Um dos filmes romenos que mais se destacaram no final dos anos 2000, Casamento Silencioso tenta encontrar sentido ao contar uma história real inusitada. Em uma vila romena dos anos 50 que vivia sob o domínio soviético, um casamento é interrompido após notícias da morte de Stalin. Como os oficiais decretaram luto de uma semana, eles comemoram o evento de forma silenciosa para evitar chamar atenção das autoridades.
Para deixar mais palatável ao espectador a crueldade do ocorrido, o roteiro escrito pelo diretor Horatiu Malaele e Adrian Lustig recorreu ao burlesco para construir uma narrativa com leve tom de fábula. Os personagens são um dos pontos altos do filme, pois são tão únicos que acabam funcionando dentro daquele universo esquisito, que precisa ser daquele jeito para contrastar com a triste realidade que ocorre no final.
A atuação da maioria dos atores é caricata e canastra. Nenhuma atuação se sobressaiu, mantendo a coesão de apresentar todo o vilarejo como um grande personagem. Em relação à direção de Horatiu Malaele, é eficaz dentro do que se propôs. O estranhamento daquele universo é menos sentido devido ao tom de comédia. A direção melhora quando o casamento passa a acontecer sem som algum, homenageando o cinema mudo. É memorável a sequência do telefone sem fio.
Devido à crueldade que ocorre no final da narrativa, o espectador entende o tom do absurdo que o diretor optou. Malaele, como nós, usou a sátira para tentar compreender o que aconteceu: a reação desproporcional dos oficiais soviéticos com os habitantes de uma vila. A edição de Cristian Nicolescu e a fotografia de Vivi Dragan Vasili cumprem bem o seu papel, mas sem se destacarem.
Casamento Silencioso vale a pena pois é um filme diferente que discute o delicado tema do papel da Romênia sob domínio soviético.
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Texto de autoria de Pablo Grilo.
Nunca li uma crítica cinematográfica tão pouco fundamentada e tão com ares de “dentro dos padrões do bom cinema”. Que bom que o filme não foi feito dentro dos “altos” padrões de narrativa, direção e fotografia esperados. Talvez seja isso que o torne tão interessante.