O filme do jovem ator e diretor espanhol Eduardo Casanova, que recebeu as bênçãos do já cultuado realizador Álex de la Iglesia, arrebatou sucesso de crítica ao passar pelo prestigiado festival de Berlim. Além de Berlim, Peles (Pieles) angariou outros prêmios em importantes festivais ao redor do mundo.
A história do filme não nos é apresentada a partir do ponto de vista de um único personagem. Como encontramos normalmente em narrativas mais convencionais e de forte apelo comercial. O que encontramos no longa de Casanova, é um enredo que se constrói a partir de microuniversos pertencentes a um universo maior, em que personagens vivem um intenso conflito sobre como lidar com suas deficiências diante de uma sociedade embebida de tabus e preconceitos.
Mesmo que divido em diferentes esquetes tendo ao centro personagens com algum tipo de deficiência, como queimadura, nanismo, e outras inventadas pelo roteirista. Casanova une de uma forma inteligente todas essas pequenas tramas em uma maior. Pondo o escatológico e bizarro em cena, de forma a se perceber o tom provocativo e a forte influência do cinema trash de John Waters.
Formado por uma paleta de cores onde predomina-se um roxo profundo e alguns tons pastéis, o qual imprimem ao quadro fílmico certo glamour, que contrastam ferozmente com o conteúdo das cenas. A semiótica por detrás de cores tão vivas e suntuosas está no discurso do diretor sobre o que ele pensa sobre beleza.
A câmera de Casanova ora estática- desenhando encantadores planos simétricos; ora em movimento- bailando envolta dos personagens. Funciona tal qual um microscópio como dissera décadas antes o cineasta alemão Fritz Lang, nos revelando o âmago das personagens. Mesmo pecando em certos momentos de pura fetichização estilizada.
Rompendo com ideais estéticos o filme fala sobre beleza e sobre a aceitação do diferente. Sobre como certos tipos de pessoas podem aparentar serem estranhas para certos olhares e para outros não. No fundo, percebe-se que o filme grita o questionamento: Afinal, o que é beleza?
–
Texto de autoria de Harllon Filho.