Rian Johnson conseguiu alguma notoriedade como diretor em 2005 quando seu filme de estreia, Brick, ganhou atenção em festivais como Sundance e Toronto. Brick era um filme estranho, sobre um adolescente (Joseph Gordon-Levitt) que buscava a namorada desaparecida. Looper mantém de certa forma o estilo de Johnson, mas essas características, quando colocadas em um filme com propostas muito comerciais, acabaram perdendo parte do sentido.
Looper se passa em um futuro próximo, 30 anos antes da invenção da viagem no tempo, banida pouco depois de seu surgimento. Loopers são assassinos encarregados de se desfazer de vítimas vindas do futuro e que, em algum momento, terão que eliminar a seus próprios “eu” futuros. Tudo isso é explicado didaticamente por uma narração em off de Joseph Gordon-Levitt, e começa aí um dos problemas do filme.
Looper é excessivamente verbal. A narração em off explica detalhes desse mundo futuro que seriam muito mais interessantes se fossem explorados dentro do filme. Ao mesmo tempo, o roteiro tem buracos enormes, e mesmo o nó central do filme parece não fazer sentido.
Outro problema é a manipulação do rosto de Joseph Gordon-Levitt para deixá-lo mais parecido com Bruce Willis. Não funciona, deixa o ator beirando o ridículo, rouba boa parte de suas possibilidades de atuação e, principalmente, seu carisma. Seus melhores momentos estão quando ele consegue aparecer por baixo da computação gráfica e finalmente parecer humano para o espectador.
Por outro lado, Johnson traz aquilo que tornou Brick um filme notável: um cinema que expõe de forma muito clara seus próprios mecanismos e referências. Looper é uma ficção científica com ares de noir; sendo assim, a cidade, a trilha e diversos planos ecoam Blade Runner e, óbvio, O Exterminador do Futuro. Muitos clichês de gênero são tratados com certa ironia, e a intenção inicial do filme parecia ser não se levar tanto a sério.
No entanto, essa intenção se perde e Looper acaba um filme que não funciona como uma ironia ou uma brincadeira de linguagem e nem como um filme de ficção científica. No fim, resta um filme que usa as ferramentas do cinema de forma muito interessante, e parece esboçar uma discussão sobre o peso das escolhas e o que nos faz o que somos. Além disso, a direção de arte e edição de som são muito bem feitas e a montagem é usada com uma criatividade rara, mas no fim o filme se afoga em um roteiro ruim e no excesso de maquiagem em um bom ator.
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Texto de autoria de Isadora Sinay.
Discutimos sobre o filme e tudo o mais e no fim das contas você estava falando a mesma coisa que eu. hahaha
Acho que a diferença é que os problemas do filme (todos que você evidenciou e eu concordo) me incomodaram mais. Em relação ao diretor, não conheço “Brick”, então de fato não tenho propriedade pra analisar o diretor para além do que “Looper” pode me passar.
Eu sempre acabo discutindo isso com as pessoas. Linguagem bem usada, montagem legal, fotografia bonita, essas coisas, me deixam tão empolgada que eu saio do filme feliz como se ele tivesse sido bom, mas sei que não é, hahaha. Ou me faz abrir consessões do tipo “o filme é ruim, mas tem isso e isso de legal, não é uma merda completa”
Brick é um bom filme, assiste se puder.
Dentro da minha falta de estofo para análises mais aprofundadas, devo dizer que o filme tem defeitos, mas gostei dele por motivos bem pessoais. Primeiro, o que achei ruim: concordo sobre a maquiagem digital do Levitt, ficou estranho e claramente fake, prejudicando o esforço dele em “imitar” o Willis na base da voz e expressão visual/corporal. E o roteiro nao ficou bem amarrado pois no meio há uma quebra violenta ao passar da “1a historia”, do personagem principal e seu drama, pra “2a historia” envolvendo o molequinho. Nao foi uma transiçao normal, acho que o ritmo do filme se perdeu bastante nesse meião.
Porém, me contento com pouco, então a boa direção e aspectos visuais em si (ótimas cenas sobretudo de ação) além de conceitos legais de viagem no tempo (como a mensagem para a versão mais velha escrita no corpo da mais nova), tavam me fazendo achar Looper legalzinho/divertido. Aí no final final MESMO, 45 do segundo, teve algo que achei FODA e fez subir minha avaliação do filme.
***SPOILERS***
A abordagem/teoria que mais curto em viagens no tempo é aquela onde as coisas nao se alteram, tudo já está determinado, as coisas simplesmente se encaixam num ciclo perfeito. Looper nao segue isso, inicialmente, pois alterações acontecem criando uma nova realidade. Aqui já tem um paradoxo interessantíssimo, pois o Bruce Willis só existe porque ele morreu, quando resolveu reagir, comprometeu sua própria existência. Explicando: na realidade 1, Levitt mata Willis, vive sua vida, SE TORNA WILLIS, e ao se ver de novo no momento fatídico mas do lado oposto, resolve mudar o que já sabia que aconteceria, reagindo e criando assim a realidade 2. A partir daí as coisas poderiam simplesmente seguir em frente e foda-se, mas nao: nessa realidade, ele força Levitt a se matar e indiretamente, se suicida. Nesse momento o ciclo se fecha, com as duas realidades se entrelaçando, uma completando a outra. Se vc traçar a trajetória dos “quatro” Levitt 1 e 2, Willis 1 e 2, percebe que tá tudo perfeitamente conectado.
***SPOLERS***
Enfim, pode ser muita nerdice da minha parte, mas achei isso tão sensacional que o filme acabou me agradando bastante, daria uma nota 9 fácil.
SPOILERS
Pra ser sincera pra mim parece um plot hole gigantesco: se o Willis foge (e a gente vê ele fugindo), quem o Levitt mata aquela hora? Fica parecendo que ele ganhou uma “segunda chance”, mas não explica como e pra mim não fez o menor sentido!
A verdade é que no cinema eu me diverti bastante também. Meu cérebro até ficava apontando “isso tá errado, esse roteiro é ruim”, mas não achei o filme chato ou ruim de assistir.
Nao entendi, Isa. O Willis foge na “realidade 2”, o Levitt nao mata ninguém nessa. Na realidade 1, aquela onde o Levitt viveu normalmente, foi pra China e tal, ele mata o Willis imediatamente e pronto.
Talvez a confusão seja porque o filme mostra ANTES a realidade 2, pra depois, num momento aleatório, cortar pra mostrar a 1.
** SPOILERS **
Na minha opinião, foi o final que cagou tudo. O filme vinha bem, apesar da nada a ver telecinese a lá Jean Grey, mas ele se suicidando não faz sentido, pois o futuro é cíclico. E por mais que hajam infinitas realidades paralelas, ele sempre vai se suicidar em todas elas, e, se ele se suicida, nunca vai existir Bruce Willis. Por que ele vai sempre se suicidar? Porque ele vai sempre encontrar com o Bruce Willis, e querer impedir que o Rainmaker morra. Sério, é daqueles paradoxos temporais impossíveis de ser concretizado, como o paradoxo do avô.
Mas apesar disso, gostei do filme também.
É meu raciocínio foi parecido com o do Pablo, por isso não consegui fazer sentido.
Todo filme sobre viagem no tempo divide os fãs de ficção científica e isso vai ser um problema eterno. Nos últimos anos procuro me divertir no cinema a levar os filmes muito à sério. Looper é uma história divertida, faz referências propositais a outros filmes, quadrinhos e livros. O personagem Cid, a criança psiônica me lembra Akira ou Domu, de Katsuhiro Otomo e os paradoxos temporais são os mesmos que atormentam nosso sono desde sempre. O diretor sabia que a coisa daria pano pra manga, mas o que me levou a ler críticas e mais críticas sobre o filme foi tentar entender o que mudou no ciclo formado pela viagem do Velho Joe ao passado. Achismo meu, Quando um Looper vê o seu “eu” futuro, a linha de tempo muda. Seja por medo, surpresa ou pena, ele não consegue manter a linha em que vive fisicamente nos dois tempos e talvez a realidade sofra uma distorção, as duas versões tentam se impor em suas escolhas, . No filme Time cop, a pessoa não poderia ocupar a mesma realidade com seu Eu passado ou futuro. suas existências seriam aniquilidadas, mas isso se pertencessem à mesma dimensão, creio eu. Joe e o velho Joe se tocam, se falam e tentam se matar, criando uma situação inusitada e um Joe narrando tudo leva-nos a pensar que ele é testemunha das ações de seus iguais, criando uma terceira linha de existência em que ele sabia que deveria tomar uma atitude em prol de um futuro ameaçado pela criação do vilão Rainmaker. O amigo de Joe, Seth, pode ter sido uma chave. Ele não se matou, foi traído e morto em suas duas versões. No fim, acho que joe faz uma escolha semelhante ao do personagem no filme Efeito Borboleta 2 ao perceber que sua existência é responsável pelos eventos que levaram à viagem no tempo e aos Loopers.
Tem uma coisa que eu acho que não foi colocado atoa no filme, aquela passada de mão no cabelo do Levitt da mesma forma que ele tinha descrito pra garota de programa. Talvez isso mostre que ele esta em um ciclo infinito, ou seja, tudo vai se repetir.
Eu não vi o Looper ainda. Mas quero ressaltar que em mais de um lugar vi uma reclamação a respeito da maquiagem do Gordon-Levitt, o que me leva a um comentário bem geral.
É necessário mesmo essas mudanças para dar semelhança? Parece que o público tem exigido uma verossimilhança como se a ausencia dela deixasse o filme ruim. Quantos filmes mais velho atores nada semelhantes foram irmãos ou interpretaram a mesma personagem?
Eu honestamente não sei porque não mantiveram o Levitt normal no “presente” e depois envelheceram ele com maquiagem, que é um tipo de maquiagem que funciona bem.
Até porque ele é um ator “na moda” e tenho dúvidas se o Bruce Willis ainda atrai público realmente. Mas posso estar errada nisso.