Simples, direto e objetivo, Montanha da Liberdade – ou o original Jayuui Eondeok – é a nova fita do cineasta sul-coreano Hong Sang-soo. O longa-metragem reprisa de modo pródigo uma marca registrada do cineasta, apresentando uma trama palatável para um público mais conservador, repleto de muitas gags cômicas, mas que ainda assim produzem uma pequena reflexão.
A história se bifurca se baseando na rotina de Kwon (Seo Young-Hwa), uma professora linguista que vive um claro inferno astral – flertando com a depressão –, além de analisar a rotina de Mori (Ryo Kase), um jovem japonês, com problemas de saúde, que foi até a Coreia reaver seu grande amor. A base romântica não faz o filme se tornar cafona, tampouco óbvio. A abordagem envolve uma porção de piadas que abraçam questões comuns aos homens, como alcoolismo, choque cultural e flerte amoroso não correspondido.
A direção em que o roteiro aponta é certeira ao envolver os homens como habitantes do mesmo mundo, apesar da distância ideológica e nacionalista. Mesmo a xenofobia é tratada sob uma ótica engraçada, fazendo uma sátira da formação deste tipo de preconceito, e a condução de Sang-soo consegue abarcar a problemática fugindo completamente do panfletarismo.
A recepção do filme no Festival de Veneza foi bastante calorosa, e não à toa, dadas as situações vividas por Mori: apesar de estar minimamente encaixado no ambiente coreano, ele aparenta ser um imã de situações bizarras e sem sentido, uma vez que todo o tipo de insano parece encontrá-lo nas pousadas onde ele se hospeda.
O desfecho da fita é feliz, mas não cai no erro de ser extremamente adocicado. O inverso é que ocorre, com momentos hilariantes, inebriantes e emocionantes, em uma atmosfera leve apesar de não ignorar todas as vicissitudes comuns a rotina comum de quem vive em um mundo globalizado e capitalista, exemplificando através do espírito depressivo do homem escravo do sistema, e como ainda dentro da contemporaneidade há a possibilidade de driblar tais eventos.