Após algumas falas destacadas do escritor Antônio Callado, o documentário se encaminha para uma cena de A Chinesa, clássico de Jean-Luc Godard, em preto e branco. Callado, de Emilia Silveira, é acima de tudo político, como eram também Setenta e Galeria F, filmes anteriores que se debruçavam sobre os anos de governo militar. O perfil do jornalista é traçado também por sua militância política.
A verborragia e a força das palavras do biografado são muito bem capturadas nas entrevistas que Emília escolheu para figurarem em seu filme. O pensamento politico e ideológico de Antonio é bastante presente em seu cotidiano, assim como sua luta contra a censura. Callado disse que já sentiu vontade de entrar para o Partidão, o PCB (Partido Comunista Brasileiro), principalmente por sua admiração por Luis Carlos Prestes, mesmo que o próprio jamais tenha se assumido como comunista.
As entrevistas com Davi Arrigucci, Carlos Heitor Cony, Eduardo Jardim, Fuad Atala, Lalo Leal e outros tantos amigos, familiares e colegas da Academia de Letras servem para inflar ainda mais a sensação de que o personagem era um sujeito imortal para a literatura. O roteiro utilizou muito das fontes de entrevistas dadas à parte desses investigados pela lente de Emilia, tornando a obra final um material colaborativo muito forte, de certa forma evocando as ideias e ideais do cronista analisado.
O filme convida o espectador a ser íntimo do personagem-título. A escolha por apresentar as frases do escritor junto a suas fotos antigas é um recurso inteligente, já que encurta a distância do personagem com aqueles que não conhecem sua obra. A memória do literário é muito bem fotografada neste longa de Emilia Silveira, que mais uma vez entrega um longa reverencial bastante terno, trazendo a tona bons momentos de reflexão sobre a vida e obra do homem que foi Antônio Callado.
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