Proposta ousada do diretor David Pablos – também realizador de A Vida Depois – As Escolhidas é um filme-denúncia que aborda o gravíssimo assunto de sequestro de menores seguido de exploração sexual, um tema que infelizmente é conduzido de um modo peculiar e sensacionalista pela mídia.
A trama gira em torno de Ulises (Óscar Torres, em uma interpretação que não convence em momento algum), o caçula de uma família estranha, que se apaixona pela bela e jovem Sofia (Nancy Talamantes) e está prestes a apresentar a moça para seus parentes, em um misto de orgulho e vergonha.
A questão relacionada a escravização sexual poderia ser muito bem explorada. No início, há uma boa base quando há uma discussão que revela as mentiras e trapassas por parte de Ulises. Porém, em seguida, reviravoltas levam o longa-metragem a repetições de ciclos, discutindo até mesmo as verdades sentimentais trocadas entre o casal de apaixonados.
O núcleo familiar que pratica os crimes nefastos é composto de personagens extremamente caricaturais, o que compromete a inserção do público junto ao drama de Sofia e de tantas outras meninas. O cuidado de Pablos em não sexualizar sequer as prostitutas é válido e a solução para representar a incursão delas dentro dos programas é bem executada. Mas diante do esburacado roteiro, tais aspectos positivos soam quase ofensivos, exatamente por evocarem uma qualidade ímpar que em nada combina com todo o resto do caráter do filme.
Apesar de expressar todos os maus tratos em uma boa composição, As Escolhidas não sobrevive a uma análise mais profunda, piorando ainda mais na solução vista no último ato, banalizando todo o silêncio ensurdecedor que permeia tantos os personagens coniventes com tais pecados, bem como trata a possível redenção justa que se aproximava de acontecer. A película que tinha tudo para ser primorosa em texto acaba de modo surpreendente mas catastrófico em níveis de qualidade.