Após um término extremamente desonesto da sexta temporada, The Walking Dead retorna com um episódio sensacionalista e acachapante, causando nos aficionados a sensação de perda que é comum a tantos fãs de outras séries, que veem os personagens pelo qual se apegaram finalmente perecer. Apesar de muito elogiado à época, The Day Will Come When You Won’t Be não foge muito aos defeitos que tornaram o programa me algo desinteressante após desgastantes sete anos de repetições e enganações ao seu público.
Negan, vivido por Jeffrey Dean Morgan consegue ser exatamente o que não foi o Governador e demais vilões explorados até aqui. Sua crueldade é semelhante a vista nos quadrinhos de Robert Kirkman e ele é um bom nêmeses para Rick (Andrew Lincoln), ainda que todos os eventos nesse início da temporada sejam de uma covardia narrativa atroz, fazendo metáfora bíblicas oportunistas, que visam esconder a pobreza do roteiro em geral, através normalmente do choque.
A formula que já tinha desgastado os espectadores com o mínimo de senso crítico dessa vez fez perder a paciência até entre os fãs contumazes do folhetim. A exploração de outras comunidades esbarra em duas questões pontuais e complementares: a primeira é a questão de não haver um aprofundamento mínimo em seus dramas aliada claro a falta de substância no background dos mesmos; a segunda é a falta de tempo dedicada a eles, uma vez que o grupo de Rick já tem tempo de exibição o suficiente para até forçar a intimidade com o público, ao ponto desse ainda se importar com algumas de suas tramas novelescas.
Há duas exceções pontuais dentre essa mediocridade dramatúrgica, que é o do já citado Negan que vive um bom vilão, e da heroína falida Rosita (Christian Serratos), que muda radicalmente após o massacre que Negan propõe e se torna uma imitação do que seria Andrea nos quadrinhos, um mulher forte, resoluta, violenta e que não tem medo de encarar os desafios propostos. Até suas lamentações fazem sentido, característica essa que a faz ser a mais humana das protagonistas, além de denunciar a terrível construção textual em volta de Daryl (Norman Reedus), Maggie (Lauren Cohan), Carol (Melissa McBride) e demais sobreviventes veteranos. São absolutamente apagados e sem qualquer momento de brilho ou justificativa de heroísmo.
O que resta de positivo a sétima temporada de The Walking Dead é sensação de finitude causada por Negan, sendo este o antagonista mais forte até então. Mesmo com esse acréscimo a trama, o desfecho segue a tradição de terminar os anos do seriado com uma situação esdruxula e inesperadamente ruim, tendo um elemento deus ex-machina dos mais oportunistas vistos até então na televisão americana, arrastando mais uma vez o destino do inimigo para um outro ano, provando que os produtores de TWD não aprenderam nem com os erros anteriores e nem com a baixa de audiência que esse último ano teve.
The Walking Dead talvez seja o produto televisivo recente mais discutido da cultura pop quanto a qualidade de seu texto. A adaptação seriada dos quadrinhos de Robert Kirkman conseguem reunir inúmeros “poréns” em qualquer discussão entre aficionados, mesmo sendo o maior expoente da recente zumbie xploitation que tomou a atenção do espectador comum nos últimos anos. Diante da qualidade discutível de seus motes, as temporadas funcionam como uma gangorra, começando mal em alguns pontos, como na quinta temporada, melhorando ligeiramente, até a season finale. Um conceito evidente em The Walking Dead – 5ª Temporada.
O ponto de partida do sexto ano é a comunidade pacífica onde o grupo de Rick Grimes (Andrew Lincoln) se instalou nos últimos episódios. O estado de paz logo foi cessado, no último capítulo, e o início da abordagem varia entre momentos presentes, onde as cores predomina, e outros pretéritos, registrados em preto e branco.
A exploração de dramas segue a cansativa fórmula de expor novos personagens (que sequer tiveram tempo para gerar empatia) sendo massacrados em situações que deveriam evocar emoção. Demora muito a se resolver questões relativas aos personagens realmente importantes, fazendo assemelhar ainda mais o seriado as piores novelas televisivas recentes. Os defeitos servem para ratificar a covardia dos produtores em não inserir os queridos pelo público em situações limite, deixando estes em suspenso, quase o tempo todo, deixando o “trabalho sujo” sempre para os novatos.
O terceiro episódio tenta romper com isso, deixando em suspenso a participação de um dos personagens mais carismáticos, que por acaso, havia falecido perto desse período na HQ. Até mesmo este destino, do asiático Glenn (Steven Yeun) é postergado em relação a sua resolução, não deixando claro o que houve com ele a fim de manter suspense e deixar a audiência nervosa com a situação.
O aspecto interessante, que demora a ser explorado, é a estranha incursão de Carol (Melissa McBride), e outros personagens desimportantes, a busca de novos recursos, deixando um rastro de sangue (humano) enorme, gerando também uma discussão a respeito da necessidade daqueles assassinatos. Ainda segue incongruente o fato de o ano terminar naquele vilarejo “pacífíco”, e este começar sem deixar claro o que houve lá.
Muitos episódios são executados unicamente para recontar origens de personagens, como em Here´s Not Here, a qual mostra a trajetória de Morgan (Lennie James) desde a ultima aparição até a reunião com o grupo, o que na verdade é um pretexto para mais uma história fraca de redenção onde ocorre um remake adulto do Karatê Kid de Jayden Smith.
Os quatro último episódios antes da mid season se focam em tentar gerar polêmicas instantâneas, desconstruindo as mortes bem pensadas anteriormente, compondo um quadro repleto de anti clímax, e de manobras dramatúrgicas baratas, que primam pelo sensacionalismo tosco, pautado em repetição e enrolação.
O oitavo e derradeiro episódio começa com a queda dos muros de Alexandria, o que interfere – mais uma vez – na zona de conforto dos sobreviventes. O paradigma se repete, exatamente como havia sido no primeiro acampamento, na prisão e em outros momentos do programa. A repetição segue até depois do retorno dos episódios, que revelam mais um argumento com interferência externa, como se já não houvesse deus ex machina o suficiente no seriado.
Já nesse episódio, ocorre a famigerada cena em que Carl (Chadler Riggs) é alvejado no olho, mas ao invés disso ocorrer por culpa de seu pai, terceirizam a responsabilidade que recai sobre um dos muitos personagens genéricos citados anteriormente na temporada. Após isso, ao invés de haver um enfoque nas emoções presentes no contexto traumático da cena, se dá vazão a mais violência, com um show de pirotecnias, onde praticamente todos os ainda humanos chacinam os zumbis, ignorando por completo a essência da hq, que primava pela questão de que eram os homens normais a quem se devia temer. A vontade de manter tudo inalterado é grande. No episódio seguinte é mostrado o rapaz, transitando normalmente, discutindo brevidades como uso de pasta de dente nestes tempos de racionamento, com um curativo no olho, lidando com seu pai e nova madrasta.
George Romero utilizava seus zumbis para evocar questões fortes como o consumismo e luta de classes em Despertar dos Mortos, dificuldades em lidar com a evolução, convívio entre pessoas de diferentes ideologia, em A Noite dos Mortos Vivos e Dia dos Mortos, principalmente. Com o exploitation recente, o tema se banalizou, como antes tinha ocorrido com os vampiros e com os livros de Stephenie Meyer. O que não era esperado é que um seriado baseado numa história em quadrinhos seria pretexto para mostrar casais shippados ao invés discutir a sobrevivência de todos.
As tentativas de fazer a ação são pífias, com cenas que emulam vídeo game e tiroteios em portas de plásticos que não deixam qualquer rombo, somente furos do tamanho de agulhas, coroadas por filmagens que emulam vídeo games, sobrando até sangue na lente das câmeras que registram os momentos risíveis de guerra.
A covardia segue como tônica, enrolando até o último minuto para finalmente revelar Negan, para explorá-lo o mais perto possível do começo da outra temporada. O ultimo episódio – décimo sexto – começa a partir do conveniente e tosco cliffhanger do anterior, onde um dos personagens principais principais é alvejado por um tiro. A ordem dos fatos é burocrática ao extremo, com uma demora imensa. Jeffrey Dean Morgan aparece nos 20 minutos finais, em um episódio duplo, o que demonstra a total insegurança dos produtores. Ainda assim, sua personificação é bem fiel aos quadrinhos.
O suspense produzido por escolher um personagem resulta em uma cena sem padrão, tosca e imbecil em tudo o que se propõe, covarde como havia sido o final da terceira temporada. A saída é tão oportunista que nos faz perguntar se os roteiristas sabiam como prosseguir com a história de tão patética as escolhas. Nem a recente melhora mínima da quinta e quarta temporadas foram respeitadas, ao contrário, o desfecho segue anti climático e vergonhoso, mesmo para os padrões que The Walking Dead estabeleceu com seu fiel e coitado público.
O grupo de aventureiros acabava de chegar em Terminus, emboscados em uma estranha cilada, que revelaria ainda uma gama de horrores inimagináveis. A quinta temporada de The Walking Dead começaria mais agressiva que o normal, tentando emular o tom adulto visto nas publicações em quadrinhos. Rick Grimes (Andrew Lincoln) e sua trupe se veem em sérios apuros, torturados e massacrados por homens cruéis que fazem uso de técnicas medievais para humilhar os prisioneiros, em cenas inspiradas nas publicações de Robert Kirkman e no aspecto visual de Massacre da Serra Elétrica, especialmente na imundície ao redor e na violência gráfica, priorizando o grotesco e o improviso.
Do lado de fora, Carol (Melissa McBride) e Tyresee (Chad L. Coleman) carregam a pequena Judith. Símbolo máximo da esperança, a menina os inspira a tentar “recapturar” o grupo antigo de companheiros, e uma missão de resgate ocorre de maneira bastante visceral. A apologia ao consumo de carne humana prossegue através do grupo de canibais, que até fazem lembrar o terror das hqs, mas de um modo bem suavizado e menos impactante.
A intenção de consertar os próprios erros fica evidente no roteiro filmado, já que a partir do episódio terceiro há sempre o resgate do passado, em flashbacks, mostrando como alguns personagens chegaram àquele ponto. Entre eles estão Beth (Emily Kinney), Abraham (Michael Kudlitz) e Eugene (Josh McDermitt), em uma das melhores subtramas dos quadrinhos, bem orquestrada por Ernest R. Dickerson, além de retomar o tema de expulsão de Carol, mesmo após sua reconciliação com Tyresee e Rick.
No entanto a superficialidade impera nos traumas expostos e trabalhos pré-mid season, pois todos os arquétipos montados até então remetem à construção do choque, típico dos outros anos, onde a comum artificialidade se une à dissimulação básica de fazer o público ficar atônito para esconder a pobreza da abordagem.
Na segunda metade do ano, o panorama muda bastante, com o acréscimo de Aaron (Ross Marquand) e sua oferta para que os remanescentes dos aventureiros se reúnam a ele em Alexandria. A transposição de toda a paranoia de Rick e dos outros é muito bem executada, e demora-se bastante para que a decisão seja finalmente tomada.
Uma vez nas paragens tranquilas, Grimes finalmente relaxa, abrindo mão de sua barba cerrada e deixando que Jessie (Alexandra Breckenridge) corte seus cabelos, cedendo finalmente aos encantos femininos, mesmo que de modo não sexual. A reprimenda ocorre no comportamento de Daryl (Norman Reedus), que segue caçando gambás e dormindo do lado de fora das casas, não se adaptando à paz que antes buscavam. Daryl serve como o sentimento de desconfiança do antigo xerife, que não se permite relaxar mesmo diante da mudança de condições de vida, tornando-se refém da sensação fugaz de segurança. A readaptação não é fácil, especialmente no momento em que começam a cooperar profissionalmente para a nova sociedade.
A paz que habita Alexandria é cortada pelos abusos de um homem que abusa da própria esposa, e que concentra a raiva de Rick. Logo, a real face do grupo é mostrada, predominando então as certezas a respeito da parte mais odiosa da natureza humana, ligada ao egoísmo mútuo. A quinta temporada, a mais fiel, guardadas as devidas proporções dos rumos dos personagens mostrados até então, termina com um enorme gancho para as próximas aventuras, mas segue carecendo de um vilão realmente interessante, sobrando a possibilidade de Negan ser o próximo antagonista, justificando então a vilania interessante dos escritos de Charlie Adlard e Kirkman, gerando também um sem número de especulações.
No entanto, a expectativa do público ainda permanece não alcançada, exceto, é claro, pela horda de fanboys, incluindo o público no Brasil, formado por grande parte de pessoas que não têm qualquer ideia de quem é George A. Romero, Greg Nicotero, Tom Savini, Lucio Fulci e afins. A espera pelo próximo ano ocorre com a vontade de que o texto seja menos requentado e apresente alguma novidade, de preferência sem estragar as boas sequências dos quadrinhos.