Cinebiografia baseada na história da empresária e inventora Joy Mangano, a nova produção de David O. Russell em parceria com Jennifer Lawrence traz à vida a oscarizada atriz no papel-título, apresentando a si um novo desafio: encarar o papel de uma senhora empreendedora bem mais velha que seus vinte e poucos anos, no árduo caminho que fez até tornar suas marcas Miracle Mop e Huggable Hangers em sinônimo de um resultado glorioso.
O lugar comum de Joy envolve uma conturbada relação com seu ex-marido Tony (Edgar Ramirez), que vive em seu porão, juntando a isto a chegada de seu pai Rudy (Robert DeNiro), fato que desconfigura completamente sua já atrapalhada rotina. De início, a história de Russell e Annie Mumolo (atriz e co-roteirista de Missão Madrinha de Casamento) estabelece uma conversa metalinguística com um programa televisivo, antecipando acontecimentos reais da vida da biografada, ainda que o escopo neste se assemelhe demais as novelas mexicanas vinculadas a Televisa, repletas de um dramalhão exagerado e pouco condizente com a realidade.
A principal crítica negativa relativa a personificação de Lawrence é até aludida em um dos diálogos, com o xingamento de uma cliente a Joy, afirmando que ela não aparenta ser jovial. O gracejo serve basicamente de resposta bem humorada, por parte do cineasta, em prol da defesa de sua colaboradora recorrente. Tudo em Joy parece servir de degraus para mais premiações e reconhecimentos ao esforço dramatúrgico da estrela, uma vez que até os momentos fantasiosos do argumento são semelhantes aos clichês de contos de fadas, alguns mais acertados do que outros, o que demonstra certa irregularidade na exploração deste recurso.
A forma de abordagem do tema se assemelha bastante a outro momento da filmografia de Russell, como visto em O Lado Bom da Vida. A pecha de resolução positivista de empreendedorismo que se esperava dá lugar a um caminho com alguns agressivos argumentos de auto ajuda, em especial após a primeira meia hora de duração, que é quando a personagem apresenta sua ideia de esfregão super poderoso. O fato de situar a protagonista em meio a uma família disfuncional assemelha mais ainda este ao filme de 2012 sobre depressão, mas neste, mais parece uma muleta emotiva na maior parte das vezes, soando frívolo e redundante.
Há uma queda vertiginosa de qualidade entre um período e outro de filme. Toda a publicidade em volta do novo produto e estratégias de venda soam toscas e baratas, semelhantes aos folhetins televisivos latinos. Até a aparição de Neil Walker (Bradley Cooper) soa falsa e repentina. Outro pedaço da história que não faz sentido é a tentativa de embelezar a figura de Joy, que já está claramente bem apessoada com as feições e curvas de J-Law.
Os méritos de Russell passam por sua direção e nos takes diretos. O uso extensivo de super closes é certeiro, a esse aspecto é somado um movimento de câmera acelerado, emulando a velocidade de um disparo de pólvora, evidentemente referenciando a questão do pioneirismo da mulher biografada.
O desequilíbrio entre uma direção inventiva e um roteiro com alguns tropeços piegas é evidente, o que faz o saldo de Joy O Nome do Sucesso ser menos positivo do que A Trapaça e O Vencedor, ao mostrar uma trajetória demasiada adocicada sob um escopo agridoce, focando quase exclusivamente no período em que Magano era anônima, tendo em seu currículo apenas sua vontade de vencer os obstáculos que se punham a frente e claro, a luta por sobreviver em um ambiente familiar hostil e controverso, como é praxe da filmografia de Russell.