Um dos temas mais recorrentes na história do cinema, sem dúvidas, são as neuroses humanas e suas derivações. De Psicopata Americano a Precisamos Falar Sobre o Kevin, o assunto já foi amplamente abordado e desdobrado em filmes que merecem a sua atenção e outros completamente esquecíveis. É nesta segunda seara que se enquadra Eu Não Sou um Serial Killer, do diretor Billy O’Brien.
Com uma premissa interessante, o filme começa nos apresentando o background vivido por John Wayne (homenagem?), um jovem outsider interpretado por Max Records (Onde Vivem os Monstros). A maneira sincera e sensata com que o ator se entrega a trama talvez seja o ponto mais alto da mesma. Acontece que, embora fique muito claro o interesse mórbido do personagem pela morte e tudo o que ela encerra, o roteiro não consegue definir uma linha de raciocínio que nos permita caminhar pelo devaneio de John de maneira consistente. Em alguns momentos, a fita ganha tons de humor completamente desnecessários (para não dizer incômodos) em um filme que aspira seriedade.
A família de John é dona do necrotério da cidade. Sendo assim, cadáveres são figuras de presença constante na vida do garoto. Esse contexto é brilhantemente apresentado na cena inicial. Como o rapaz ajuda a mãe em alguns procedimentos com os corpos, o fascínio que os mesmos exercem sobre ele fica muito evidente e é neste momento que o espectador compra a ideia do filme e se entrega para o que vem a seguir.
Entretanto, os arcos mediano e final caem significativamente no que diz respeito ao arco dramático do personagem. Embora, a série de assassinatos que ocorrem na cidade seja um forte catalisador para as tendências psicóticas e psicopatas de John, o diretor escolheu caminhos não muito inteligentes para evidenciar esse fenômeno. Os diálogos parecem ensaiados demais, pensados demais. Pouco críveis mesmo para alguém que atravessa um momento árido como este.
Algo que funciona muito bem é a fotografia. Por diversas vezes, os recursos visuais se tornam muito mais interessantes que a própria história a ser contada. Algo que não é exatamente o objetivo de um filme. Apesar disso, não se pode considerar o longa um desastre. A fita carece também de ritmo, de uma concatenação de ideias que estimule no espectador o interesse por saber mais sobre aquilo que está se desenrolando diante dos seus olhos. A trilha sonora do filme cumpre bem seu papel, tentando suprir essa carência rítmica, mas ainda de maneira insuficiente.
Aparentemente, O’Brien escalou uma montanha alta demais para aquilo que estava preparado a executar. Exemplos recentes, como o já citado Precisamos Falar Sobre o Kevin, apesar de pasteurizados, conseguem ser mais sensíveis ao sentimento do protagonista e, consequentemente, são obras melhor executadas.
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Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.
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