Roteirista responsável por revitalizar o Terror na década de 90 com Pânico e Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, Kevin Williason sempre trabalhou na televisão antes mesmo da retomada de grandes séries. Na citada década de 90, desenvolveu o açucarado Dawson´s Creek e, desde então, desenvolveu projetos de televisão sem muito impacto.
Estrelado por Kevin Bacon, ator estreante em uma série televisiva, The Following constrói a relação fundamentada entre lados opostos da lei entre o investigador Ryan Hardy e o serial killer Joe Carrell. Conhecido como Marco Antônio na série Roma, da HBO, James Purefoy é o seguro professor de literatura apaixonado pela obra de Edgar Alan Poe, contista e poeta romântico que morreu na miséria como muito de seus personagens. Após a estreia em um romance criticado pelo público, o professor Joe Carrell se transforma em um assassino serial, utilizando a filosofia de Poe como base. Após 14 assassinatos, Joe é preso por Hardy.
A ação começa com Carell fugindo da prisão que esteve nos últimos dez anos e o retorno obrigatório de Hardy ao FBI para ajudar na caça ao fugitivo. A relação anterior entre as personagens é apresentada em flashbacks que constroem a narrativa enquanto a nova investigação se desenvolve em tela. A história peca em dar maior dimensão para estes fatos sem aprofundá-los na filosofia de cada um. Trata-se de uma história policial padrão formatada para o entretenimento, com arroubos de violência sem agressividade exagerada ou muito cerebral.
Mesmo sem um brilhantismo imediato em sua trama, a série não poupa ações e explora muitas reviravoltas ainda que, por conta desse mesmo aspecto, ao fim da temporada seja visível o esgotamento de revelações e a necessidade de sempre trazer nova surpresa. Em geral, tudo parece muito simples e bem desenvolvido, sem nenhum empecilho natural. É necessário assistir à série com o alerta de ficção ligado para não se incomodar com ganchos que prejudicam a todo momento o policial Hardy.
Dizem que na narrativa policial, os feitos são compostos à altura da criatividade de seus autores, e Williamson compõe um personagem que não parece nada inteligente com a fama que se pressupõe de um detetive que estudou o serial killer: compôs um livro sobre seu perfil e goza do prestígio de ter sido responsável por levá-lo a prisão. Como é costumeiro nestas narrativas, o personagem é um homem decadente, alcoólatra e incapaz de se conectar com outros devido ao trauma do passado. O período em que permaneceu afastado do FBI não lhe impediu, porém, de manter uma habilidade certeira e mortal em qualquer confronto com armas. O cansaço da personagem é aparente na interpretação de Bacon, com uma prosódia baixa e interiorizada de um policial que não acredita mais em seu ofício.
James Purefoy, por outro lado, se destaca pela precisão e o carisma do serial killer, ainda que possua um plano elaborado e muito bem articulado somente para se vingar do policial que interrompeu seus assassinatos, considerados como pequenas obras de arte.
De fato, o destaque da série se deve à base inspiradora dos assassinatos. Utilizar um literato romântico como Edgar Allan Poe é um interessante argumento que demonstra a potência de sua narrativa. Poe foi o pai moderno do Terror e da literatura policial e tinha uma visão específica sobre a humanidade. Seus versos e contos dão vazão aos medos humanos e a um amor mórbido que sempre encontrava na morte uma passagem para a união. Williasom foi competente em explorar este fato como base mas falta profundidade psicológica suficiente – que talvez transformaria a série em uma história mais adulta e, com isso, com menos público – para as ações de cada personagem. Assim, as motivações de cada um em promover uma seita com os feitos de Caroll parecem aleatórias, ainda mais quando estão reunidos em uma mansão, isolados do resto do mundo. Afinal, estas personagens não possuem nem mesmo uma falsa vida com famílias e trabalhos para prestarem contas?
A frivolidade da seita é explícita também na facilidade em utilizar qualquer tipo de arma, principalmente armas brancas, e agredir qualquer um que esteja no caminho. É difícil ter credibilidade quando muitos ganchos usam a personalidade insegura de cada um para promover assassinatos sem nenhum drama.
Mesmo desequilibrados, a força das personagens e o fascinante tema de um assassino serial e sua ceita são capazes de manter uma primeira temporada interessante, ainda que seja evidente a fragilidade de alguns pontos de tensão que deveriam ser melhores explorados se esta história não estivesse, acima de tudo, a favor de um produto televisivo que visa o alcance do público.
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