Crítica | O Incêndio

O Incendio 1

Prestes a deixar seu antigo apartamento, o casal protagonista de O Incêndio vive em insegurança sobre seu futuro e sobre o que representa o passado na vida dos dois enquanto par. A linda Lucia (Pilar Gamboa) vive um momento de receio bastante particular, ajudado e muito por uma estranha enfermidade que a aflige. Para piorar, seu marido Marcelo (Juan Barberini) também enfrenta problemas em seu emprego de professor, graças às reclamações dos pais de alunos.

Grande parte do drama de ambos está na – finalmente alcançada – retirada do dinheiro que os possibilitaria enfim deixar o apartamento, que alugavam nos últimos anos, para enfim residir na casa que compram. O encontro com o responsável pelas escrituras e documentos desmarca o acordo e não consegue encontrar a dupla no dia combinado, fator este que ajuda a desencadear uma série de “eventos desabafos”, que fazem ambos ponderar sobre a vida que levavam, tudo num espaço de apenas um dia.

A paranoia e stress que habitam o convívio do casal revelam não só a insegurança inerente à mudança, mas também incômodos comumente silenciados e aceitos por parte dos que formam um romance. O ambiente conflituoso e babélico é muito bem conduzido pelo estreante em longas Juan Schnitman, que já havia tangenciado assuntos parecidos em suas antigas parcerias, Grande Para La Ciudad e El Amor – Primera Parte. No entanto, o modo delicado com que conduz O Incêndio tem um bocado de ineditismo, não em relação ao tema, mas no modo direto com que confronta seu público.

As cenas de briga não são tão agressivas como o são na vida real, mas as reconciliações incluindo relações sexuais, cujo pedido de perdão está implícito, são muito bem conduzidas, especialmente pelo alto teor de violência e da química de Gamboa e Barberini, que curiosamente só funciona plenamente nesse tipo de sequência, o que ajuda a determinar qual é o ponto de concordância do complicado e comum casal.

A eternidade e intensidade são construídas e mantidas em um fôlego poucas vezes visto, até para o prolífico cinema argentino. Alguns erros são evidentemente notados, pela ainda pouca experiência de seu realizador, mas muitos pontos elegem Schnitman como um possível grande cineasta no futuro, já que talento em conduzir dramas e predileção por encaixar a câmera onde se deve são características master de seu cinema, bem como a capacidade de representar em tela a inversão de valores que por vezes permeia o coração do homem e da mulher, resultando em um filme apaixonante principalmente pela persona de Lucia.

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