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  • O Mercado Literário das Editoras Independentes | Editora Dublinense

    O Mercado Literário das Editoras Independentes | Editora Dublinense

    Para a quarta entrevista da série de Editoras Independentes do Vortex Cultural, conversamos com o editor Gustavo Faraon, da gaúcha Dublinense. A editora surgiu a partir da Não Editora, em 2009, e tem como objetivo um catálogo eclético, de valor literário e comercial, com literatura brasileira e estrangeira de ficção, negócios, humanidades, esportes, música e viagens. Confira o catálogo da editora em http://www.dublinense.com.br/livros/, mas não sem antes conferir a entrevista abaixo sobre o mercado editorial e o período de baixa do setor livreiro.

    Vortex Cultural: O mercado literário nacional segue a mesma perspectiva do país e passa por uma fase continuada de crise. Contudo, como explicar o surgimento de editoras independentes, bem como o maior espaço conquistado por elas, entre os leitores?

    Gustavo Faraon: Mas crise é oportunidade, sempre. E é justamente na esteira das (grandes) brechas deixadas pelas grandes e médias editoras que pequenas e minúsculas casas editoriais estão conseguindo atuar, com sucesso, sobretudo em nichos específicos.

    Vortex Cultural: A queda do número de livros vendidos parece estar concentrada nas grandes editoras (Companhia, Record e Sextante, principalmente). Isso significa que o modelo de trabalho das grandes editoras está ultrapassado?

    Gustavo Faraon: Acho que a queda não é exclusividade dos grandes. Muitos pequenos editores estão sofrendo muito nesse período. E, claro, esses momentos são sempre oportunidade pra todo mundo rever tudo, mas acho que é precipitado dizer assim de maneira peremptória que o modelo está ultrapassado. Sem dúvida precisa ser renovado e revigorado, mas tudo precisa, o tempo todo, dessa constante readequação, né? Então eu diria calma. (risos)

    Vortex Cultural: Outro grande problema para o mercado é que as grandes livrarias não estão repassando o dinheiro das vendas às editoras. Atualmente, o pior lugar para vender livro é em uma livraria? Por quê?

    Gustavo Faraon: Não é o pior lugar. As livrarias são importantíssimas enquanto espaços de descoberta, e o papel do livreiro me parece mais importante do que nunca. A questão é que um certo modelo de livraria me parece, este sim, um pouco esgotado, que é o modelo de servir como simples entreposto comercial de livros, sem curadoria, sem identidade, etc.

    Vortex Cultural: Quais são os melhores parceiros para uma editora independente? Influenciadores digitais (booktubers, resenhistas de blogs, perfis de Instagram sobre livros etc) são os melhores aliados para vendas?

    Gustavo Faraon: Jornalistas, booktubers, instagramers, blogueiros, livreiros, curadores de eventos, mesmo agentes, pessoas à frente de instituições culturais e de fomento, gráficos, e voltando pra antes da produção, designers, revisores e até parceiro logístico. Todas as pessoas são muito importantes de se ter como parceiros de verdade.  E não é raro que as coisas se misturem. Um booktuber ou blogueiro que vai escrever uma resenha num jornal de grande circulação, um jornalista que vai virar curador de evento, e assim por diante. A coisa é complexa.

    Vortex Cultural: Por vezes as editoras independentes passam uma ideia de maior proximidade com o público que lê seus livros. É no melhor relacionamento com seus leitores que uma editora independente encontra sucesso? Quais outras características destaca como fundamentais?

    Gustavo Faraon: Sim, é verdade que esse relacionamento muito próximo existe de fato na maioria das vezes. E isso ajuda a editora a ficar mais atenta ao que pode ser legal pros seus leitores. Em grande parte isso acontece porque o editor é que vai contatar os blogueiros e booktubers, vai conhecer eles, é o editor que vai montar a mesa na feira, fazer a venda, conversar e ouvir os leitores, então digamos que é uma proximidade muito orgânica com todas as partes do processo e sobretudo com o público.

    Vortex Cultural: Por fim, qual comentário/informação acha pertinente destacar quando tratamos de editoras independentes?

    Gustavo Faraon: Que o conceito é amplo, impreciso, e que as editoras independentes TAMBÉM são muito diferentes entre si, e isso é que é lindo.

    Texto de autoria de José Fontenele.

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  • O Mercado Literário das Editoras Independentes | Arte e Letra

    O Mercado Literário das Editoras Independentes | Arte e Letra

    Thiago Tizzot, editor da curitibana Arte e Letra, é o quinto entrevistado da série do Vortex Cultural com editoras independentes. A editora nasceu em 2001 com a proposta de publicar livros que os donos gostariam de ler, depois, em 2006, nasceu a livraria homônima, na Alameda Dom Pedro II, 44, que se tornou point literário de cafés em Curitiba. Conheça o catálogo da editora em https://www.arteeletra.com.br/loja e confira a entrevista abaixo com o editor sobre como as editoras independentes atuam nesse momento de baixa do setor literário.

    Vortex Cultural: O mercado literário nacional segue a mesma perspectiva do país e passa por uma fase continuada de crise. Contudo, como explicar o surgimento de editoras independentes, bem como o maior espaço conquistado por elas, entre os leitores?

    Thiago Tizzot: Eu não sei se o surgimento de mais editoras tem uma ligação com a continuada crise que o país enfrenta. Acho que está mais ligado com um esgotamento do formato de consumo das pessoas. Há alguns anos era a busca pelo padrão, todo mundo queria o mesmo tênis, a mesma marca de roupa, participar do mundo. Hoje a procura é por coisas únicas, o comércio local, objetos individuais. E nesse ponto a editora independente pode fazer muito bem esse papel.

    Vortex Cultural: A queda do número de livros vendidos parece estar concentrada nas grandes editoras (Companhia, Record e Sextante, principalmente). Isso significa que o modelo de trabalho das grandes editoras está ultrapassado?

    Thiago Tizzot: Não só das grandes editoras, é mais difícil para elas porque precisam de um número muito expressivo de vendas para se manter. Mas o modelo de negócio do livro passa por uma mudança e ainda é algo que está acontecendo e não se pode dizer onde ele vai parar.

    Vortex Cultural: Outro grande problema para o mercado é que as grandes livrarias não estão repassando o dinheiro das vendas às editoras. Atualmente, o pior lugar para vender livro é em uma livraria? Por quê?

    Thiago Tizzot: O problema do repasse de dinheiro vai mais para o fato de que as grandes livrarias estão ultrapassadas e precisam se reinventar para poderem ficar saudáveis novamente. Por outro lado, temos livrarias independentes que são uma ferramenta importante de venda para as editora menores. O que aconteceu é que existem outras alternativas para a venda de livro. Mas vender livro é na livraria.

    Vortex Cultural: Em quais características diferem o modelo de negócios de uma editora independente e de uma de maior porte? Comente as que considera principais.

    Thiago Tizzot: As diferenças passam muito pelas dificuldades que cada um enfrenta. Por exemplo, uma editora grande precisa de muitas vendas para ter um sucesso e às vezes isso leva a busca por livros que tenham um potencial de vendas enorme. A independente não precisa de um número tão grande para ter um sucesso, claro que ela que vender muito, mas não precisa porque seu tamanho é menor. A consequência disso é que as grandes são muito mais pautadas pelo potencial de vendas e as independentes podem se concentrar mais na qualidade e no livro em si. Outro, claro, é o poder de investimento, as independentes dependem muito do custo do projeto para poder realizar um livro, nas grandes o limite é muito maior.

    Vortex Cultural: Quais são os melhores parceiros para uma editora independente? Influenciadores digitais (booktubers, resenhistas de blogs, perfis de Instagram sobre livros etc) são os melhores aliados para vendas?

    Thiago Tizzot: Um dos grandes desafios das independentes é fazer com que seus livros sejam notados nesse mar de lançamentos que acontecem todo o mês. Sem dúvida os meios digitais são um caminho para isso e com a falência dos cadernos sobre livros nos jornais e revistas a internet cada vez mais acaba sendo o único meio para se divulgar. Mas os melhores aliados para uma editora independente são seus autores e leitores. Nada melhor do que contar com um autor que compreende o trabalho da editora e sabe que a sua atuação é decisiva para o sucesso de um livro.

    Vortex Cultural: Com o maior número de editoras, feiras literárias independentes despontam e ganham corpo pelo país. Você acredita que essas feiras concorrem com as livrarias? Por quê?

    Thiago Tizzot: Não, elas se completam. A feira é um lugar efêmero, onde você pode encontrar escritores e editores, entrar em contato com a produção de um livro conversando com as pessoas. E lá os leitores conhecem outros livros e editoras que vão estar na livraria. A feira cada vez mais se torna um lugar para divulgação do trabalho das editoras independentes que se completa com uma futura venda nas livrarias.

    Vortex Cultural: Por vezes as editoras independentes passam uma ideia de maior proximidade com o público que lê seus livros. É no melhor relacionamento com seus leitores que uma editora independente encontra sucesso? Quais outras características destaca como fundamentais?

    Thiago Tizzot: Muitas vezes quando você entra em contato com uma editora independente você conversa com os donos, editores, com as pessoas que fazem os livros e isso, claro, gera uma empatia. Quando acontece essa proximidade a chance do leitor se interessar pelo trabalho é muito maior, uma vantagem que as independentes têm em relação as grandes. A outra coisa é a oportunidade de oferecer uma variedade de livros e autores, algo novo e original.

    Texto de autoria de José Fontenele.

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  • O Mercado Literário das Editoras Independentes | Editora Mondrongo

    O Mercado Literário das Editoras Independentes | Editora Mondrongo

    A terceira entrevista da série do Vortex Cultural com editoras independentes é com a baiana Mondrongo (http://www.mondrongo.com.br/). Conversamos com o editor e escritor Gustavo Felicíssimo, que fundou a editora em 2011 como um braço editorial do Teatro Popular de Ilhéus, mas que atualmente está em voo solo. A Mondrongo publica poesia, prosa, estudos acadêmicos, literatura infanto-juvenil e livros de arte. Confira a entrevista completa abaixo.

    Vortex Cultural: O mercado literário nacional segue a mesma perspectiva do país e passa por uma fase continuada de crise. Contudo, como explicar o surgimento de editoras independentes, bem como o maior espaço conquistado por elas, entre os leitores?

    Gustavo Felicíssimo: Primeiro é necessário dizer que é evidente que as tecnologias que possibilitaram as tiragens de baixas demandas são cruciais nesse processo. Isso abriu portas para quem sempre sonhou empreender no meio literário, mas tinha receio dos altos custos. Por outro lado, o editor “independente”, como você fala, descobriu que é aquele que mais depende de todo mundo, então trabalhamos em rede, nos ajudamos, desenvolvemos estratégias para estarmos juntos em grandes eventos. E, apesar do comércio eletrônico, ainda dependemos muito do empenho do autor para que o livro circule.

    Vortex Cultural: Em quais características diferem o modelo de negócios de uma editora independente e de uma de maior porte? Comente as que considera principais.

    Gustavo Felicíssimo: Sou um micro-editor e tenho o foco da Mondrongo centrado no seu network institucional e no network dos meus autores, essa é a principal diferença, pois tem a ver com o foco do negócio. Minha opção é por fazer livros de excelência com baixas tiragens, esse é o primeiro passo para um dia estarmos no mesmo patamar das grandes editoras. Enquanto eles vão diminuindo de tamanho, nós vamos crescendo. Um dia nos encontraremos no meio do caminho.

    Vortex Cultural: Com o maior número de editoras, feiras literárias independentes despontam e ganham corpo pelo país. Você acredita que essas feiras concorrem com as livrarias? Por quê?

    Gustavo Felicíssimo: Não há dúvidas. Aqui na Bahia há pelo menos três grandes eventos literários por ano, a Flipelô – Festa Literária Internacional do Pelourinho, a Flifs – Festa do Livro de Feira de Santana, e a Flica – Festa Literária Internacional de Cachoeira. Em todas elas a Mondrongo está associada a outras editoras e seus autores em função do livro do autor baiano, livro esse que dificilmente você encontrará nas grandes livrarias, mas que tem público muito interessado. Também está ocorrendo que os micro-editores estão produzindo eventos individuais das suas editoras. Faço aqui na Bahia, em Salvador, ao menos um evento individual da editora por mês, mas só nestes anos já produzi eventos no Rio, Curitiba, Ilhéus, Recife, João Pessoa e Campina Grande. A gente vai onde o público está.

    Vortex Cultural: Por vezes as editoras independentes passam uma ideia de maior proximidade com o público que lê seus livros. É no melhor relacionamento com seus leitores que uma editora independente encontra sucesso? Quais outras características destaca como fundamentais?

    Gustavo Felicíssimo: O sucesso, que nem sei exatamente o que é, está na melhor relação com o autor. Estar aberto para acolher a obra do autor que lhe procura o faz se sentir valorizado, e isso, por consequência, faz toda a diferença em relação ao público.

    Vortex Cultural: Por fim, qual comentário/informação acha pertinente destacar quando tratamos de editoras independentes?

    Gustavo Felicíssimo: Vejo que o Brasil possui uma vasta tradição de escritores que são também editores, essa nova geração de editoras possui à frente, quase sempre, um escritor que sabe que, em última instância, ele não trabalha com o livro físico, o objeto livro, mas com os sonhos do outro, e com isso não se brinca.

    Texto de autoria de José Fontenele.

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  • O Mercado Literário das Editoras Independentes | Editora Patuá

    O Mercado Literário das Editoras Independentes | Editora Patuá

    Depois de entrevistar Nathan Matos, da Editora Moinhos, o Vortex Cultural conversa com Eduardo Lacerda, editor da paulista Patuá em nossa série sobre editoras independentes e o momento de baixa do mercado literário no país.

    A editora Patuá (http://editorapatua.com.br/) abriu as portas em 2011 e conta com quase 700 títulos no catálogo. Com foco em Literatura Contemporânea, publica gratuitamente poesia, conto, crônica e romance. Entre seus prêmios, conquistou duas vezes o Prêmio São Paulo de Literatura, outras duas vezes o Prêmio Jabuti e o Prêmio Açorianos, além de figurar com autores e autoras finalistas e semifinalista em vários prêmios literários do país. Além de tocar a Patuá, Lacerda também administra o Patuscada, um bar/livraria na Vila Madalena onde realiza os lançamentos da editora e funciona como point literário na região. Confira a entrevista completa abaixo.

    A editora recebeu o Prêmio Jabuti de Conto pelo livro Enfim, Imperatriz, de Maria Fernanda Elias Maglio.

    Vortex Cultural: A queda do número de livros vendidos parece estar concentrada nas grandes editoras (Companhia, Record e Sextante, principalmente). Isso significa que o modelo de trabalho das grandes editoras está ultrapassado?

    Eduardo Lacerda: As grandes editoras, alinhadas com o pensamento de nossa elite, nunca se preocuparam na formação de público leitor, que no fim é público consumidor de livros. Sabemos que o descaso com a educação e com a cultura são projetos. Também estamos em uma época de menos dinheiro circulando no país, da mudança de cultura do impresso para o digital (embora o livro digital ainda não seja uma prioridade para nossos leitores). Mas pensando em uma lógica capitalista, fazer uma quantidade maior de produtos significa ter preços unitários menores. Hoje é possível fazer livros de qualidade por menos de R$ 2,00 (para uma editora pequena o custo de produção fica em R$ 15.00), então esse modelo de produzir altas tiragens não está ultrapassado, o que está ultrapassado é não entendermos que sem público leitor, não há público consumidor de livros. Que todas as pessoas desse país precisam ter acesso ao livro, precisamos de bibliotecas, de livrarias, de valorizar os profissionais da cadeia do livro. Mas, como sou um editor de uma editora independente, não sei dizer se esse modelo das grandes editoras está ultrapassado, eu acho que não, mas é um modelo que pouco me interessa (embora me interesse ter títulos feitos em altas tiragens e poder vendê-los a preços acessíveis e encontrando mais leitores).

    Vortex Cultural: Outro grande problema para o mercado é que as grandes livrarias não estão repassando o dinheiro das vendas às editoras. Atualmente, o pior lugar para vender livro é em uma livraria?

    Eduardo Lacerda: Eu sempre evitei vender livros em livrarias, mas é importante deixar claro que adoro livrarias e considero uma parte importante para que as pessoas tenham acesso ao livro. Mas, como todo negócio, a maior parte das livrarias que temos prioriza o lucro e não o livro e a Literatura. As livrarias cobram de 40-55% do preço de capa de um livro, pegam o produto em consignação (com possibilidade de devolução se não for vendido), o frete é sempre responsabilidade da editora, é um negócio quase perfeito e sem riscos. O autor não ganha 50% do preço de capa, a editora não ganha 50% do preço de capa (e ainda que ganhe, ela assume todos os riscos da edição, não pode consignar a impressão dos livros, por exemplo). A livraria acaba não assumindo nenhum risco, mas aceitamos – por décadas – esse sistema para conseguir ter um mínimo de distribuição. A internet, a venda direta, a Amazon, a Estante Virtual e outras plataformas tiraram o protagonismo das livrarias que precisam se reinventar. Elas, mais do que as editoras, têm sim um modelo ultrapassado. Agora, é importante dizer que o que está ultrapassado é o modelo de negócio, não a nossa necessidade de mais livrarias. Um governo sério daria incentivos à criação e manutenção de livrarias no país, não destinar recursos milionários para uma rede, como o aporte que a Livraria Cultura recebeu há alguns anos, mas incentivos como isenção ou redução de impostos, por exemplo.

    Vortex Cultural: Em quais características diferem o modelo de negócios de uma editora independente e de uma de maior porte?

    Eduardo Lacerda: Cada editora tem um modelo de negócio próprio, mesmo as independentes, cada uma trabalha de uma maneira (o que é incrível e abre possibilidades para a criação de editoras plurais e democráticas). Não acho que o trabalho das editoras independentes é melhor (embora mais democrático e diverso), nem que o das grandes é menos importante (embora seja urgente darem maior espaço e visibilidade). Precisamos fortalecer toda a cadeia do livro, isso inclui desde pequenas editoras que trabalham com tiragens de 5 exemplares (ou menos), com tiragens únicas, com livros artesanais, impressões em casa, livros cartoneros, passando pelas editoras independentes como Patuá, Moinhos, Oito e Meio, que, apesar de pequenas e independentes, trabalham com um formato de livro mais tradicional e constam atualmente na lista dos maiores prêmios literários, até as editoras grandes, que publicam best-sellers. Não acredito que existam inimigos disputando nada nesse meio (ou pelo menos acredito que não deveríamos).

    Vortex Cultural: Quais são os melhores parceiros para uma editora independente? Influenciadores digitais (booktubers, resenhistas de blogs, perfis de Instagram sobre livros etc) são os melhores aliados para vendas?

    Eduardo Lacerda: As editoras independentes precisam se reinventar todos os dias e todos os dias aparecem novas oportunidades para isso. Novas plataformas, novas redes sociais, novos eventos. Dependendo do perfil editorial de uma pequena editora um resenhista de blog funciona mais para as vendas do que um booktuber, mas acho que é necessário buscar ocupar todos os lugares, respeitar os diferentes trabalhos e criar cada vez mais espaço para o livro.

    Vortex Cultural: Com o maior número de editoras, feiras literárias independentes despontam e ganham corpo pelo país. Você acredita que essas feiras concorrem com as livrarias? Por quê?

    Eduardo Lacerda: Eu insisto que não há (ou não pode haver) concorrência e quero acreditar que as feiras ajudam a formar público que depois frequentará as livrarias. Feiras são eventos, eventuais, não estão no dia a dia das pessoas, dos leitores. São importantes e cumprem sua função, sim, mas o público precisa ter acesso sempre, todos os dias, em todos os lugares. Gosto de pensar que um homem ou mulher qualquer, que nunca entrou em uma livraria, pode descobrir livros bons em uma feira e procurar outros em uma livraria. Para isso, é claro, precisamos de mais livrarias (e de mais feiras, mais eventos, mais leitores).

    Vortex Cultural: Por vezes as editoras independentes passam uma ideia de maior proximidade com o público que lê seus livros. É no melhor relacionamento com seus leitores que uma editora independente encontra sucesso? Quais outras características destaca como fundamentais?

    Eduardo Lacerda: Costumo dizer que existem 3 camadas de leitores para um autor estreante / desconhecido (e um autor pode ter dezenas de livros e ainda ser desconhecido): a primeira camada é formada por amigos, parentes e colegas de trabalho, quanto maior a rede da pessoa, maior o número de “compradores” do livro em um lançamento, esses primeiros leitores não devem nunca ser desprezados, eles não só ajudam o trabalho do livro começar, como, apesar de parentes e amigos, podem ser leitores do livro (e não comprar apenas pela proximidade com o autor), já vi muita gente como tia, primo, sobrinho comprar um livro pela primeira vez na vida pela proximidade com o autor e depois se tornar um leitor frequente. Formar leitores passa por dar acesso ao livro para as pessoas.A segunda camada é formada por outros escritores, críticos, jornalistas, professores, pessoas que se interessam por Literatura, mas que ainda mantém um interesse externo à obra, geralmente essa camada de leitores não adquire / compra o livro, acaba ganhando ou trocando (livros e leituras), essa camada pode ajudar a sedimentar um livro, a torná-lo conhecido (de uma centena de pessoas, mas conhecido), a encontrar a última camada de leitores.A última camada é a do leitor que não tem nenhuma relação com o autor, que se interesse apenas pela obra, pelo que está escrito. Esse leitor, talvez o leitor ideal, aquele que todos os escritores procuram, que vai se debruçar e ler o que está escrito sem se preocupar, desculpe a brincadeira, se você vai tomar cerveja com ele depois, se vai ler também seu livro, esse leitor é muito raro de encontrar, mesmo porque sabemos que o público leitor ainda é pequeno, mas a quantidade de livros publicados não para de crescer. As pequenas editoras passam mesmo essa imagem de proximidade com os leitores, sabendo da importância deles estamos sempre nos lançamentos, nos eventos, nos debates, feiras, festas, mas a proximidade com o leitor vem da leitura do livro, é isso que estamos perseguindo.

    Vortex Cultural: Por fim, qual comentário/informação acha pertinente destacar quando tratamos de editoras independentes?

    Eduardo Lacerda: O que me encanta hoje no mercado editorial é saber que qualquer pessoa em qualquer local do país pode criar uma pequena editora independente e criar livros que dialoguem com seu espaço, com sua cultura, com sua região, valores, arte. É uma revolução muito maior do que as pequenas-grandes editoras independentes como a Patuá. Quero dizer, acho que um garoto ou garota que se arrisque a conhecer a Arte e a Literatura de sua cidade, de sua região, que se aventure a produzir onde muitas vezes nada é feito, em cidades que não têm nem bibliotecas e nem livrarias, isso é muita coragem e tenho visto isso acontecer todos os dias.

    Texto de autoria de José Fontenele.

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  • O Mercado Literário das Editoras Independentes | Editora Moinhos

    O Mercado Literário das Editoras Independentes | Editora Moinhos

    Entrevista com Nathan Matos, da Editora Moinhos.

    O mercado literário nacional, assim como o país, passa por um momento de baixa. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), entre 2006 e 2017 o consumo de livros no país perdeu 21% em volume, um total de R$ 1,4 bilhão conforme pesquisa divulgada no meio do ano. Contudo, a crise do mercado não impediu outro fenômeno: as editoras independentes. As pequenas editoras multiplicaram-se pelo país e, cada qual a sua maneira, conseguem sobreviver ofertando títulos que não seriam publicados normalmente por uma grande editora. Para entender mais um pouco desse fenômeno, o Vortex Cultural inaugura uma série de entrevistas com alguns dos editores independentes do país respondendo perguntas sobre o mercado literário atual.

    A primeira entrevista é com a editora mineira Moinhos (https://editoramoinhos.com.br). A Moinhos abriu as portas em 2016, atualmente consta com 70 livros no catálogo e, entre seus objetivos, consta o “resgate de grandes clássicos da literatura brasileira e estrangeiras, buscando viabilizar obras ainda inéditas no país”. Capitaneada por Nathan Matos e Camila Araujo, o editor conversa conosco sobre o mercado editorial, as livrarias e as melhores parcerias para editoras independentes, entre outros assuntos. Confira a entrevista completa abaixo.

    Vortex Cultural: O mercado literário nacional segue a mesma perspectiva do país e passa por uma fase continuada de crise. Contudo, como explicar o surgimento de editoras independentes, bem como o maior espaço conquistado por elas, entre os leitores?

    Nathan Matos: Com a inserção da impressão digital para livros ficou mais fácil e acessível produzir livros em pequenas tiragens. Tendo isso em conta, o que se percebe é que várias editoras independentes vêm surgindo pelo país e prestando variados serviços a quem deseja ter um livro impresso. Quanto ao espaço conquistado, acho que isso é como qualquer empresa, quando se trabalha sério e com objetivos determinados é possível ganhar o espaço onde se está inserido. Editoras como Patuá, Reformatório, Relicário, entre outras, têm conseguido chamar atenção para alguns livros com uma maior saída e chegando também a finais de prêmios reconhecidos nacionalmente. Ainda não acredito que esse espaço é tão amplo assim, porque não acredito que a grande massa leitora leia, realmente, os livros produzidos pelas editoras independentes. Mas devagar e sempre, uma hora a gente chega lá.

    Vortex Cultural: A queda do número de livros vendidos parece estar concentrada nas grandes editoras (Companhia, Record e Sextante, principalmente). Isso significa que o modelo de trabalho das grandes editoras está ultrapassado?

    Nathan Matos: Não concordo. Desde o último trimestre do ano passado vejo uma queda nas vendas das pequenas editoras. A crise é total. Se algumas pequenas conseguem alguns feitos de vender muitos livros, devemos estudar o caso e analisar o que foi feito em torno do livro e que livro é esse. Entre os amigos e amigas editoras de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o que tenho sentido, em conversas, é que o faturamento tem caído e que muitos estão repensando os prazos de publicação para alguns livros. Tenho amigos editores que estão com quase 10 livros travados, tentando esperar esse momento tão ruim no país passar (se é que vai passar tão rápido). Dez livros podem parecer pouco, mas para uma editora pequena que, às vezes, precisa publicar para manter um caixa girando é algo bem complicado porque são livros em que a editora acreditou e que tem pressa em ver o investimento retornar. E quando às grandes estarem ultrapassadas, olha, teríamos que analisar o que propriamente. Eu vejo todas essas que você citou e outras, que acompanho, se reinventando sempre, em todas as maneiras, principalmente na divulgação, então não sei bem se está ultrapassado.

    Vortex Cultural: Outro grande problema para o mercado é que as grandes livrarias não estão repassando o dinheiro das vendas às editoras. Atualmente, o pior lugar para vender livro é em uma livraria?

    Nathan Matos: Se eu pensar apenas no valor que tenho para receber, sim, a livraria é o pior lugar para se vender um livro. E não são apenas as grandes livraria que não tem repassado o dinheiro das vendas. Infelizmente, várias livrarias menores têm atrasado os acertos. E quando o fazem, pedem para parcelar mais do que já está acordado. Então, fica bem difícil acreditarmos que a livraria é o melhor lugar para se vender um livro. Contudo, é importante dizer que isso não é, ainda, algo generalizado, temos várias livrarias pequenas que cumprem com o que prometem, pagam em dias e têm feito trabalhos importantes, visando parcerias com editoras menores, para que lançamentos e outros eventos literárias aconteçam.

    Vortex Cultural: Quais são os melhores parceiros para uma editora independente? Influenciadores digitais (booktubers, resenhistas de blogs, perfis de Instagram sobre livros etc) são os melhores aliados para vendas?

    Nathan Matos: Os melhores são os que entendem, realmente, o seu modelo de negócio e estão dispostos a ser parceiros. Eu não vejo o menor problema nos influenciadores digitais. Há um problema dantesco no nosso meio, porque ainda se tem o preconceito de que a literatura não deve ser para todos. Isso é fato. Há muita gente no meio que é preconceituosa com vários gêneros literários e até com os leitores e leitoras que alguns livros possam atingir. Acho isso uma tremenda baboseira. A literatura foi feita para toda e qualquer tipo de pessoa. Atualmente esse preconceito está indo até para os que fazem críticas literárias, seja no meio escrito ou com ajuda das redes sociais. Não me importa se você escreve para Folha de São Paulo ou se fala de livros em seu canal do Youtube. Para mim, enquanto editor, tudo é válido, porque o livro vai ser divulgado. Evidente que algumas mídias e alguns críticos vão atingir mais pessoas que outras, mas serão sempre públicos específicos. Há pouco tempo, criou-se um embate nas redes sociais sobre se é válido os influenciadores digitais cobrarem por fazer as leituras críticas. Poxa, se eu parto do entendimento que a pessoa leva aquilo como um trabalho. Sério. Que faz com cuidado, e que, mesmo quando recebe pra fazer uma leitura crítica, vai fazer uma leitura sincera, sem interferência da editora, qual o problema? Essa pessoa também tem conta pra pagar, e ela está trabalhando, o tempo dela é igual ao de todo mundo. Em contraponto, o artista em geral reclama que todo mundo quer sempre lhe pagar com algo que não seja dinheiro. Então por que fazer isso com outros? Na verdade, devemos nos unir e fazer o mesmo. Autores não deveriam participar de eventos sem serem pagos. Nem que fosse algo simbólico, você me entende?

    Vortex Cultural: Por vezes as editoras independentes passam uma ideia de maior proximidade com o público que lê seus livros. É no melhor relacionamento com seus leitores que uma editora independente encontra sucesso? Quais outras características destaca como fundamentais?

    Nathan Matos: Não sei, tenho achado essa linha cada vez mais tênue e até prejudicial. Por mais profissional que se tente ser numa pequena editora, e devido a essa proximidade, as pessoas tendem a achar que por isso podem lhe desrespeitar por qualquer coisa. Já ouvi histórias em que a primeira reação minha e de quem estava ao redor foi “se fosse editora X ou Y duvido que tivessem agido assim”. E é a verdade. Há muito desrespeito entre as pessoas atualmente. Pode parecer piegas ou nada a ver com sua pergunta, mas, pra mim, tem. Precisamos de mais amor, de mais gentileza. Ninguém é dono de ninguém e ninguém merece ser humilhado. Essa maior proximidade que os pequenos editores possuem com o público deve ser sempre positiva, ou tentar ser sempre positiva. E acredito, sim, que esse relacionamento é importante, porque se consegue responder mais rápido, resolver algumas questões que poderiam ser complicados, comisso seu público fica feliz e até assustado com tamanha atenção que temos com ele e passa a nos olhar de maneira diferente.

    Vortex Cultural: Por fim, qual comentário/informação acha pertinente destacar quando tratamos de editoras independentes?

    Nathan Matos: Que se você chegou até aqui nessa entrevista, pesquise sobre as pequenas editoras e tente, quando possível, e sempre que possível, comprar algum livro delas.

    Texto de autoria de José Fontenele.

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  • 2015 foi um ano difícil para a literatura

    2015 foi um ano difícil para a literatura

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    Este ano voou e talvez não deixe muitas saudades mesmo. O período foi um dos mais conturbados dos últimos tempos, com economia em baixa, crise política, confiança abalada e insegurança global. Pra muita gente, 2015 foi um ano de estagnação, de atrasos e de interrupção de projetos, o que só aumentou a sensação de perda de tempo, energia e recursos. No campo das artes não foi diferente, e no terreno da literatura acabamos colecionando um conjunto grande e contundente de reveses. Fizemos um levantamento da situação e podemos afirmar: 2015 foi um ano difícil! É verdade que faltam algumas semanas para fechar a fatura, mas decidimos antecipar esse balanço na esperança de que as desgraças e tragédias fiquem por aqui. 

    Fogo na Record

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    Em março, um incêndio destruiu parte das instalações do Grupo Editorial Record em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O fogo atingiu o segundo andar do prédio, onde funciona o selo Bertrand Brasil, e havia seis funcionários no local. Felizmente, não houve vítimas, e as causas que levaram ao incêndio não foram reveladas. O estrago só não foi maior porque os bombeiros agiram rápido.

    Jornada cancelada

    Edição deste ano da Jornada de Literatura de Passo Fundo é cancelada
    Edição deste ano da Jornada de Literatura de Passo Fundo é cancelada

    Em maio, a reitoria da Universidade de Passo Fundo (UPF) confirmou que a 16ª edição da Jornada Nacional de Literatura estava mesmo cancelada. Segundo a professora Tânia Rösing, coordenadora e idealizadora do evento, o maior impedimento para a realização foi a falta de patrocínio de empresas privadas e do Estado. Verbas públicas que costumavam ser destinadas, como as do Fundo Nacional de Cultura e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, não vieram. Com histórico de participações ilustres como as de Mia Couto e Millôr Fernandes, o orçamento da feira é de cerca de R$ 3,5 milhões. Em 2015, um dos principais eventos literários do sul do país simplesmente não aconteceu.

    Portas fechadas…

    Livraria Leonardo Da Vinci

    A livraria Leonardo da Vinci funcionou durante 63 anos no Rio de Janeiro e se notabilizou por reunir intelectuais, escritores e poetas entre seus clientes assíduos. Criada em 1952 pelo romeno Andrei Duchiade, especializou-se no comércio de lançamentos importados e livros raros, mas não conseguiu competir com o mercado virtual e nem com as populares megalivrarias. Um dos clientes mais famosos da Leonardo da Vinci foi Carlos Drummond de Andrade, que a homenageou em um poema. O anúncio do fechamento do tradicional ponto de vendas e de encontros causou consternação no mercado editorial carioca.

    Suplemento extinto

    Caderno Prosa e Verso

    Em setembro, leitores do jornal O Globo foram surpreendidos com a notícia de que seu caderno literário deixaria de circular. O suplemento “Prosa & Verso” seria incorporado por outra seção, o “Segundo Caderno”, relegando o espaço dedicado à literatura a uma melancólica página frente e verso no diário carioca. O suplemento estava às vésperas de completar vinte anos de existência, mas nem isso impediu que desaparecesse causando pelo menos 40 demissões. Entre as baixas estava o crítico José Castello, um dos mais respeitados do país.

    Escritor preso?

    Delegado Tobias

    Aconteceu em setembro e talvez você nem acredite. Um personagem da ficção – sim, da ficção! – provocou um inquérito criminal encaminhado para o Ministério Público e investigado pela Polícia Federal. Incitada por uma denúncia anônima, a polícia achou necessário investigar uma peça da ficção em busca de evidências de “falsificação e uso de documento público” para criação de uma obra literária. O escritor paulistano Ricardo Lísias se viu nesse enredo kafkiano ao ser intimado pelas autoridades policiais a depor e a explicar que o teor da série com o Delegado Tobias é literatura, autoficção, e não crime de falsificação de documentos…

    Uma editora a menos

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    Em dezembro, Charles Cosac chocou o mercado editorial ao anunciar que a sofisticada editora Cosac Naify iria encerrar suas atividades. Especializada em publicações com alto padrão de qualidade, voltadas para os clássicos da literatura, livros de arte, arquitetura e fotografia, a Cosac Naify começou a operar no mercado brasileiro em 1997. A justificativa para o fim da editora deveu-se a uma vontade pessoal do fundador, em virtude da crise financeira e dos altos custos de produção dos livros, consumidos por um público cada vez mais restrito no país. O anúncio pegou a todos de surpresa, e houve até comoção nas redes sociais, como se um sonho tivesse acabado…

    Nossas maiores perdas

    Não bastassem tantos dissabores no mercado editorial, o nefasto 2015 também não cansou de causar  estragos, esses irreversíveis. Grandes escritores nos deixaram nos últimos meses: Henning Mankell, Oliver Sacks, Eduardo Galeano, Tomas Transtromer, Helena Jobim, Içami Tiba, Günter Grass, Ruth Rendell, Terry Pratchett, Joel Rufino dos Santos, Carmen Balcells, E.L. Doctorow

    São perdas inestimáveis.

    2015, está na hora de virarmos a página!

    Chris Lauxx

     Texto de autoria de Chris Lauxx, pseudônimo dos jornalistas Rogério  Christofoletti e Ana Paula Laux, autores da enciclopédia Os Maiores Detetives do Mundo e editores do site literaturapolicial.com