Thiago Tizzot, editor da curitibana Arte e Letra, é o quinto entrevistado da série do Vortex Cultural com editoras independentes. A editora nasceu em 2001 com a proposta de publicar livros que os donos gostariam de ler, depois, em 2006, nasceu a livraria homônima, na Alameda Dom Pedro II, 44, que se tornou point literário de cafés em Curitiba. Conheça o catálogo da editora em https://www.arteeletra.com.br/loja e confira a entrevista abaixo com o editor sobre como as editoras independentes atuam nesse momento de baixa do setor literário.
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Vortex Cultural: O mercado literário nacional segue a mesma perspectiva do país e passa por uma fase continuada de crise. Contudo, como explicar o surgimento de editoras independentes, bem como o maior espaço conquistado por elas, entre os leitores?
Thiago Tizzot: Eu não sei se o surgimento de mais editoras tem uma ligação com a continuada crise que o país enfrenta. Acho que está mais ligado com um esgotamento do formato de consumo das pessoas. Há alguns anos era a busca pelo padrão, todo mundo queria o mesmo tênis, a mesma marca de roupa, participar do mundo. Hoje a procura é por coisas únicas, o comércio local, objetos individuais. E nesse ponto a editora independente pode fazer muito bem esse papel.
Vortex Cultural: A queda do número de livros vendidos parece estar concentrada nas grandes editoras (Companhia, Record e Sextante, principalmente). Isso significa que o modelo de trabalho das grandes editoras está ultrapassado?
Thiago Tizzot: Não só das grandes editoras, é mais difícil para elas porque precisam de um número muito expressivo de vendas para se manter. Mas o modelo de negócio do livro passa por uma mudança e ainda é algo que está acontecendo e não se pode dizer onde ele vai parar.
Vortex Cultural: Outro grande problema para o mercado é que as grandes livrarias não estão repassando o dinheiro das vendas às editoras. Atualmente, o pior lugar para vender livro é em uma livraria? Por quê?
Thiago Tizzot: O problema do repasse de dinheiro vai mais para o fato de que as grandes livrarias estão ultrapassadas e precisam se reinventar para poderem ficar saudáveis novamente. Por outro lado, temos livrarias independentes que são uma ferramenta importante de venda para as editora menores. O que aconteceu é que existem outras alternativas para a venda de livro. Mas vender livro é na livraria.
Vortex Cultural: Em quais características diferem o modelo de negócios de uma editora independente e de uma de maior porte? Comente as que considera principais.
Thiago Tizzot: As diferenças passam muito pelas dificuldades que cada um enfrenta. Por exemplo, uma editora grande precisa de muitas vendas para ter um sucesso e às vezes isso leva a busca por livros que tenham um potencial de vendas enorme. A independente não precisa de um número tão grande para ter um sucesso, claro que ela que vender muito, mas não precisa porque seu tamanho é menor. A consequência disso é que as grandes são muito mais pautadas pelo potencial de vendas e as independentes podem se concentrar mais na qualidade e no livro em si. Outro, claro, é o poder de investimento, as independentes dependem muito do custo do projeto para poder realizar um livro, nas grandes o limite é muito maior.
Vortex Cultural: Quais são os melhores parceiros para uma editora independente? Influenciadores digitais (booktubers, resenhistas de blogs, perfis de Instagram sobre livros etc) são os melhores aliados para vendas?
Thiago Tizzot: Um dos grandes desafios das independentes é fazer com que seus livros sejam notados nesse mar de lançamentos que acontecem todo o mês. Sem dúvida os meios digitais são um caminho para isso e com a falência dos cadernos sobre livros nos jornais e revistas a internet cada vez mais acaba sendo o único meio para se divulgar. Mas os melhores aliados para uma editora independente são seus autores e leitores. Nada melhor do que contar com um autor que compreende o trabalho da editora e sabe que a sua atuação é decisiva para o sucesso de um livro.
Vortex Cultural: Com o maior número de editoras, feiras literárias independentes despontam e ganham corpo pelo país. Você acredita que essas feiras concorrem com as livrarias? Por quê?
Thiago Tizzot: Não, elas se completam. A feira é um lugar efêmero, onde você pode encontrar escritores e editores, entrar em contato com a produção de um livro conversando com as pessoas. E lá os leitores conhecem outros livros e editoras que vão estar na livraria. A feira cada vez mais se torna um lugar para divulgação do trabalho das editoras independentes que se completa com uma futura venda nas livrarias.
Vortex Cultural: Por vezes as editoras independentes passam uma ideia de maior proximidade com o público que lê seus livros. É no melhor relacionamento com seus leitores que uma editora independente encontra sucesso? Quais outras características destaca como fundamentais?
Thiago Tizzot: Muitas vezes quando você entra em contato com uma editora independente você conversa com os donos, editores, com as pessoas que fazem os livros e isso, claro, gera uma empatia. Quando acontece essa proximidade a chance do leitor se interessar pelo trabalho é muito maior, uma vantagem que as independentes têm em relação as grandes. A outra coisa é a oportunidade de oferecer uma variedade de livros e autores, algo novo e original.
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Texto de autoria de José Fontenele.