A Senhora que Morreu no Trailer é a resultante de uma homenagem que os diretores Alberto Camarero e Alberto de Oliveira fizeram em torno de vida e carreira de Georgina, uma mulher do sertão baiano que ganhou notoriedade como Diva Rios na época da efervescência cinematográfica da zona paulistana da Boca do Lixo, bem como de Suzy King como foi conhecida na Lapa e Copacabana no Rio Janeiro. O documentário viaja até a fronteira entre EUA e México, onde ela faleceu, já com uma terceira alcunha, Jacuí Japurá, uma mulher que fazia números com serpentes e cobras.
Ao visitar o trailer onde os último momentos da vida de Georgina ocorreram, os diretores apresentam uma abordagem contemplativa, de início acompanhada de uma característica música de mariachis que conversa bem com a contumaz percepção preconceituosa dos estadunidenses com os latinos, insistindo que todos os povos abaixo de sua fronteira tem a mesma cultura e consumo.
O filme é itinerante, passeia pelos cenários onde Suzy/Jacuí se apresentou, em comum entre eles, há pichações nos prédios antigos, pisos gastos e mal tratados, e lixo espalhado pelo espaço urbano que é o típico lar das criaturas da noite e da boemia. Toda área coberta por ela é bem exemplificada, a montagem favorece e dinamiza o registro histórico.
O trabalho histórico que Camarero e Oliveira empregam aqui não mira só na história de uma artista esquecida, mas também na valorização do trabalho artístico marginal. Há uma sábia escolha em falar de praças menos favorecidas, emulando evidentemente a condição de luta e resistência desses artistas.
O filme carece de um ritmo mais dinâmico, abusando de excessos e repetições, mas dado o fato de que essa história é a de uma quase anônima, esse resgate ajuda a aplacar a sensação do longa ser extenso demais. Os diretores fazem um trabalho hercúleo de resgatar a história de King e traze-la a um público que certamente não saberia de sua existência não fosse esse esforço, ao mesmo tempo que se faz isso, também há uma valorização da arte de rua e marginal.