Nenhuma crítica é unânime. Sempre há uma parcela de obras clássicas, aclamadas em geral, canônicas, que suscitam certa dúvida em algum grupo: afinal, trata-se de uma boa obra ou de uma história que nunca foi questionada porque é considerada um clássico? A metáfora talvez não seja perfeita para ponderar quem foi Florence mas suscita uma pergunta semelhante: porque ninguém nunca a parou ou informou-a de sua péssima voz?
Dirigido por Stephen Frears com Meryl Streep (mais uma vez, indicada ao Oscar) Hugh Grant e Simon Helberg, Florence: Quem é Essa Mulher? é uma produção que se pauta em uma única cena com variações: sobre uma senhora da alta sociedade que acredita ser boa cantora, quando, na verdade, é incapaz de manter qualquer harmonia vocal. Vivendo como mecenas de artistas na sociedade de Nova York, Florence é o tipo de personalidade rica e influente que inibe qualquer sinceridade de seu marido ou círculo de amigos. Um grupo bajulador que parece evitar lhe contar sobre seus próprio problemas devido a uma aparente frágil condição de vida. Dessa forma, o longa permanece como uma espécie de drama monotemático em que o final, evidentemente, é óbvio para o público.
O roteiro de Nicholas Martin causa incomodo pela falta de uma gama maior de personagens. Parece inadequado que diante de amigos e conhecidos tão numerosos, falte um grupo que não se sinta incomodado com a farsa diante da senhora, decidindo lhe contar que seus talentos são limitados. A impressão que permanece é que Florence é uma mulher incapaz de perceber a realidade que a cerca, vivendo em um mundo projetado sem saber, de fato, quem são seus amigos. O tom farsesco da situação se foca no drama da personagem, explorando cenas de riso apenas para que o público se apiedasse de personagem. O mesmo sentimento que a Florence real deve ter transmitido em sua vida. Uma mulher excêntrica que todos tinham pena mas eram incapazes de destruir sua ficção fabular.
Em uma tônica semelhante a metáfora da história da Roupa Nova do Imperador, Florence é uma narrativa triste por debochar de alguém que desejava apenas uma parcela de reconhecimento e afeto. Ainda que exista em todos uma parcela de sonhos, é entristecedor reconhecer que todo o círculo de amigos da personagem alimentaram um mentira. A produção parece aceitar tal fato sem questionamento e, seguindo a tradição das biografias de Hollywood, produz uma trama formular com pequenos bons momentos sem parecer, de fato, integrar e se aprofundar na personagem. Como se tentasse representar o mito por de Florence, a tal cantora que gravou um disco com uma desafinação impar, mas não fosse capaz de compreende-la minimamente.
Como filme, a produção se assemelha ao círculo de amigos que rodeou essa mulher em vida. É uma farsa mal executada que, no fundo, também ri da personagem principal como se ela fosse apenas um argumento, um gancho narrativo qualquer.