Paraiso é um longa metragem de Sergio Tréfaut, cuja proposta é bonita: mostrar as rodas musicais românticas de idosos que se reuniam no bosque do Palácio do Catete para cantarolar músicas românticas antigas, lugar tradicional que serviu entre 1897 e 1960 de morada para os presidentes da república e que hoje é lugar de encontro do povo mais humilde carioca, entre eles, as pessoas da terceira idade que participam desses sarais.
O Palácio nos últimos anos se tornou palco para cinema, exposições, comportando o Museu da República que serve de cenário para algumas manifestações culturais populares, incluindo o Festival do Rio. Entre esses eventos, ocorriam até início de 2020 esses encontros de amor . Obviamente que a proposta desse registro do documentário foi interrompida graças a pandemia de Covid 19 e pela suspensão desses encontros. Até então, os personagens são muito vivas, alegres, mesmo com todas as restrições oriundas da terceira idade, como dificuldade de locomoção e fragilidades físicas.
Os idosos que permeiam o filme mostram uma alegria e felicidade de viver de gente que é normalmente excluída até por suas famílias. A mensagem proposta é bonita, de não tentar abreviar uma vida só porque a idade é avançada. É impossível não achar engraçada a franqueza e sinceridade típica da terceira idade, fator esse que se faz muito presente. As falas que pareceriam ferinas em outros momentos da vida, aqui soam charmosas e engraçadas.
Para o espectador que não faz parte desse grupo talvez seja difícil entender os dramas e agruras comuns a quem percebe a possibilidade e a proximidade do fim da vida. Esses encontros, por mais simples que sejam, angariavam ânimo a vida dessas pessoas que são igualmente simples. A ideia de pertencimento é bem semelhante a necessidade de culto e devoção religiosa, embora o intuito aqui seja bem diferente, de criar uma comunidade em torno de um gosto em comum e não do louvor a uma figura invisível.
Paraíso é um bom retrato de um Brasil suburbano e periférico, da tristeza que é comum infelizmente a uma parcela popular do povo, que merece viver e que é tão massacrado, especialmente nos últimos anos com a retirada de direitos pós mudanças econômicas dos governos recentes. Fora tudo isso, ainda é causada forte emoção em quem assiste a obra de Tréfaut, por perceber que boa parte dos homens e mulheres que aparecem na frente das câmeras sofreu ou sofre com a pandemia do novo coronavírus, alguns de forma trágica. Em última análise, o documentário é um dos muitos registros emocionais do drama nacional que infelizmente só se agrava.