Futurista, A Seita é o novo filme de André Antônio, realizador também de Canto de Outono. A trama gira em torno do personagem de Pedro Neves, que, no ano de 2040, decide retornar das colônias espaciais para viver no Recife, encontrando assim o cenário bastante parecido com o dito contemporâneo. Destacando cores, sabores e manias peculiares, a obra trata a questão da homo afetividade não como algo proibido pela sociedade, pressupondo ao menos em um primeiro momento que o social já não segrega mais o homossexual.
Antonio não tem pudor em retratar um protagonista que age como um verdadeiro predador sexual, tampouco se furta em mostrar a nudez masculina de forma erotizada, sob um enfoque normalmente atribuído ao sexo feminino, com detalhes nas nádegas e em pernas desnudas, focalizando em marcas de sunga, em diálogos repletos de modernidade e gírias, típicas da parcela jovial da população.
Driblando a monotonia que algumas vezes domina o folhetim, o roteiro usa dos ditames sci-fi para fazer alegorias básicas sobre o virtuosismo que a classe dominante julga ter unicamente por abraçar as classes menos favorecidas, comparando o Recife com colônias espaciais. O tema é atualíssimo, especialmente pela propensão de hipócritas que se julgam protagonistas de lutas sociais unicamente por defender valores justos, que são supostamente parte do comportamento obrigatório de qualquer progressista.
No entanto, até esse conteúdo de contestação não é propriamente desenvolvido, e sim sugerido. A ideia de A Seita poderia ter sido muito mais, ao passo que esbarra em uma pretensão de produzir algo magnânimo, que resulta em um produto pouco inspirado e que tenciona arrotar uma erudição que claramente não é a sua, causando no espectador um incômodo não com os conceitos que tentou alcançar, mas sim com a execução trôpega a que é submetido.