Após a trilha sonora de jazz, semelhante ao visto no clássico de Don Siegel, Perseguidor Implacável, Magnum 44 começa como uma ode ao instrumento utilizado por Harry Callahan (Clint Eastwood), a fim de encontrar justiça via chumbo. Seu nome original, Magnum Force deixa isto claro, fortificando a ânsia do povo por violência visto que eles tumultuam os arredores dos tribunais já no início do filme de Ted Post, que já havia feito com Eastwood no divertido faroeste A Marca da Forca.
Harry retorna à ativa agora mais como vigilante do que como policial, dado seu total descumprimento das regras. O interesse do protagonista é numa estranha onda de assassinatos, envolvendo os chefões do crime de San Francisco, executados com disparos de uma arma Magnum, normalmente por uma figura controversa, que se disfarça de policial para cometer seus atos.
O roteiro desta parte dois é um pouco diferente no que tange seu foco. Callahan está menos enquadrado e preocupado com a opinião pública do que no primeiro filme, já que a trama de pouco menos de duas horas se bifurca, revelando o modo de operar do bandido e a rotina do policial usando de seus próprios meios para combater a criminalidade. Enquanto ocorrem as investigações, é realizado uma competição de tiro, em que o herói e outros tantos policiais tem suas habilidades medidas, e neste evento, ocorrem situações ainda mais estranhas, que se juntam às desconfianças frequentes do inspetor.
Apesar da obviedade em relação a identidade dos justiceiros, há uma reflexão importante da parte do “tira”, que vê nas atitudes alheias algo execrável, o que em última análise, serve a si como reflexão de seus próprios pecados enquanto vigilante e agente da lei. Apesar do pouco tempo entre as duas histórias cinematográficas, é notada uma pequena evolução de status, ainda que a vazão para esta auto-análise seja bastante comedida, em comparação com as atitudes mais enérgicas e típicas de Dirty Harry.
O código ético de Harry Callahan não é posto em cheque, ao contrário, já que Magnum 44 serve para relembrar que seu personagem é o herói na concepção mais clássica da palavra e da jornada que Joseph Campbell pensou. Não há traços de desvios do foco em ser justo ou em discutir qualquer termo que não esteja ligado aos “bons costumes”, Harry lembra o entorno que cerca Frank Serpico, personagem do filme homônimo de Al Pacino. Os tons castanhos de suas roupas fazem lembrar a lama em que eles está metido, o que dá ainda mais sentido a pecha de “sujo” que sua alcunha leva. No entanto, os signos visuais não misturam o comportamento do homem com a imundície em que é obrigado a conviver.
Apesar das semelhanças com as atitudes dos homens tidos como vilões, há uma clara alusão à bondade nos atos de Callahan, e a necessária diferenciação nas mortes que impinge das que os outros praticam, como se as suas limitações fossem somente até onde o estado burocrata não consegue agir. Esta linha tênue entre as duas atitudes talvez seja o aspecto mais interessante do filme a se estudar, além das ótimas sequências de ação conduzidas por Post.
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