2013 foi um grande ano para a música brasileira, estabelecendo um período de renovação de diversas cenas musicais, como o rap, mpb, rock e outras produções musicais em geral. Um dos anos mais férteis para a música nacional, sem sombra de dúvida. Logicamente, esse cenário não é disseminado nas rádios e TV: para conhecer um pouco do que tem ocorrido fora da grande mídia, você precisará deixar a preguiça de lado para perceber tudo isso. Afinal, se você depende das emissoras de rádio e TV para conhecer o que tem rolado na cena nacional, ou você é muito ingênuo ou está assinando seu atestado de imbecil.
Por essas e outras, deixo logo abaixo uma lista do que mais gostei em 2013. Uma gama de artistas, de grandes gravadoras a independentes, que passam longe de fazer concessões artísticas para que um número maior de ouvintes conheça seu trabalho.
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Bixiga 70 – S/T
O segundo álbum de estúdio do Bixiga 70 potencializa tudo o que já foi consolidado no disco de estreia. Ao longo de nove faixas, a big band esbanja versatilidade, passeando por gêneros africanos e combinando temas jazzísticos ao melhor estilo Miles Davis. O Bixiga 70 faz um álbum instrumental que certamente agradará até aqueles que não gostam do estilo. Suingado até o último segundo. Ouça:
Phillip Long – Gratitude
Paulista de Araras, Phillip Long retoma à origem folk em seu novo trabalho, Gratitude. Long inscreveu uma marca bastante pessoal neste disco, criando composições de soluções simples, mas repletas de sensibilidade. Suas canções são intimamente pensadas, estabelecendo-se um registro sincero sobre o amor, seja ele um impiedoso afeto, aproximação espiritual ou sua banalização. Tudo isso sem soar piegas. Ouça:
Emicida – O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui
Ao lado de Criolo, Projota e outros nomes, Emicida alcançou uma relevância maior no cenário atual do rap e do hip-hop que se resumia apenas a uma pequena e restrita cena musical. Em seu primeiro disco, após o lançamento de uma série de mixtapes, Emicida se reinventa e conversa com outros estilos sem perder a originalidade que o tornou conhecido, algo que parece ter sido influência direta da turnê ao lado de Criolo. O disco conta ainda com uma série de participações, de Wilson das Neves a Pitty. Discaço! Ouça:
Vespas Mandarinas – Animal Nacional
Animal Nacional tem tudo para se tornar um clássico do rock nacional. Se ele irá se tornar, é outro assunto, o fato é que a Vespas Mandarinas, em seu primeiro álbum, entregou um disco de rock and roll muito distante daquelas bandinhas indies que brotam em cada esquina e cujos integrantes não sabem nem afinar os próprios instrumentos. Coeso, com peso na medida certa, ótimas letras e bom entrosamento entre os músicos. Se você sente falta de uma boa banda de rock nacional, Vespas Mandarinas é uma ótima dica. Ouça:
Wado – Vazio Tropical
Vazio Tropical, produzido pelo hermano Marcelo Camelo, é um trabalho que causa admiração e surpreende o ouvinte a cada audição, dado o riquíssimo trabalho melódico e harmônico de cada canção. Os menos de trinta minutos de duração do disco vão de emoções leves a densas ao longo das onze faixas. Um álbum que certamente não passará despercebido. Ouça:
Rashid – Confundindo Sábios
Michel Dias da Costa, ou melhor, Rashid, é mais um nome que surgiu no cenário atual do rap nacional. As comparações com Emicida de fato existem, seja pelo timbre de voz ou o compromisso do rapper com o estilo, contudo as semelhanças param por aí. O trabalho recente de Rashid é muito mais combativo que o do parceiro Emicida. Seu discurso põe o “dedo na ferida” em temas cotidianos da periferia, sem os clichês do gênero. Confundindo Sábios é um disco de um artista que tem muito a dizer. Ouça:
Hamilton de Holanda – Trio
Com André Vasconcellos no baixo, Thiago da Serrinha na percussão e liderado pelo virtuose Hamilton de Holanda e seu bandolim de 10 cordas, Trio é um disco intimista que reúne ótimos músicos e comprova uma entrega impressionante por parte de cada um deles, deixando de lado o vômito de notas, como é costume de alguns álbuns instrumentais. Hamilton está mais interessado na espontaneidade e beleza de cada canção do que em demonstrar sua tecnicidade a quem queira ouvir. Ainda bem. Ouça:
Marcelo Jeneci – De Graça
Após o ótimo Feito Pra Acabar, de 2010, Marcelo Jeneci retorna com De Graça, seu segundo álbum solo, e novamente acerta ao entregar um trabalho repleto de canções sutis sobre sentimentos e cotidiano. As composições transitam entre baladas que tocariam facilmente em qualquer rádio e canções mais introspectivas e melancólicas. No final das contas, Jeneci comprova que ainda é possível fazer um pop de alta qualidade sem se render a padrões estabelecidos por gravadoras ou empresários. Ouça:
Lulu Santos – Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo
A carreira de Lulu Santos vive de altos e baixos, contudo é um artista que vive se reinventando, e é, acima de tudo, competente naquilo a que se propõe. Algo difícil de se ver em um músico com mais de 30 anos de carreira. Observamos nesse álbum de covers que está além de uma simples releitura: Lulu vira do avesso as composições de Roberto e Erasmo Carlos, cria arranjos originais e se envereda por diversos estilos com a competência de sempre. Você pode até não gostar do cara ou a proposta deste álbum, mas a inquietude que percorre a carreira de Lulu é surpreendente. Ouça:
Móveis Coloniais de Acaju – De lá Até Aqui
O Móveis segue com seu terceiro disco e novamente temos em mãos um trabalho diferenciado de uma banda que sempre procura buscar novas inspirações e estilos. O som dos caras continua o mesmo: rock com aquele tempero regional. As influências de Beatles e do rock inglês continuam cada vez mais fortes ao mesmo tempo em que a presença do soul, marca registrada da banda pelo uso de metais, se perde um pouco neste terceiro álbum. No entanto, o amadurecimento musical da banda parece cada vez maior. Altamente recomendado. Ouça:
Ótima lista, vai ter top 10 discos internacionais?
Esperamos que sim. Flávio manda bem nisso.