Produção cercada de expectativas, em especial por ser baseada no best-seller de Stephen King, Torre Negra entrega uma adaptação que brinca com muitos dos arquétipos e estereótipos da mitologia em torno do pistoleiro e de seu mundo paralelo, chamado de Midworld, mas sem seguir uma linha guia demasiada fiel a série literária composta por oito volumes. As licenças poéticas tomadas pelo diretor Nikolaj Arcel e sua equipe de roteiristas passaria batida, caso não fosse o desfecho anti-climático do longa.
King costuma usar sua bibliografia para se auto-referenciar e os livros da saga fazem muito isso. O protagonista, Jake (Tom Taylor) é um menino com poderes especiais, chamado o tempo todo de shinning (título original de O Iluminado). O menino sonha algumas vezes com uma outra dimensão e com uma série de desventuras, e no meio delas, ele se encontra com duas figuras chaves, o pistoleiro Roland (Idris Elba) e o homem de preto, Walter (Matthew McConaughey). No ambiente em que vive, ele é encarado como um garoto descompensado e problemático, mas sua real vocação esconde em si um dom que o faz ser perseguido pelos opositores.
A recepção negativa por parte da crítica especializada não é em vão. Torre Negra possui sérios problemas dramáticos, que são prontamente driblados pela capacidade que Arcel tem em tornar as situações em momentos graves. A química entre Jake e do pistoleiro também funciona, o problema é que quase todo o restante do entorno não tem importância dramática. A dinâmica de pai e filho sustenta boa parte do texto, mas todo o restante parece apenas sobras coladas ao todo, sendo material exposto lá unicamente para fazer volume. Mesmo esses acertos da direção se perdem em meio a esses defeitos.
Outro grave equívoco é a personificação de McConaughey, que parece ser uma versão menos inspirada e menos histriônica dos vilões de James Bond. Seus poderes são absurdos, mas a tradução para o áudio visual soou boba e com pouca magnitude. Um sujeito que pode manipular elementos da natureza e pessoas deveria soar ameaçador e a realidade contemplada aqui é a de um antagonista de livro infantil. A luta que tem próxima ao desfecho é tão mal coreografada que causa risos na plateia, quebrando o momento que até então, transformava o filme em algo minimamente tragável.
As sequências de lutas tem um caráter variado, ora acertando no tom ora abusando da questão mística. Ao menos, o slow motion no filme tem uma função narrativa que vai além feito usualmente por Zack Snyder e outros cineastas da moda. Ainda assim, Torre Negra soa como um potencial grande desperdiçado, uma vez que poderia ser um pontapé para uma nova franquia, que consegue até se bastar em um episódio só, mas que entrega muito pouco diante da megalomania que vinha prometendo em todo material promocional.
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