Shoujo é uma vertente de mangá/anime voltado ao público jovem feminino, muitas vezes com histórias românticas e elementos mais fofinhos. Não significa que apenas garotas leem/assistem aos shoujos, muito pelo contrário. Existem diversos títulos de sucesso, por exemplo as obras do estúdio CLAMP (Sakura Card Captors, X e outros), com as mais variadas temáticas.
Ao trazer histórias focadas no romance e relacionamentos, o padrão é que o protagonista, quando masculino, seja bonito ao estilo mangá, com traços mais delicados, cabelos sedosos, um típico galã. Estas são características de Suna, o rapaz de cabelos loiros na imagem acima. Suna é muito popular entre as garotas, mas não dá muita bola pra isso, prefere ficar na dele, mantendo um comportamento mais frio.
E se eu te disser que o protagonista não é Suna, mas sim o grandalhão ao centro? Esse é Takeo, com seus 2 metros de altura, robusto, lábios grossos, cabelo crespo e muito bondoso. Um verdadeiro gigante gentil que esbanja carisma.
Takeo e Suna mantém amizade desde a infância. Estudam juntos e já se ajudaram bastante ao longo da vida. Estão próximos do vestibular, ou seja, são quase jovens adultos. Quando os amigos veem Yamato ser molestada por um tarado, Takeo imediatamente dá um jeito no algoz, salvando a menina de maiores agressões. Ele nota que Yamato olha de um jeito diferente para Suna. A partir daí, Takeo não medirá esforços para que Suna fique com ela. Daí começa a primeira “aventura” de Takeo.
Mal sabe o grandalhão que, na verdade, Yamato está apaixonada por ele, e não por Suna! Este é o foco inicial do mangá, e devo dizer que é bem divertido. Takeo mistura altruísmo, amizade e (talvez) baixa autoestima, pois acredita piamente que Yamato está afim de seu amigo bonitão, afinal todas as garotas são loucas por ele, o que nunca aconteceu com Takeo.
O tom leve do humor, aliado ao forte carisma de Takeo, deram uma tônica muito bacana à obra, que logo no início já tem um desfecho feliz para Takeo. Aqui começa o problema.
Ao passo que nos primeiros capítulos havia toda essa dinâmica de “ajudar Yamato a conquistar a pessoa errada, sendo que ela estava afim de mim”, depois a narrativa cai num marasmo enfadonho. Por mais empatia que Takeo gere ao leitor, o problema são os acontecimentos que são bem desinteressantes. O recorrente tom meloso e inocente entre os recém-namorados Takeo e Yamato se torna cansativo.
Outro fator que potencializa isso é a própria cultura japonesa, onde o casal demora meses para simplesmente darem as mãos (sim, as MÃOS). Este nem é o grande problema. A trama prioriza basicamente o que o casal irá fazer no dia seguinte, se vão passear, se vão viajar com amigos, e tudo é muito banal. Talvez um público mais jovem, na faixa dos 17 anos, consiga se identificar mais com as situações, mas quem tiver um pouco mais de idade, já não posso garantir. Praticamente nada do que acontece gera um impacto ou mesmo curiosidade para saber o desfecho. São apenas coisas normais.
Também existem vários momentos de interação entre Takeo e Suna, que ajudam a quebrar um pouco do problema acima mencionado, e são as partes mais interessantes. Destaque para um gesto muito bonito de Takeo para consolar Suna em um grave problema de família. Uma pena que não há tantos momentos assim na obra, ajudaria a criar maiores cargas emocionais. Não estou dizendo que um mangá infanto-juvenil deva ser pesado, claro que não. Mas pelo menos deveria acontecer situações mais elaboradas, como foi o início da história.
Fiquei realmente triste em não ter gostado de Ore Monogatari!, pois outras obras de temáticas cotidianas e banais conseguiram ser mais interessantes. Aqui temos um ótimo começo, mas que logo acabaram com meu interesse na obra. Recomendo apenas para quem gosta muito desse estilo de mangá, ou para leitores mais jovens. Publicado no Brasil pela Panini Comics em 13 volumes.