2018 foi um ano bastante prolifico para o cinema brasileiro, com filmes de gênero bem construídos e bastante diversificados. Para celebrar isso, separamos alguns destaques dos filmes que ocuparam o circuito comercial ao longo do ano passado.
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As Boas Maneiras (Marco Dutra e Juliana Rojas)
Rojas e Dutra são dois diretores muito bons e que de vez em quando se juntam para fazerem filmes, normalmente, dando vazão a um cinema fantástico, e As Boas Maneiras é uma boa mistura de elementos de drama e terror. Dividido em dois atos bem diferentes, e apesar deles não combinarem entre si, há pontos positivíssimos nele, com destaque para as atuações de Marjorie Estiano e Isabél Zuaa, e a participação do boneco animatrônico do monstro, maravilhoso em concepção.
Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro (Fabrício Bittar)
Quando se falava do novo filme de Danilo Gentilli e companhia, se imaginava uma comédia rasgada, cheia de suas piadas sujas, e talvez com comentários políticos, mas o que se viu foi um filme de terror, com efeitos especiais surpreendentes, bons sustos e uma interpretação muito sólida de Murilo Couto. Bittar faz cenas explícitas repletas de gore e violência. Mesmo os momentos mais infantis, com escatologias, há uma exploração muito inteligente dos recursos típicos dos filmes dos Estados Unidos, mas que funcionam bem aqui, ainda que não seja uma mera cópia do terrir americano. O longa vai muito além da figura odiosa que é Gentilli.
10 Segundos Para Vencer (José Alvarenga Jr.)
Eder Jofre foi uma lenda do esporte brasileiro, e confesso que temi quando anunciaram que fariam um filme sobre seus feitos com ele ainda em vida. A realidade é que 10 Segundos Para Vencer é excelente. Com um elenco entrosadíssimo, tendo um Osmar Prado em um dos grandes papéis de sua vida e sendo sensacional em cada momento de tela. Alvarenga Jr. ainda acerta na reconstituição de época. Um emocionante e belo exemplar de filme de boxe.
Slam: A Voz do Levante (Tatiana Lohman e Roberta Estrela Dalva)
Um documentário tão apaixonante quanto a história da arte Slam, Lohman se junta a Estrela Dalva para acompanha-la em viagens pelo mundo em competições de Slam, e também no seu retorno ao Brasil para divulgar sua poesia e o próprio estilo, ganhando contornos próprios e se tornando a voz de muitas pessoas da periferia. Apaixonante!
Benzinho (Gustavo Pizzi)
Benzinho é um daqueles filmes sentimentais, que utilizam de uma premissa simples e uma narrativa igualmente austera e sem firulas. A história que Pizzi e Teles contam é muito comum, trata de questões corriqueiras e da dificuldade que as famílias tem de lidar com a saída dos filhotes do ninho, além de trazer outros tantos causos familiares típicos da vida do brasileiro, em especial do residente do Rio de Janeiro, e tudo isso mostrado de uma forma muito terna, com um elenco afiadíssimo.
Animal Cordial (Gabriela Amaral Almeida)
O cinema de Amaral Almeida só cresce, e normalmente tem a ver com cinema de gênero. Animal Cordial mistura thriller, terror e suspense com uma abordagem sanguinolenta, repleta de gore, com grandes atuações de Murilo Benício e Luciana Paes, além de contar com um grande elenco de apoio. O roteiro mergulha na podridão do pensamento humano, mostrando o homem como um ser mesquinho, maquiavélico e extremamente egoísta, que idolatra apenas a sua vontade e é capaz de fazer absolutamente qualquer coisa.
Canastra Suja (Caio Sóh)
Esse é um daqueles filmes que surpreendem positivamente. Canastra passou por uma questão polêmica e na cidade do Rio de Janeiro saiu de cartaz muito cedo, mas depois voltou após um esforço conjunto da equipe de produção e de influenciadores e críticos. O filme merece isso. Trata de questões familiares muito íntimas, com uma exposição de intimidade do homem comum que faz cair o queixo do espectador. É quase como um conto modernizado e atualizado de Nelson Rodrigues, com um desfecho tragicômico típico das peças shakesperianas, e para variar, possui um elenco muito afiado e comprometido com seus papéis.
A Mata Negra (Rodrigo Aragão)
Para quem não conhece o cinema de Aragão, talvez seja novidade cita-lo como um dos bons diretores do nosso cinema, mas sinceramente é vergonhoso que o cinéfilo não tenha ao menos ouvido falar dele. No Espírito Santo, o sujeito que sempre quis trabalhar com maquiagem no cinema usa sua inventividade para dar luz a seus próprios filmes, e nesse, seus dotes não só de construção de monstros são bem explorados, como seus planos de filmagens são extremamente inventivos. O fato de utilizar mitologia popular para dar a luz ao seu projeto pessoal encontra eco em sua própria filmografia, em especial, Mangue Negro e Mar Negro. É um filmaço de terror repleto de bom humor.
Arábia (Affonso Uchoa e João Dumans)
No auge do governo Temer, Arábia estreava nos festivais pelo Brasil e mostrava o quão triste e melancólica poderia ser a vida e jornada do trabalhador comum brasileiro, que não consegue estabilidade financeira e que vê esse aspecto econômico influir também no seu pessoal e sentimental. O filme é triste, e mostra o quanto estamos falidos enquanto país.
Yonlu (Hique Montanari)
Infelizmente Yonlu não ficou tanto tempo em cartaz. Cinebiografia do cantor que dá nome ao filme, o longa mostra a trajetória de um menino que não conseguia se encontrar e que viu na música uma forma de expressar seus amores e suas dores, cuja vida terminou cedo, por conta do suicídio que cometeu. Montanari mostra tudo isso de maneira emotiva e tocante, e desperta em quem o assistiu uma curiosidade por seus próximos trabalhos.
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Menções honrosas: A Repartição do Tempo, Todos os Paulos do Mundo, O Processo, A vida extraordinária de Tarso de Castro, Amores de Chumbo, Auto de Resistência, Histórias que nosso cinema (não) contava, Meu tio e o Joelho de Porco, Marcha cega, Henfil, Paraíso Perdido, Mare Nostrum