Tomando como base uma Detroit de um futuro próximo (em 2018), 13º Distrito usa a mesma base e plot de B-13, versão envelhecida em dez anos das aventuras Le Parkour de David Belle, e dirigida pelo sempre “implacável” Pierre Morel, acompanhado dos escritos de Luc Besson e Bibi Naceri. Esta nova versão, alcunhada de Brick Mansions contém alguns elementos de ação adjacentes, como a estrela do recém-falecido Paul Walker fazendo o ofício inédito de detetive disfarçado, chamado Damien Collier que investiga ações de traficantes de narcóticos.
Talvez o diferencial da direção de Camille Delamarre esteja nos ângulos explorados por ela, para grafar toda a fuga de Lino Dupree (Belle) em sua jornada de escapada. A violência exposta na cidade é valorizada através da edição frenética e repleta de cortes secos, com enormes variações de abordagem, algumas vezes mudando a abordagem quadro a quadro. O modo como Camille registra sua fita tem muito a ver com a escola francesa de filmes de ação, cujas referências vão desde Morel, como também Olivier Megaton e Richard Berry, com quem já havia trabalhado, editando filmes anteriores de ambos.
A paranoia da cidade que se agiganta e comprime o homem com sua violência gratuita é um assunto atual, mas sua abordagem é batida e há muito datada. Ainda assim, consegue atingir muitos públicos, como aqueles que se mostram fiéis ao filão da “ação pela ação“. O problema maior prossegue sendo o empobrecimento do roteiro, com situações tão genéricas se avolumando a frente das câmeras e esboçadas em scripts por gente gabaritada, como é Luc Besson. A expectativa por suas produções torna-se a cada dia menor do ponto de vista da análise qualitativa das suas histórias.
O clichê se agrava ainda mais pela (já citada) escolha de seu protagonista. Imaginar Paul Walker fazendo outra coisa que não um tira com problemas de identidade e motivação é um exercício de futilidade tremendo, tão óbvio que assustaria se não ocorresse assim. Sua figura é tão associada a esse comportamento que a simples aparição dele remete a esse arquétipo. As poucas variações disso dentro do filme incluem uma vingança pessoal que o agente da lei quer executar. Em suma, tais coisas servem de pretexto para inserir algumas cenas de ação, perseguição física e em estradas, repletas de efeitos em slow motion, cuja qualidade é bastante interessante – ao menos.
O corpo policial de Detroit é deveras corrupto, e o modo como isso é abordado é caricato de um modo singularíssimo. Lino consegue prender o narco-traficante Tremaine (o rapper RZA) e levá-lo até uma emboscada, somente para, ao chegar lá, perceber que ele havia comprado os agentes da lei antes. Todo o estratagema é tosco, e só piora com as conexões que este plot faz com a trajetória de Collins. O outro lado da história mostra que Tremaine tem em mãos uma poderosa arma de destruição em massa, que tem um timer de apenas dez dias para ser desativada. Os caminhos de Lino e Collier se cruzam, mas antes que eles possam tornar-se amigos inseparáveis, o fora da lei e o infiltrado se metem numa pequena disputa, cujo motivo da desavença é uma mini-van, mostrando que o sonho do suburbano atinge também os astros do cinema pipoca.
Em pouco tempo, Damien se vê sozinho, sem auxílio por parte de nenhum dos seus, em meio ao temido décimo terceiro distrito, uma enorme favela, separada do resto da cidade por um muro gigante, um lugar tão “barra pesada” que não existe qualquer ação de governo que não seja ligada ao poder paralelo. O lugar é invisível aos olhos do resto dos cidadãos, a não ser dos que mandam Collier atrás da tal arma.
É nesse castelo caótico que a amada donzela em perigo está. Lola (Catalina Denis), ex-namorada de Lino, está sob o poder de Tremaine, como sua refém, que eventualmente pode servir de moeda de troca. É curioso como a trama se movimenta a partir deste ponto, pois o que falta de sutileza na relação entre policiais corruptos e traficantes, sobra por meio da ambiguidade no discurso de Tremaine, que acredita veementemente ser um Robin Hood do gueto, somente dando um pouco de alívio através das substâncias que comercializa, para aqueles que são sumariamente ignorados pela elite branca (sic) e que sofrem com as mazelas sociais e econômicas, das mais básicas até as especiais. Esta, como outras mil histórias, possui dois (ou mais) lados, uma pena que o esquizofrênico roteiro só tenha se dado conta disso após mais uma hora de execução.
As sequências de luta após isso se repetem um pouco. Nem mesmo em seu ponto mais forte o filme consegue imprimir algum ineditismo. É legal notar que qualquer discussão ou conflito, por mais espinhoso que seja, pode ser resolvido na porrada, inclusive a disparidade de renda e o abismo social que existe entre as classes dominantes e os marginalizados.
A ideia de trazer a Revolução Francesa a um patamar mais atual não funcionou em B-13 e é pior neste, apesar das belíssimas intenções. Tudo neste final parece uma piada de mal gosto, com as transformações piegas dos antigos vilões dumau em belos contribuintes da sanidade da cidade. Brick Mansions é difícil demais de engolir, especialmente se o receptor for adulto, e dada a violência dele, este também não seria um produto para crianças. A que público a história se destina prossegue um mistério, talvez a um que não se importe em acompanhar algo que ofenda a sua inteligência no escurinho do cinema.