Depois de quase uma década sem dirigir longas-metragens, Jocelyn Moorhouse retorna à condução no drama The Dressmaker, pessimamente traduzido para A Vingança Está na Moda, fato que faz vender o filme como se fosse uma comédia. O roteiro acompanha a chegada de Myrtle ‘Tilly’ Dunnage, vivida por Kate Winslet, que retorna a sua cidade natal na Austrália, um lugar desolado de distância mesmo entre as casas. A volta da protagonista é em grande estilo, e seu intuito logo fica evidente: provar aos seus antigos convivas que seus feitos foram muito além do que os camponeses julgavam.
Tilly age como uma autêntica femme fatale, a despeito da idade de sua intérprete, que se vale exatamente de sua bela forma para perverter os ideais conservadores da comunidade rural, tirando a atenção até dos jogadores de rúgbi. Seu primeiro ato ao chegar no ponto de seu nascedouro é tentar arrumar os modos e vestimentas de sua mãe Molly (Judy Davis), fazendo do lar de sua infância a base para seu plano.
A trama é atravessada por flashbacks, que mostram a personagem principal na infância, sendo maltratada por outras crianças, pelas mesmas que compõem o status quo do lugarejo, com referências inclusive a abuso sexual ainda quando criança e segregação tanto da vingadora quanto de sua mãe, com demonstração de conivência por parte dos vizinhos já adultos. Através de máquina de costura, Myrtle passa a vender a moda que a fez trabalhar quando estava em Melbourne estudando alta costura.
A forma escolhida pela personagem para aproximação envolve troca de favores e cessão de trabalhos para os poderosos, mas Dunnage não os trata como os nobres que esta versão da classe média acha que é, mas ao contrário: é hostil mesmo prestando serviços de moda. Não há condescendência por parte de Tilly. A única pessoa que foge desse escopo de desprezo é Teddy McSwiney (Liam Hemsworth), que serve como uma das poucas alternativas à moral dentro da localidade, tendo por fim um destino trágico.
A direção de Moorhouse varia entre a discrição e o glamour, acentuando a duplicidade da literatura de Rosalie Ham, tornando ainda mais importantes as questões familiares conflituosas entre mãe e filha e a cadeia de necessidade previamente estabelecido e pervertido próximo ao final. O tom agridoce valoriza ainda mais as viradas de destino presentes em A Vingança Está na Moda, fazendo dele um diferencial, ainda que moderado em meio a tantos filmes mornos dentro desse subgênero.