Novo trabalho do jovem diretor Pedro Morelli, a coprodução (Brasil-Canadá) Zoom chega aos cinemas apresentando histórias interligadas que explicitam de maneira regular o recurso da metalinguagem e das multitelas.
Como um ouroboro – a serpente que morde a própria cauda – o filme de Morelli nos apresenta a quadrinista Emma (Alison Pill), uma jovem que trabalha numa loja de bonecas sexuais e tem na arte um escape para a não aceitação do próprio corpo. Em meio a transas com seu colega de trabalho durante o expediente, Emma também se dedica à criação de uma história em quadrinhos que narra as aventuras de Eddie, um cineasta de filmes de ação interpretado por Gael Garcia Bernal. Eddie tenta provar para o mercado que é capaz de dirigir um filme mais artístico e, para tal, escala Michelle (Mariana Ximenes) como protagonista de seu longa-metragem. Por sua vez, Michelle quer mostrar para o mundo que é mais do que um corpo perfeito. A modelo/atriz decide então escrever um romance, que nos conta justamente a vida de Emma, a quadrinista.
Temos assim um triângulo equilátero perfeito. Uma trama se desenrola (e interfere) na outra. É curiosa a escolha do diretor em trabalhar, inclusive, estilos diferentes em cada uma das narrativas que compõem o filme. Se a história de Emma tem ares de comédia nonsense de baixo orçamento, o arco de Michelle faz lembrar o cinema de ação dos anos 90, com suas plot twists e algumas explosões de gosto duvidoso.
O maior acerto aqui se dá justamente na trama interpretada por Bernal. Todo estilizado em quadrinhos, é esse segmento do todo que consegue de fato atingir o objetivo principal de um produto cinematográfico: entreter. Feito em rotoscopia, as cores, a fluidez do texto e timing cômico impressionam e falam muito sobre a personalidade da equipe por trás do projeto.
As atuações são um ponto bastante positivo. Embora Mariana Ximenes tropece em algumas cenas, é possível perceber o esforço da atriz ao interpretar uma personagem que também é atriz, em outro idioma e em um universo (roteiro) pouco crível. Alison Pill resolve bem suas cenas, mas é a menos desafiada pelo papel. Já Gael interpreta debaixo de camadas de recursos gráficos que ajudam a construir o universo dos quadrinhos. Ainda assim, o talento do ator fica evidente. São dele também os melhores parceiros de cena, o que contribui muito para sua boa performance.
Zoom está longe de ser um filme ruim. O problema aqui está na disparidade entre aquilo que o projeto promete e o que ele de fato entrega. Não é fácil para o espectador ‘cruzar a ponte’ entre territórios tão distintos e, por vezes, assistir às passagens de uma plot para outra torna-se um exercício cansativo e burocrático. No momento em que as três pontas do triângulo se cruzam, o longa ganha fôlego e possui seus bons momentos. Entretanto, as histórias individuais não se sustentam sozinhas. Sobra estilo, audácia, competência técnica e a assinatura de um diretor que não faz mais do mesmo. Mas falta a base para um bom filme: um bom roteiro.
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Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.