Um dos grandes problemas ao se trabalhar com releituras de personagens, independente de sua mídia, está na dificuldade de se desenvolver conceitos originais para o universo em questão ou ainda na perda de identidade dessas personagens. A grande proposta das Graphic’s MSP, idealizada por Maurício de Sousa e o editor Sidney Gusman, está alicerçada justamente na ideia de propor reinterpretações das criações do Mauricio, sempre buscando um tom mais intimista e autoral, talvez com exceção apenas de Pavor Espaciar, do Chico Bento.
O grande problema de Turma da Mata: Muralha está na propositura de seu conceito maduro e autoral, algo que infelizmente deixa muito a desejar aos leitores que já haviam apontado certas irregularidades em algumas publicações anteriores, um fator que em Turma da Mata se torna mais evidente.
Muralha, história que se propõe a reinterpretar os queridos Jotalhão, Raposão, Coelho Caolho e cia., traz o trabalho artístico de Roger Cruz, nos desenhos, e David Calil, nas cores, e os roteiros de Artur Fujita, certamente o principal calcanhar de Aquiles desse trabalho.
Na trama, acompanhamos uma guerra envolvendo um rei tirano e a Turma da Mata envolta de um elemento natural chamado Calerium, o qual em contato com a água produziria vapor e seria o principal responsável pela geração de energia neste mundo, motivando embates políticos e possíveis guerras com sua escassez. Um argumento que se torna estopim para o desenrolar da história.
Ainda que este suposto elemento natural gere vapor e seja fonte de energia da trama, estabelecendo uma justificativa possível para termos uma história ambientada numa temática steampunk, Fujita deixa isto de lado, não fazendo a menor importância se estes recursos são o Calerium, petróleo ou carvão, já que isso não acrescenta em nada na trama. Felizmente, Cruz e Calil conseguem abordar um pouco dessa ambientação em seus cenários e na paleta de cores escolhidas. É verdade que a arte abusa dos dentes rangendo, caras raivosas e cenas de luta confusas, mas isso é o menor dos problemas de Muralha.
Os clichês típicos da jornada do herói estão presentes, dessa vez ambientados numa trama aos moldes do herói mítico inglês, Robin Hood. A suposta trama política deixa a desejar, não porque esperava um tratado político em formato de quadrinhos, mas algo minimamente bem trabalhado, quando na realidade o que temos à frente é apenas bobo e raso, e isso fica claro nos diálogos, personagens e roteiro como um todo. Diferentemente das histórias originais escritas pelo Maurício ou alguns de seus roteiristas.
Se o diferencial das demais graphic novels era a releitura das criações de Mauricio de Sousa, o mesmo não pode ser dito sobre a Turma da Mata. Personagens unidimensionais e pouquíssimos explorados em suas características e motivações próprias beirando o ridículo, como se demonstra na figura dos vilões da trama, sem qualquer carisma ou charme típico dos antagonistas de qualquer história de ação e aventura.
Com alguns poucos momentos de inspiração, a aventura se mostra extremamente decepcionante. Não se sabe ao certo qual era o objetivo dos autores, mas Muralha parece uma tentativa de emular os quadrinhos de heróis dos anos 90, infelizmente com o que se tinha de pior. A falta de identidade, foco e personalidade dá o tom à obra.
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