Para a quarta entrevista da série de Editoras Independentes do Vortex Cultural, conversamos com o editor Gustavo Faraon, da gaúcha Dublinense. A editora surgiu a partir da Não Editora, em 2009, e tem como objetivo um catálogo eclético, de valor literário e comercial, com literatura brasileira e estrangeira de ficção, negócios, humanidades, esportes, música e viagens. Confira o catálogo da editora em http://www.dublinense.com.br/livros/, mas não sem antes conferir a entrevista abaixo sobre o mercado editorial e o período de baixa do setor livreiro.
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Vortex Cultural: O mercado literário nacional segue a mesma perspectiva do país e passa por uma fase continuada de crise. Contudo, como explicar o surgimento de editoras independentes, bem como o maior espaço conquistado por elas, entre os leitores?
Gustavo Faraon: Mas crise é oportunidade, sempre. E é justamente na esteira das (grandes) brechas deixadas pelas grandes e médias editoras que pequenas e minúsculas casas editoriais estão conseguindo atuar, com sucesso, sobretudo em nichos específicos.
Vortex Cultural: A queda do número de livros vendidos parece estar concentrada nas grandes editoras (Companhia, Record e Sextante, principalmente). Isso significa que o modelo de trabalho das grandes editoras está ultrapassado?
Gustavo Faraon: Acho que a queda não é exclusividade dos grandes. Muitos pequenos editores estão sofrendo muito nesse período. E, claro, esses momentos são sempre oportunidade pra todo mundo rever tudo, mas acho que é precipitado dizer assim de maneira peremptória que o modelo está ultrapassado. Sem dúvida precisa ser renovado e revigorado, mas tudo precisa, o tempo todo, dessa constante readequação, né? Então eu diria calma. (risos)
Vortex Cultural: Outro grande problema para o mercado é que as grandes livrarias não estão repassando o dinheiro das vendas às editoras. Atualmente, o pior lugar para vender livro é em uma livraria? Por quê?
Gustavo Faraon: Não é o pior lugar. As livrarias são importantíssimas enquanto espaços de descoberta, e o papel do livreiro me parece mais importante do que nunca. A questão é que um certo modelo de livraria me parece, este sim, um pouco esgotado, que é o modelo de servir como simples entreposto comercial de livros, sem curadoria, sem identidade, etc.
Vortex Cultural: Quais são os melhores parceiros para uma editora independente? Influenciadores digitais (booktubers, resenhistas de blogs, perfis de Instagram sobre livros etc) são os melhores aliados para vendas?
Gustavo Faraon: Jornalistas, booktubers, instagramers, blogueiros, livreiros, curadores de eventos, mesmo agentes, pessoas à frente de instituições culturais e de fomento, gráficos, e voltando pra antes da produção, designers, revisores e até parceiro logístico. Todas as pessoas são muito importantes de se ter como parceiros de verdade. E não é raro que as coisas se misturem. Um booktuber ou blogueiro que vai escrever uma resenha num jornal de grande circulação, um jornalista que vai virar curador de evento, e assim por diante. A coisa é complexa.
Vortex Cultural: Por vezes as editoras independentes passam uma ideia de maior proximidade com o público que lê seus livros. É no melhor relacionamento com seus leitores que uma editora independente encontra sucesso? Quais outras características destaca como fundamentais?
Gustavo Faraon: Sim, é verdade que esse relacionamento muito próximo existe de fato na maioria das vezes. E isso ajuda a editora a ficar mais atenta ao que pode ser legal pros seus leitores. Em grande parte isso acontece porque o editor é que vai contatar os blogueiros e booktubers, vai conhecer eles, é o editor que vai montar a mesa na feira, fazer a venda, conversar e ouvir os leitores, então digamos que é uma proximidade muito orgânica com todas as partes do processo e sobretudo com o público.
Vortex Cultural: Por fim, qual comentário/informação acha pertinente destacar quando tratamos de editoras independentes?
Gustavo Faraon: Que o conceito é amplo, impreciso, e que as editoras independentes TAMBÉM são muito diferentes entre si, e isso é que é lindo.
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Texto de autoria de José Fontenele.