Usando a fama de John Stewart para iniciar a discussão que achincalha com os “pecados” do cineasta que deu luz aos sonhos de muitos nerds, Alexandre O. Phillipe leva seu documentário à frente dando vazão a um sentimento que perdura até a atualidade. O Povo Contra George Lucas é uma manifesto sério, com pitadas de comédia e deboche como modo de defesa do aficionado em relação ao criador de tudo.
Phillippe mostra imagens de arquivo da juventude do diretor de Star Wars, desde suas pretensões em cinema, até a mercantilização de sua arte, focando nos métodos que ele usaria para modificar as tratativas dos cineastas junto a tecnologia, inaugurando assim um novo estilo.
O modo como o documentarista mostra a subcultura iniciada a partir da obra de Guerra nas Estrelas é focando em produtos feitos por seus fãs, desde fan films mais sérios, até iniciativas mambembes e jocosas, que funcionam como tributo à obra tão adorada e laureada, o que serve de extremo oposto às alterações propostas na versão da edição especial de 1997, a qual o grupo de fãs basicamente apoiava graças aos avanços em termos gráficos. O engano começaria a ser desbaratado na cena acrescida com o mafioso Jabba sendo pisoteado na cauda por Han Solo, para depois evoluir ao maior problema, visto em Greedo atirando primeiro, e mais um montante de easter eggs que se tornam realidade, retirando toda a ousadia que fez da trilogia algo único.
A duvida e insegurança passaram do artista para o público, já que seus filmes pareciam sempre necessitar de novas mudanças. As obras de arte, ao menos aquelas que se dão ao respeito, precisam “findar”, se bastar, pois se não ocorre isso, desdenha-se de seu espírito e caráter, como ocorre nas volumosas edições. O documentário tem argumentos tão bons que se torna impossível não culpar o criador da saga por todos os erros recorrentes, mesmo ao fã mais fiel e pouco contestador, principalmente por causa do desdém em mexer no material original, praticamente extinguindo o trabalho de edição oscarizado em 1977. Sem falar no serviço de inúmeros outros departamentos não premiados e, portanto, pouco lembrados.
Phillips piora a situação ao lembrar a participação de Lucas em protestos que combatiam a colorização de filmes em preto e branco. O mesmo defensor da memória do cinema mundial seria o sujeito que basicamente remexeria em seus sucessos antigos, e que se impediria de evoluir como cineasta para apenas virar um marqueteiro, um homem que usa sua marca apenas para ganhar dinheiro com brinquedos, camisetas e toda sorte de memorabilia.
É curioso notar no que o antigo diretor hippie anti-corporações se tornou, além de ver seus produtos estampando toda sorte de merchandising e fazendo parte das atrações do maior parque temático do mundo. Prova do quanto uma ideologia mal construída e mal fundamentada não resiste ao menor sinal de abalo.
Há um foco especial nas edições organizadas por fãs, bem como nas críticas à nova trilogia. O paralelo estabelecido culpabiliza de certa forma os fãs, por estarem tão ávidos por novas aventuras que sequer se deram ao trabalho de pedir boas histórias. A prova cabal de que o argumento está certo é a horda de fãs que acredita que as histórias eram bons momentos. O Povo Contra George Lucas evoca sentimentos muito fortes a respeito do biografado, sendo o da comiseração o pior deles, mais degradante até do que o ódio que o “personagem” causou nos seus antigos fãs. Mesmo diante da miséria e desprezo, o sujeito segue com algum prestígio junto às mesmas pessoas que foram maltratadas por suas atitudes puramente capitalistas.