“O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho”. Essa frase da renomada romancista policial britânica Agatha Christie, estabelece o baluarte na proposta do diretor sul-coreano Bong Joon-ho em Mother – A busca pela verdade. Um thriller psicológico recheado de humor negro inspirado em um dos elementos da obra de Alfred Hitchcock: a figura do “homem errado”, definido pelo mestre do suspense como “o cidadão comum quando pego em situações extraordinárias é capaz de atos extraordinários”.
Em Madeo (título original), Joon-ho amplia esse conceito mesclando ao mistério um lirismo ímpar. Através desse tratamento poético pouco convencional ao gênero, ele subverte as convenções estilísticas, abusando de diversas fórmulas, mas sempre sendo original em sua abordagem. Joon-ho insere pistas falsas na trajetória detetivesca desse noir salpicado de enlaces surrealistas, com o objetivo de aguçar a curiosidade do público, mas sempre amparado na cartilha narrativa de Hitchcock, como a utilização do MacGuffinin. Segundo o cineasta britânico um termo usado para inserir um objeto que serve de pretexto para avançar na história sem que ele tenha muita importância no conteúdo da mesma. Todos esses fatores a serviço de uma trama singela sobre uma mãe (a ótima atriz veterana Hye-ja Kim) extremamente protetora e carinhosa, determinada em descobrir o verdadeiro assassino de uma jovem, quando seu filho mentalmente incapacitado é o acusado.
Joon-ho já tinha demonstrado essa desenvoltura no terror O Hospedeiro, seu filme anterior. Se antes o monstro era explícito, dessa vez ele vem disfarçado de mãe afetuosa propondo um debate sobre os limites desse amor fraterno. Esse proposital contraste entre inocência e monstruosidade, temperado com um ligeiro comentário social.
Não é uma surpresa Mother ter atingido quase que uma unanimidade entre a crítica especializada ao redor do planeta. Através dos anos o cinema sul-coreano comprovou ter a mesma representação metafórica da bandeira de seu país: um círculo dividido em partes iguais e delineado em perfeito equilíbrio. Lá convivem artífices de uma linguagem contemplativa como Kim Ki-duk de A Casa Vazia com a brutalidade pop, meio mangá, meio Hollywood de Park Chan-wook e seu Oldboy. Os filmes oxigenam os neurônios com arte, ao mesmo tempo em que o coração é massageado através de uma prazerosa carga de adrenalina do cinema popular.
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Texto de autoria de Mario Abbade.
Isso que eu chamo de crítica!
Estou indo ver o filme agora mesmo. Valeu Mario!
Vai rolar mais críticas suas por aqui?? filmes antigos cairiam bem…
Abçs
Fantástico, Mario!
Esse filme passou em circuito de arte por aqui? Nunca tinha ouvido falar, já estou correndo atrás da filmografia do diretor.
Obrigado.
Minha ignorância me fez desconhecer completamente o trabalho deste diretor. Agradeço pela dica, Mario. Você recomenda a filmografia desse diretor? vale a pena ir atrás de tudo ou tem coisas não tão memoráveis?
bjinhos
Eu vi O Hospedeiro e achei muito bom. Me animou a ir atrás desse também!
Cinema coreano tem algumas pérolas frequentemente deixadas de lado por aqui.
Caro Luis, me falta tempo. Mas sempre que der, vou dar uma colaborada. abs
Caro Jonatas, sim, ele foi exibido nos cinemas de arte. abs
Cara Talita, vale a pena. bjs
Caro Rodrigo, O Hospedeiro é ótimo. O Flavio vai publicar o meu texto sobre esse filme por aqui. A data não posso precisar, pois ele que sabe como funciona a atualização. abs
Acabei de assistir pela indicação do Mario e achei ótimo!! Estou correndo atras de outros filmes desse diretor coreano… obrigado.
PS: Como é legal ver essa interação do Mario com seus leitores e ouvintes. Exemplo para mta gente que se acha dono do mundo (ou da internet) hj em dia.
Caro Michel, não consigo me comportar de outra maneira. Se nessa fase da vida, não tivesse aprendido nada, estaria só roubando oxigênio de nosso planeta. Imagina se essas pessoas estivessem empregados no veículo líder…por isso que Deus não dá asas a cobra. abs
Parabéns pela crítica! Amo o trabalho do Bong-ho, a meu ver ele é disparado um dos melhores diretores em atividade. Continuarei acompanhando esse espaço. Tudo de bom pra ti, sucesso!
Apesar das críticas político-sociais eu achei o Hospedeiro muito ruim e estão filmando o Hospedeiro 2 para o desespero de alguns cinéfilos. O Thirst – Sede de Sangue, este sim é um filme para reflexão e critica o modus vivendi atual, bem como, o Save The Green Planet, que não é uma Brastemp, mas é honesto e real no que se propõe. Memórias de Um Assassino e Mother são obras-primas indiscutíveis para mim. Que venham outras deste mágico diretor.
To pra ver faz tempo…