Courtney (Ellen Page) é uma estudante de medicina interessada em experiências de quase morte. Auxiliada por quatro colegas, tem seu coração parado depois revivido. Relutantes a principio, os demais resolvem passar pela mesma experiência, após testemunhar os efeitos iniciais desse “desligamento” temporário – aumento nas capacidades intelectuais, memória mais apurada, intuição aguçada, euforia, entre outras coisas. Ray (Diego Luna) é o único que não embarca na onda. Mas esses não são os únicos efeitos. O experimento parece tê-los deixado suscetíveis a visões, flashes de acontecimentos passados que começam a atormentá-los.
Com roteiro de Ben Ripley e direção de Niels Arden Oplev, o filme é um remake de outro homônimo (no idioma original; no Brasil ganhou o título de Linha Mortal), lançado em 1990. E consegue ser tão ou até mais “esquecível” que o outro. A presença de Kiefer Sutherland – Dr. Barry Wolfson, orientador dos estudantes, na versão de 2017; Nelson Wright, um dos estudantes, na versão dirigida por Joel Schumacher – faz um link entre as duas versões. Mas é uma referência que pouco ou nada acrescenta à narrativa, é apenas uma curiosidade, algo que apenas quem assistiu o primeiro filme numa Sessão da Tarde irá perceber.
Há coisas mal amarradas e mal explicadas na história. Por exemplo, equipamentos de última geração, funcionando em perfeito estado, aparentemente “abandonados” no subsolo de um dos prédios do hospital-escola. A premissa da história é boa, o que não garante que o filme também o seja. O roteiro opta por soluções pouco criativas, sendo previsível a maior parte do tempo. Tem-se a impressão de que o roteirista queria mostrar que o que os personagens fazem não é certo e que eles devem pagar de alguma forma por isso. É como se corrigir seus erros e expurgar os traumas os redimisse de brincar de deus. Mas por que após a quase morte os estudantes passam a ser “perseguidos” por traumas do passado? Em nenhum momento, o roteiro fornece qualquer pista a respeito. Para as demais reações, há até um esboço de explicação. Porém não há referência a essa reação negativa que, afinal, acaba sendo a fosse motriz da narrativa.
A primeira parte vai bem, enquanto o espectador cada um dos estudantes que passa pela experiência de quase morte e as respectivas reações. Na segunda parte, em que se misturam essa busca pela redenção e um terror mal planejado, a narrativa se torna bastante inconsistente ao tentar assustar o espectador com sustos banais e previsíveis. Mesmo quando ocorre uma tragédia, é tão óbvio o que iria acontecer que perde todo o impacto dramático.
E a construção dos personagens não contribui. São todos bem estereotipados e, por isso, mesmo pouco cativantes. Há a mocinha aplicada, assombrada pela morte da irmã caçula, Courtney; o playboy inconsequente, Jamie (James Norton); a riquinha fútil, Marlo (Nina Dobrev); a CDF submissa à mãe, Sophia (Kiersey Clemons); e o rapaz menos favorecido, com menos oportunidades que seus colegas, Ray. Os atores são competentes, mas os personagens são tão bidimensionais que é difícil o espectador se importar com o destino de cada um.
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Texto de autoria de Cristine Tellier.