Filipe Pereira, Doug Olive, David Mattheus e Bernardo Mazzei resolveram fazer um revival do post Top 10 Filmes de Natal, de 2012, citando filmes marcantes que utilizam a temática do Natal.
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Batman: O Retorno, de Tim Burton (por David Mattheus Nunes)
O sucesso de Batman, em 1989, permitiu que o diretor Tim Burton alçasse um voo mais alto na continuação da saga do Homem-Morcego. Com um elenco ainda mais estrelado que o de seu antecessor, que contava com Danny DeVito na pele de Oswald Cobblepot, o Pinguim; Michelle Pfeiffer, sensualíssima, vivendo Selina Kyle, a Mulher-Gato; e Christopher Walken, como Max Shreck. A trama, que se passa durante a época natalina, é marcada pelo retorno de Cobblepot a Gotham City, sendo considerado a salvação da cidade, uma vez que impede o sequestro do filho do prefeito, algo que foi arquitetado pelo próprio Oswald, contando com a ajuda de Max Shreck, que quer colocar o Pinguim como prefeito de Gotham. Em paralelo, a jovem secretária Selina Kyle descobre os planos malignos de Max e é jogada do alto de um prédio, sobrevivendo à queda. Selina, uma solteira azarada no amor e que sofre da tradicional síndrome da “louca dos gatos”, se apaixona pelo Batman a ponto de se aliar ao Pinguim para matar o Morcego. O filme tem o estilo de Burton, bem mais acentuado, acrescentando um visual mais gótico a Gotham City. É também uma fita mais violenta, acompanhada de um sarcasmo bastante peculiar e certeiro, o que faz com que certos momentos sejam memoráveis, principalmente aqueles em que Pfeiffer está em cena, como o arco do assassinato de Selina Kyle e sua transformação, ou o momento em que ela engole um passarinho do Pinguim, ou o beijo eletrizante dado em Max ao final do terceiro ato. DeVito não fica atrás, mas seu personagem parece caber mais como um alívio cômico mimado, com sua coleção de guarda-chuvas ou seu patinho no melhor estilo fliperama. Em contrapartida, seu visual é asqueroso, o que contribui com o visual o qual o filme propôs. Infelizmente, Batman: O Retorno tem alguns momentos bem fracos, mas, sem dúvida, colocou o Batman para trabalhar na noite de Natal.
Gremlins, de Joe Dante (por Filipe Pereira)
Após algumas viagens ácidas pelo mundo dos filmes trash de Roger Corman, Joe Dante começa a adentrar no cinema familiar se juntando a Chris Columbus para produzir Gremlins. Com uma forte influência de A Pequena Loja de Horrores, o filme conta a história de um pai que pensa em um criativo presente de Natal para seu filho, dando-lhe alguns animais de pequeno porte, fofos em essência, mas que guardam um potencial destrutivo tremendo. O poderio do caos das criaturas pode ser analisada no viés da infantilidade exacerbada, repleta de travessuras, como também de uma rasa metáfora com a voracidade do capitalismo selvagem e destrutivo, em uma data que deveria significar o renascer de uma figura ecumênica.
Feliz Natal, de Selton Mello (por Doug Olive)
Um filme amargo e cínico – no bom sentido. Antítese sob forma de mural do espírito do Natal, mural de relações humanas alheio a Frank Capra, mas se apoiando em Iñarritú numa versão alternativa e não radicalmente contrária ao belo e lenitivo sentido familiar dos clássicos apaziguadores de Ozu e Capra, o próprio. Qualquer diretor que no primeiro filme aposta mais na linguagem visual que na literal merece respeito, afinal isso não é garantia de sucesso ou aceitação, e Selton Mello se dá notavelmente bem sendo esse seu primeiro tiro ou décimo, em termos de harmonia a favor da desarmonia de personagens desequilibrados, todos se aturando em convívio cínico – daí o cinismo já apontado – no reencontro em uma festa que era pra ser tão diferente do que acaba sendo em muitas famílias, lares afora. Feliz Natal trata cada figura como mundos em colisão, pois de cada choque é oriunda sua presença válida em muitas listas natalinas, subversivas ou não, ao leve contexto da festa. O fim de ano foi o começo da expansão de Selton, de ator a cineasta, para a direção do quadrante onde o artista se ergueu.
Rocky IV, de Sylvester Stallone (por Filipe Pereira)
O mais galhofado filme da franquia – ao menos até então – do boxer ex-fracassado tem na gélida Rússia o seu cenário principal, lembrando o estado de nevasca típica da propaganda do American Way of Life em tempos de 25 de dezembro. A vitória de Rocky Balboa é fechada com um discurso de conciliação, semelhante ao estado de hipocrisia de muitas mesas familiares pelo mundo.
Papai Noel às Avessas, de Terry Zwigoff (por Bernardo Mazzei)
Totalmente oposta ao conceito de filmes natalinos, essa comédia de humor negro, dirigida por Terry Zwigoff e produzida pelos irmãos Coen, traz Billy Bob Thornton em uma inspirada interpretação de um vigarista beberrão, viciado em sexo e que trabalha como Papai Noel em shoppings e lojas apenas para roubá-los depois. Apesar do título brasileiro meio infantil, o filme é totalmente voltado ao público adulto, com gags bastante pesadas e diálogos bem ofensivos. A obra merece ser apreciada por quem gosta de uma boa comédia e não é um hipócrita entusiasta do politicamente correto.
O Expresso Polar, de Robert Zemeckis (por Filipe Pereira)
Contando uma história bastante clássica, O Expresso Polar remonta a uma orfandade não literal ao apresentar um protagonista sem fé infantil, desacreditado no arquétipo do Papai Noel e do Natal em geral. Baseado no conto de Chris Van Allsburg, o filme de Zemeckis é leve, como toda sua filmografia, e marcou época por ser a primeira fita totalmente digitalizada em captura de filme, pressuposto que abriu as portas para inúmeras outras obras, como As Aventuras de Tintim.
O Grinch, de Ron Howard (por Doug Olive)
Quem vê Jim Carrey como o Grinch não esquece. Difícil afirmar que esta seja a sua melhor atuação, mas ser inesquecível debaixo de duas toneladas de maquiagem não faz da afirmação um exagero. Uma caricatura sadia nos limites do cômico e do overacting, uma corda-bamba entre extremos que Carrey transita sem aparentes dificuldades, quase que de forma natural devido ao carisma do comediante. O ator é a alma da adaptação poética, e muito bem produzida, do livro infantil do escritor Dr. Seuss, não devendo em nada ao material de origem, sendo, tal qual o livro, um exercício de graça e comicidade e que, se houvesse caído nas mãos de Tim Burton, talvez seria um exagero. O forte sentido natalino e extrovertido se deve também à versatilidade do cineasta Ron Howard, que consegue ter o hilário O Grinch e o sério (e seu melhor) Frost/Nixon no mesmo currículo. Mas, diferente do chato O Código da Vinci, fábulas descompromissadas e de caráter universal como essa, um patinho feio verde que se orgulha de ser o que é, sempre terão o seu lugar.
Um Herói de Brinquedo, de Brian Levant (por Bernardo Mazzei)
Depois de enfrentar alienígenas assassinos, cyborgs de metal líquido, ser irmão gêmeo de Danny DeVito e se transformar num tira no jardim de infância, Arnold Schwarzenegger enfrenta um enorme desafio: comprar o brinquedo mais procurado dos EUA na véspera do Natal. Comédia leve com algumas situações divertidas (e uma ode ao consumismo), Um Herói de Brinquedo não é das mais inspiradas películas sobre o feriado natalino, mas compensa pelo fato de vermos Arnoldão desfilando sua sublime canastrice no papel de um homem normal. Vale uma espiada.
De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick (por Doug Olive)
Kubrick e sexo, só faltou o rock’n roll, que não iria combinar com o clima de suspense e subclima de terror em De Olhos Bem Fechados – um piano de notas apreensivas veio mais a calhar como trilha-sonora impecável, compondo-se, entre inúmeros elementos, uma tortuosa escada de surpresas, sempre pra baixo e sob hipótese nenhuma pra cima. O mundo acontece debaixo do tapete, e, após o personagem de Tom Cruise ver o que pessoas… normais, digamos, não precisam ou devem ver, ele nunca mais andou na rua, na reles superfície de uma Terra profunda, em paz. De segredo em mistério, o filme é um striptease europeu em Nova York. É o casamento sensorial e audiovisual de 2001 – Uma Odisseia no Espaço com Da Vida das Marionetes, visto serem os truques de câmera, a cor, o clima tenso crescente, a sensação de insegurança e o jeito elegante e emocionalmente rígido de Kubrick e Bergman de se contar uma história, os responsáveis por tornar a atmosfera asfixiante do filme a obra mais perturbadora do diretor – aluno de si mesmo ao usar em seu derradeiro filme conceitos próprios, de O Grande Golpe a Barry Lyndon. Um grande filme conjugal, obra almejada por David Fincher ao nos apresentar seu Garota Exemplar 15 anos depois, e acima de tudo, ironicamente à luz dos pisca-piscas de Natal sobre a oculta solidão humana em mina bergmaniana, na qual poucos pisaram sem detonar a própria reputação.
A Origem dos Guardiões, de Peter Ramsey (por Filipe Pereira)
A animação de 2012 reúne personagens de múltiplas culturas, ligados, entre outras coisas, a célebres datas. O Papai Noel abre mão do egoísmo para agir junto ao Coelho da Páscoa, Fada do Dente e Sandman, que, juntos, protegem a infância e a inocência típica da idade. A valorização da ingenuidade prioriza a pureza de espírito em uma fita que consegue entreter satisfatoriamente crianças e adultos.