Muito se falou a respeito do fenômeno de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, talvez tenha sido até aqui o filme mais comentado e discutido do ano. Ao passo que temos um Vortcast sobre o assunto, em que a impressão geral foi ruim, há duas críticas positivas no site, uma de autoria de Doug Olive e outra de Marcos Paulo. Só nos objetos citados nota-se uma divisão de opiniões e conclusões muito fortes, e a resposta da Warner foi enfática, de que o produto pensado pelo “visionário” Zack Snyder não teria cabido em um formato de longa-metragem para o cinema comercial e que, por isso, haveria uma versão de mais de três horas com material adicional, como já havia ocorrido de modo semelhante na versão do diretor para Watchmen, e também igualmente atrapalhada.
Discordando do slogan de uma rede de comercial de exibição da sétima arte, o cinema não é (só) diversão, mas também discussão, especialmente quando se trata de franqueza. A análise de BvS tem de se levar em conta a expectativa, que já é grande em condições normais, em torno de um filme de herói. Neste, a proporção de expectativas tornou-se enorme, com atrasos e declarações de que o filme não seria entendido pelo grande público. Curioso é que a imensa maioria de pessoas que gostaram do filme de Snyder faz parte desse grande público, enquanto a crítica fez comentários bastante pejorativos ao filme, o que foi agravado após o lançamento de uma cena inédita poucos dias após o lançamento da obra no cinema. Parecia uma medida de desespero da Warner e dos produtores, e os fatos posteriores só pioraram a situação, como a saída de Seth Grahame-Smith da direção do vindouro The Flash, situação que ajudou a fomentar o conceito, que o diretor já tinha, de executar de maneira superficial histórias que deveriam ser mais profundas.
Pelos blogs especializados em quadrinhos circulou uma demonstração, em redes sociais de fãs, de desculpas ao realizador, retirando os xingamentos mais comuns na época, ainda que não houvesse por parte desses mesmos blogs a preocupação em mapear os comentários anteriores desses fãs ardorosos, visto que poderiam ser os mesmos que idolatraram o filme e que, agora, engrossavam um coro de pseudo-justiçamento. A primeira mudança de fato ocorre após dez minutos do filme, com uma introdução mais detalhada do personagem de Jimmy Olsen (Michael Cassidy), o fotógrafo que acompanha Lois Lane (Amy Adams) no lugar de outro profissional em sua viagem. A sequência não garante ao jornalista qualquer importância maior ou mais sentido ao combalido roteiro de David S. Goyer. Os detalhes não passam de um monitoramento bobo do governo americano na situação da repórter em terras estrangeiras e cenas de lamento pelos terroristas mortos em solo africano, com direito a mais slow motion.
As cenas de sonho, das quais o Bruce Wayne de Ben Affleck tira motivação para cumprir suas metas, são também estendidas, acrescentando um pouco mais de significado, mas nada que salve o nexo da questão. O mesmo pode-se dizer da discussão entre o patrão e seu mordomo, da qual finalmente o detetive mostra alguma autoridade sobre seu criado e mentor. A amplificação das cenas inclui também algumas reflexões bobas, como a do Super-Homem verificando os feridos no atentado à bomba ocorrido no tribunal, sendo rechaçado tola e gratuitamente por um bombeiro anônimo. Outro momento desnecessário é a mudança no primeiro encontro dos heróis, no embate entre o batmóvel e o kriptoniano, que possui os mesmos significados entre versões, apenas com cenas extras que também nada acrescentam.
Torna-se difícil não associar essa onda de arrependimento – se é que ocorreu por vias comuns de fato – a uma carência extrema por parte do público decenauta ou do nerd nada calejado, ou pouco acostumado a consumir as péssimas adaptações de quadrinhos antigas, e, portanto, menos exigente. A necessidade de enxergar mais textura e inteligência em um filme acéfalo também denuncia o quão míope pode ser o olhar do fã que não possui o senso crítico como norte. Não que gostar de Batman vs Superman seja parâmetro de intelectualidade ou da falta dela, mas tentar enxergar algo além nesta versão em comparação ao mostrado na grande tela é de uma miopia enorme. Isso mesmo contando com esta versão, que consegue ter um final pior do que a versão da telona, com momentos dignos dos piores episódios de Power Rangers.
Se o diretor tivesse sido realmente podado, como grande parte dos defensores do filme gostam de afirmar, simplesmente não caberia a ele a produção de Esquadrão Suicida, nem a direção dos filmes vindouros da Liga da Justiça, sendo o cineasta uma das cabeças pensantes desse universo cinemático compartilhado, quadro que mudou recentemente, sendo esta talvez a razão maior da elevação de Geoff Johns ao posto de produtor da DC Entertainment.
Zack Snyder é claramente um cineasta para produtos menores. Suas melhores empreitadas em adaptação surgiram de produtos menos verborrágicos, como 300. Até seu acerto em Madrugada dos Mortos não tem nenhuma substância semelhante ao clássico Despertar dos Mortos de George A. Romero. As discussões propostas em sua filmografia são, em sua maioria, infantis, e fatalmente isso não seria um problema em se tratando de um filme de quadrinhos, como ocorre nos produtos Marvel Studios. No entanto, o tom sombrio e a escalada que a DC Comics providenciou para seus filmes são de obras mais sérias e maduras, e não há manifestação disso até o momento, muito menos a exploração minimamente satisfatória da questão de um deus habitar entre homens, como ocorre com o Super de Henry Cavill neste universo.
E que o martelo seja batido. BvS é uma merda tendo 2h30m ou 7h de duração.
Só vejo ódio sem sentido. O filme não foi maravilhoso, mas foi bom (e eu ainda não vi a versão extendida)
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