Longa experimental, que conta a história de uma mulher comum através de gravações de outras pessoas igualmente populares, Então Morri toma para si um método documental para contar sua história pseudo ficcional. O pontapé inicial é a morte da personagem retratada, e sua trajetória passa a ser retroativa, com interpretes que emprestam suas próprias experiências de vida ao personagem de Bia Lessa e Dany Roland.
Bia já havia trabalhado com o registro emocional de Maria Bethânia, em Carta de Amor, enquanto Roland usa seu repertório como fotógrafo para ajudar a posicionar a câmera de um modo que os relatos sejam os mais pessoais possíveis. A preocupação do roteiro não é de causar emoções baratas, mas sim de evocar empatia por meio de gravações do cotidiano de pessoas simples e humildes, resgatando o registro de seus dias corriqueiros, que fortalecem a ideia de partilhar um drama global e que resume a experiência de viver em um Brasil distante dos cartões postais.
O som direto ajuda a dar um aspecto de autenticidade ao produto final, ainda que faça piorar a qualidade de som. A metalinguagem tencionada transforma até o aspecto da legendagem em uma elemento narrativo que prima mais uma vez pela universalidade na trama. O tempo dirá se este será um marco para o formato de documentários como aconteceu com O Diário de Uma Busca ou se a tendência não irá para frente.
Então Morri mira um método de contar a história semelhante em partes com o visto em O Curioso Caso de Benjamin Button, no sentido de ser uma trama retroativa, embora sua linguagem seja muito menos melodramática e apelativa, além de ser este um exemplar econômico e certeiro quanto a emoções e gastos. O que Lessa e Roland fazem com tão poucos recursos é um exercício interessante, tocante e palatável tanto para plateias de gostos mais refinados quanto para um público menos afeito aos gêneros herméticos e documentais, resultando em um produto belo em tudo que se propõe.