A apologia ao consumo de carne humana prossegue através do grupo de canibais, que até fazem lembrar o terror das hqs, mas de um modo bem suavizado e menos impactante.
A intenção de consertar os próprios erros fica evidente no roteiro filmado, já que a partir do episódio terceiro há sempre o resgate do passado, em flashbacks, mostrando como alguns personagens chegaram àquele ponto. Entre eles estão Beth (Emily Kinney), Abraham (Michael Kudlitz) e Eugene (Josh McDermitt), em uma das melhores subtramas dos quadrinhos, bem orquestrada por Ernest R. Dickerson, além de retomar o tema de expulsão de Carol, mesmo após sua reconciliação com Tyresee e Rick.
No entanto a superficialidade impera nos traumas expostos e trabalhos pré-mid season, pois todos os arquétipos montados até então remetem à construção do choque, típico dos outros anos, onde a comum artificialidade se une à dissimulação básica de fazer o público ficar atônito para esconder a pobreza da abordagem.
Na segunda metade do ano, o panorama muda bastante, com o acréscimo de Aaron (Ross Marquand) e sua oferta para que os remanescentes dos aventureiros se reúnam a ele em Alexandria. A transposição de toda a paranoia de Rick e dos outros é muito bem executada, e demora-se bastante para que a decisão seja finalmente tomada.
Uma vez nas paragens tranquilas, Grimes finalmente relaxa, abrindo mão de sua barba cerrada e deixando que Jessie (Alexandra Breckenridge) corte seus cabelos, cedendo finalmente aos encantos femininos, mesmo que de modo não sexual. A reprimenda ocorre no comportamento de Daryl (Norman Reedus), que segue caçando gambás e dormindo do lado de fora das casas, não se adaptando à paz que antes buscavam. Daryl serve como o sentimento de desconfiança do antigo xerife, que não se permite relaxar mesmo diante da mudança de condições de vida, tornando-se refém da sensação fugaz de segurança. A readaptação não é fácil, especialmente no momento em que começam a cooperar profissionalmente para a nova sociedade.
A paz que habita Alexandria é cortada pelos abusos de um homem que abusa da própria esposa, e que concentra a raiva de Rick. Logo, a real face do grupo é mostrada, predominando então as certezas a respeito da parte mais odiosa da natureza humana, ligada ao egoísmo mútuo. A quinta temporada, a mais fiel, guardadas as devidas proporções dos rumos dos personagens mostrados até então, termina com um enorme gancho para as próximas aventuras, mas segue carecendo de um vilão realmente interessante, sobrando a possibilidade de Negan ser o próximo antagonista, justificando então a vilania interessante dos escritos de Charlie Adlard e Kirkman, gerando também um sem número de especulações.
No entanto, a expectativa do público ainda permanece não alcançada, exceto, é claro, pela horda de fanboys, incluindo o público no Brasil, formado por grande parte de pessoas que não têm qualquer ideia de quem é George A. Romero, Greg Nicotero, Tom Savini, Lucio Fulci e afins. A espera pelo próximo ano ocorre com a vontade de que o texto seja menos requentado e apresente alguma novidade, de preferência sem estragar as boas sequências dos quadrinhos.