O Franco-Atirador não se trata de um remake do fantástico filme dirigido por Michael Cimino. O nome adotado no Brasil é o mesmo, mas o título original da produção de 1978 era The Deer Hunter, cujo método de caça aos cervos (deer) é um fator recorrente, de grande peso, para uma das cenas finais. Instiguei sua curiosidade? Vale muito a pena! Assista! Mas antes não deixe de conferir o lançamento de 2015, sob a direção de Pierre Morel (o mesmo de Busca Implacável e Dupla Implacável), o que pode nos fazer antever um filme com muita ação.
No elenco contamos com Sean Penn, com 5 indicações ao Oscar de Melhor Ator, entre as quais ele arrebatou a estatueta por Sobre Meninos e Lobos (2003) e Milk: A Voz da Igualdade (2008), e o espanhol Javier Barden, premiadíssimo em cerimônias europeias, e também com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Onde os Fracos não têm Vez (2007), e foi indicado na categoria de Melhor Ator com Antes do Anoitecer (2000) e Biutiful (2010).
Considerando a presença de ganhadores ou indicados ao Oscar, neste filme, há que se citar a trilha sonora de Marco Beltrani, o qual teve duas indicações por seu trabalho em O Comboio e Guerra ao Terror. Não, não estou levantando a possibilidade de isso se repetir este ano, mas também não dá para negar que Beltrani contribui eficientemente para a narrativa do longa, na construção de momentos de tensão, como aquele em que Martin (Penn) recebe de Felix (Barden) a designação para assassinar um membro crucial do governo do Congo, e a percussão musical acompanha com precisão a angústia que rege as batidas do coração de Martin.
Angústia? Para um atirador mercenário? Acontece que essa missão implica na saída do protagonista, do país e, consequentemente, da separação entre ele e sua belíssima namorada Annie (Jasmine Trinca) que, como Martin, trabalha para uma ONG, no Congo. Obra do acaso? Não! Plano orquestrado por Felix, que tem uma obsessão quase doentia pela moça e quer afastá-la de seu “rival”.
Aliás, devo dizer que O Franco Atirador, embora se inicie com um pot-pourri de reportagens sobre o cenário de destruição que envolve este país, não se trata de um filme com enfoque político. Ainda que as cenas de ação sejam sim, envolventes, e mostrem a boa forma de Penn, o roteiro, com co-autoria do mesmo, parece enfatizar o triângulo amoroso (com direito a venenosas maldades) composto por Martin, Annie e Felix. Neste aspecto, considero que a complexidade emocional dos personagens centrais poderia ter sido melhor explorada, já que tanto Penn quanto Barden (pessoalmente eu diria “especialmente Barden”) já nos provaram, em outras atuações, o quanto são capazes de imprimir profundidade e dinâmica a perfis conflituosos.
No entanto, os diálogos abusam da simplicidade, apesar da tentativa do diretor em criar elementos psicológicos subjetivos, através de closes em algumas expressões. Embora Flavio Martinez Labiano tenha recorrido a alguns clichês, como o tom amarelado para diferenciar a cronologia das cenas, e o efeito lens flare (quando a luz sofre uma distorção, entrando pelas bordas da lente e causando uma espécie de manchas) a fotografia atua com relevância nas diferentes ambientações da trama.
Martin cumpre com precisão a sua missão, e sai do país, como combinado, mas quando volta alguns anos depois, uma avalanche de surpresas transforma a sua vida e o seu coração numa busca frenética por respostas, das quais dependerá a própria sobrevivência.
Quer saber mais? Assista ao filme! Não se trata de uma obra-prima, tem sua falhas aqui e ali, e algumas cenas acho até desnecessárias, mas tem também seus pontos positivos e, com certeza, manterá você preso na poltrona… intercalando momentos de total imobilidade com algumas contorções, já que ação, suspense e impacto não lhe faltam!
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Texto de autoria de Cristina Ribeiro.