Como um irmão gêmeo do aguardado Boy Erased, O Mau Exemplo de Cameron Post fez barulho em Sundance desse ano ganhando o Prêmio do Júri ao trazer uma discussão muito delicada. Nossa personagem principal – interpretada pela veterana de 21 anos Chloe Grace Moretz – tem um namoro morno e uma relação limitada com sua tia, que cuida dela desde que seus pais morreram. Na noite do baile do colégio, Cameron e sua melhor amiga são flagradas aos beijos e isso faz com que ela seja enviada para um lugar que promete acabar com todos os comportamentos não-heterossexuais pelos estudos da Bíblia.
Se em primeira instância, esperamos que a personagem de Chloe seja fortemente contrária às circunstâncias pelo efeito de narrativa, é neste momento que percebe-se que Desiree Akhavan, diretora do filme, caminha pelas sutilezas. As reações de Cameron refletem bem o turbilhão de pensamentos de uma adolescente em sua situação, elas são confusas, mínimas, praticamente incompletas, como se ela não tivesse certeza nem de quem é, do que sente, e se ela merece ou não estar naquele lugar.
O filme só ganha quando deixa de lado soluções fáceis e opta por questionamentos carregados de culpa por parte da protagonista, e Chloe Grace Moretz entrega uma das suas melhores interpretações da carreira com esses recursos. O restante do elenco também se mostra bem e presente, mesmo que as personagens parem no meio do caminho de seus próprios desenvolvimentos, ao final da produção fica claro que isso é um problema ainda maior vendo o roteiro como um todo. Apesar da temática iniciar de forma promissora, a conclusão soa como rasa.
O Mau Exemplo de Cameron Post trata bem de perspectivas divergentes e complexas em um coming of age, e escancara pelos detalhes as óbvias problemáticas de um lugar que usa a Bíblia como arma. É um filme pertinente para o mundo todo, mas se perde em desenvolver suas personagens e sua narrativa linear sem altos e baixos, sendo quase episódico. Porém, apesar dos problemas, o filme vale pelos ganhos.
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Texto de autoria de Felipe Freitas.