Dizem que a FLIP é uma caixinha de surpresas. Nem sempre o evento com a maior probabilidade de ser excelente, com dois grandes escritores, torna-se a melhor mesa literária. Se os envolvidos não conseguem produzir um bom diálogo, mantiver uma química, tudo é fracasso.
Porém, há palestras que não perdem seu potencial de maneira alguma, como a quarta mesa do evento, Olhando de Novo para Guernica de Picasso, um tema específico escolhido a dedo para dialogar sobre a pintura, pouco explorada na festa literária com possibilidade nula de falhar.
O crítico e professor de arte Paulo Sérgio Duarte foi o responsável por abrir a conferência apresentando T. J. Clark, um dos mais experientes críticos vivos de arte que, nas palavras de Duarte, ainda ousa produzir seus artigos sem se afastar dos objetos de estudo. Mantendo ativamente a análise ao lado de cada obra, em sua produção crítica.
Clark reconhece que Guernica, de Picasso, é uma obra grandiosa. Assim, escolhe o espaço dentro da tela para dissertar sobre o modo de composição do pintor até finalizar derradeiramente o grandioso quadro – grande também por suas proporções, além das diversas leituras diferenciadas.
Transita pelas etapas de produção, revelando esboços e retratos tirados na confecção do quadro e extraindo detalhes de quem, sem dúvida, dedicou-se a observar cada pincelada do quadro como um movimento inteiro novo.
O diálogo com o público é franco sem nunca duvidar da competência de sua análise. Densa, repleta de pormenores mas que, em uma fala concisa e entusiasmada produz no público a óbvia sensação de que estamos lidando com um grande profissional de arte capaz de transmitir apaixonadamente o que sente por aquilo que estuda.
Quanto a Guernica, a obra continua completa, talvez ainda mais contemporânea, ainda mais precisa, um dos maiores quadros ilimitados da arte.