Até os grandes erram. O interessante é que seus erros são tão grandiosos quanto os seus acertos. No caso de Hacker, o grande Michael Mann – responsável por obras como Fogo Contra Fogo, Colateral e O Último dos Moicanos – deu um tiro no próprio pé. Ainda que tenha uma temática bastante atual, o filme é bem ruim e está muito aquém do restante da filmografia do diretor.
Na trama do filme, um ataque cibernético ao sistema de resfriamento de uma usina nuclear na China gera o derretimento de um reator e um grave acidente. No dia seguinte, o hacker por trás do ataque à usina provoca pânico na bolsa de valores de Chicago ao manipular o mercado de ações. Um oficial militar chinês que investiga o caso descobre que o hacker está usando um código que ele e um amigo escreveram há alguns anos enquanto estudavam no MIT. O amigo, vivido por Chris Hemsworth, é libertado da prisão onde estava confinado para poder auxiliar na captura do criminoso virtual.
Existem dois pontos positivos na fita: a fotografia digital é muito bem utilizada pelo diretor Michael Mann, provocando um ótimo efeito em tela. O outro ponto é a maneira como algumas sequências de ação são filmadas. Mann filma de forma espetacular, porém nunca tira os pés do chão, mantendo sempre um grau de realismo. Entretanto, só isso não basta para tornar o filme bom. O roteiro é muito fraco e faz uso de algumas situações muito absurdas, tal como entrar em um reator nuclear que “vazou” para recuperar o disco rígido de um computador que poderia conter informações vitais para a investigação. Os personagens são pessimamente construídos, sendo unidimensionais e clichês ambulantes. O vilão do filme é algo de inexplicável, pois é um gênio durante grande parte do filme e uma besta quadrada no final. Fora o forçadíssimo romance entre dois protagonistas que não faz sentido nenhum.
Esses problemas poderiam ter sido contornados caso o filme tivesse um ritmo alucinante, daqueles que prendem o espectador na poltrona. Porém, esse não é o caso. O ritmo é arrastado e chega a provocar sono. Em nenhum momento parece que os heróis estão enfrentando um vilão que pode desestabilizar ou destruir todo o planeta, tamanha a passividade que transmitem. Não há um senso de urgência. Algumas soluções do roteiro são risíveis e uma em especial debocha da inteligência do espectador.
Quanto às atuações, não há muito o que se fazer quando os personagens são ruins. Chris Hemsworth defende com dignidade o seu papel, mesmo na inacreditável cena em que ele deixa de ser hacker e se transforma num cruzamento de MacGyver com Capitão América. Leehom Wang, o amigo chinês do personagem de Hemsworth, e Tang Wei, sua irmã, e o tal interesse romântico do protagonista, fazem o que podem de acordo com as suas limitações naturais e as de concepção dos personagens. Viola Davis está como sempre competente em cena, apesar de sua personagem também ser extremamente genérica.
Enfim, fica uma sensação amarga quando sobem os créditos, já que Michael Mann costuma demorar entre um projeto e outro. Nesse caso, não foi nem caso de expectativa alta. O caso é de filme ruim mesmo.
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